No dia 24 de novembro de 2015, um pouco depois das 17h45 e 17h50, a cidade de Rio Branco foi surpreendida com dois tremores de terra (abalos sísmicos, sismos, terremotos, earthquakes) que tiveram seu epicentro na região próxima à fronteira com o Peru, entre os Departamento de Ucayalli e Madre Dios, ao sul do Município de Santa Rosa do Purus e a oeste de Assis Brasil, Acre.
E não foi só Rio Branco, os tremores foram sentidos em Manaus, Pucallpa, Cobija e nas cidades do interior do Acre, Madre de Dios, Ucayali e Pando. Nós gostaríamos de repassar algumas informações sobre este evento e suas implicações.
Os dois tremores foram reportados pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos da América e do laboratório de Sismologia da Universidade de São Paulo. O Serviço Geológico registrou, depois de um ajuste, uma magnitude para cada terremoto de 7,6 na escala de impulso, quase equivalente a escala Richter, a escala mais comumente utilizada para medir a intensidade de um terremoto. Esta escala reflete a energia do terremoto, onde um aumento de 1 na escala Richter corresponde a cerca de 30 vezes mais energia.
Desde o primeiro abalo até 27 de novembro tivemos uma dezena de terremotos de magnitudes de 4,1 a 7,6, uma situação esperada quando as placas se ajustam depois um terremoto inicial.
Na verdade, estes terremotos não são singulares; segundo o Serviço Geológico tivemos desde 1961 sete terremotos com magnitudes de mais de 7 nesta região antes de 24 de novembro, porém o mais recente antes dos da semana passada foi em 2003, cerca de 12 anos atrás.
A figura ilustra estes terremotos que com magnitudes maiores do que 6 desde 1961 que forma uma linha quase norte-sul, iniciando em Madre de Dios, Peru, cruzando Acre e chegando ao estado do Amazonas. No caso do Brasil, Acre é longe de ser o estado mais ativo em termos de terremotos com magnitudes acima de 6.
Terremotos com estas magnitudes causam problemas sérios em outras partes do mundo, como o de magnitude 7,0 que devastou Haiti no dia 12 de janeiro de 2010, Por que lá tem tanto impacto e aqui não? A razão envolve vários fatores e um predominante – a profundidade do terremoto. No caso do Haiti o terremoto que resultou numa estimativa de 300.000 mortes teve uma profundidade de 13 km. Em nosso caso as profundidades dos terremotos recentes foram cerca de 600 km.
Os nossos terremotos surgem principalmente do encontro de duas placas tectônicas, a placa da Nasca que está ligada com o Oceano Pacífico que desce abaixo da placa do continente sul-americana onde estamos. O movimento entre as placas não é contínuo, ele avança tipicamente via deslocamentos rápidos, produzindo ondas sísmicas que se propagam com velocidades de alguns quilômetros por segundo. Estas ondas se propagam no corpo e na superfície da Terra produzindo os movimentos abruptos que caracterizam o terremoto.
Segundo o Serviço Geológico, os terremotos registrados foram de foco profundo que geralmente são sentidos grandes distâncias do epicentro, o local na superfície diretamente acima do terremoto. Muitos sentiram o abalo em edifícios de múltiplos andares, como aconteceu na diretoria do INPA em Manaus. Um outro fator relevante é onde o solo é pouco consolidado, o doslocamento pode ser amplificado, gerando danos e pânico.
Precisamos nos preocupar com terremotos? A resposta depende numa estimativa de risco. Este risco poderia ser estimado da probabilidade do terremoto multiplicado pelas consequências que sua ocorrência pode causar.
Baseados nos dados descritos, podemos estimar que a probabilidade é cerca de um terremoto por década com magnitude 7 ou mais para uma profundidade de 600 km.
Efetivamente, porém, uma repetição de cinco minutos para dois terremotos com magnitude de 7,6 não foi registrada nos últimos 50 anos. No registro, somente em 1963 e 1961 tivemos terremotos desta magnitude.
Em termos de consequências dos terremotos desta semana, o único impacto registrado via telefonemas e emails com pessoas chaves em várias cidades foi um apagão causada por um curto circuito em Puerto Esperanza, que se localiza somente algumas dezenas de quilômetros dos epicentros dos terremotos.
Extrapolando esta análise, parece que terremotos não são um problema sério na região. Mas não podemos assumir que terremotos com magnitudes acima de 7,6 não podem acontecer. O fato que dois terremotos com esta magnitude liberaram a sua energia em cerca de 5 minutos nos força repensar que as chances de eventos mais fortes aumentaram, acontecendo com consequências maiores, caso ocorram.
Baseado nesta experiência seria importante estimular um diálogo com engenheiros e arquitetos sobre a resiliência de edifícios e infraestrutura para terremotos, especialmente edifícios de múltiplos andares. O assunto de terremotos não se restringe a área central perto dos rios Purus e Tarauacá. Existem terremotos próximos a Pulcapa, Ucayali, Peru com profundidades bem menores (na faixa de 100 km) que foram sentidos em Cruzeiro do Sul, como o terremoto de 24ago2011 que teve um magnitude de 7,0.
Dado as condições de frequentes terremotos na vizinhança, seria prudente:
1) verificar como engenheiros e arquitetos que estão incorporando o risco de terremotos em construções civis e já identificar construções mais vulneráveis;
2) Desenvolver planos municipais e comunitários de contingências para cidades e comunidades potencialmente afetadas por terremotos, usando o apagão de Puerto Esperanza como uma situação para evitar.
A esses aspectos de preparação, podem, também, ser incorporados outros instrumentos de planejamento voltados para ações relacionadas as vulnerabilidades locais e a existência de multi ameaças.
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Mais informações podem ser obtidas nos sitios: http://www.sismo.iag.usp.br/ e http://earthquake.usgs.gov/
I. Foster Brown, Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) da Universidade Federal do Acre (UFAC). Cientista do Programa de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT SERVAMB e do Grupo de Gestão de Riscos de Desastres do Parque Zoobotânico (PZ) da UFAC. Membro do Consórcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre (CEGdRA).
George Luiz Pereira Santos, Coronel do Corpo de Bombeiros do Acre, Coordenador Municipal de Defesa Civil de Rio Branco, especialista em defesa Civil.