Meditar sobre o verdadeiro sentido do Natal num mundo marcado pelo con-sumismo exagerado, mesmo em crise econômica, é no mínimo, para alguns espertos, um assunto anacrônico. Mesmo assim arrisco:
Teologicamente o Natal de Jesus é o logos que se fez carne e habitou entre nós. O sentido metafísico da ideia de logos estabelece o conceito de uma união entre o eterno e o invisível, o Deus transcendente e as coisas criadas.
Historicamente, Jesus, o Cristo, existiu mesmo. Não é produto da aflição, da imaginação e da esperança humana. Não é um mito comparável às lendas de Krishina, Osíris, Átis, Adônis, Dionísio e Mitras. Ele nasceu e viveu verdadeiramente. Não importa a data do seu nascimento, se aconteceu, como querem as igrejas cristãs, incluindo a de Roma, no dia 25 de dezembro, ou como citam as várias opiniões a respeito do evento. Clemente de Alexandria, por exemplo, apregoava e celebrava o Natal no dia 19 de abril.
O tempo, ou a época do natalício de Jesus, é o que menos importa. O que vale é que Ele nasceu. Jesus de Nazaré nasceu quase despercebidamente, cresceu, ensinou o bem, verberou o mal, tolerou suspeita, foi tentado, odiado, preso maltratado, crucificado e morto; mas venceu a morte e ressuscitou. Ele veio mudar o curso da História. Curar os quebrantados de coração; abrir os olhos aos cegos; soltar os encarcerados; trazer para luz os que vivem nas sombras e trevas.
Na visão clássica do cristianismo e seus seguidores, o Natal transcende toda e qualquer falsa esperança e a tudo o que é passageiro, excede até mesmo ao generoso, gordo, bonachão e barbudo Papai Noel, pois que o Natal se radicaliza em Jesus Cristo, a verdadeira esperança de um novo amanhecer. Sim, Natal é esperança, certeza de dias melhores, humildade e fraternidade. É Glória a Deus nas alturas e Paz na Terra aos homens de boa vontade! É a profecia cumprida: “Porque um menino vos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz”.
Natal é, ao mesmo tempo, uma luz que irrompe neste mundo caos, minimizando pelo menos por algumas horas a escuridão social em que estamos metidos. Sociedade: que a cada dia se afasta dos contratos sociais; que vive distante das comunidades vitais e aquém da comunidade jurídica e; carente duma fraternidade movida pelo amor. O Natal nos mostra que somos propensos a emoções, somos sensíveis aos apelos oriundos das tradições que nos concitem a amar, a ter paz e a exercer a irmandade universal.
A magia do dia de Natal, ainda, nos mostra e põe desnudo que, mesmo estando para lá da era cibernética, o homem, a sociedade ou o mundo continuam carentes de mudanças na estrutura social. Significa dizer que apesar do avanço tecnológico, científico e das grandes realizações, notadamente, no mundo urbano, o homem, enquanto sociedade é um brucutu em questões e formas de sociabilidade. A sociedade, aos olhos de qualquer leigo, na hipótese de ser comparada a um edifício, está com sua base, inteiramente comprometida, produto duma arquitetura confusa e, por conseguinte, necessitando de indispensáveis reparos, podendo desabar a qualquer hora.
O contágio natalino, contrapondo essa realidade estúpida, chega e envolve a humanidade de diferentes culturas, numa teia de acontecimentos de amor ao próximo sem precedentes. Surgem campanhas, as mancheias, de solidariedade humana, oriunda dos mais diferentes segmentos sociais, concitando o povo a fazer doações de alimentos, visando minorar a fome dos menos favorecidos socialmente. Essa farta solida-riedade humana, mesmo que só aconteça em épocas natalinas, é salutar; uma vez que é melhor fazer pouco, do que nada fazer.
Vista pela ótica objetiva, Natal é confraternização, saudação, abraços aconchegantes, mensagens de boas festas e paz; é família reunida com troca de presentes, roupas, sapatos novos, etc. É a árvore verde vestida de algodão e estrelas e lâmpadas coloridas que apagam e acendem.
Feliz Natal!
Pesquisador Bibliográfico em Humanidades.
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