Dando continuidade à rodada de entrevistas com os deputados estaduais, a entrevistada desta semana no Jornal A GAZETA é a deputada Eliane Sinhasique (PMDB). A parlamentar faz uma avaliação de seu mandato, bem como das propostas que tramitaram no parlamento estadual ao longo do ano. Ela conta também um pouco da sua trajetória de vida antes de obter o mandato de deputada.
Considerada uma das deputadas mais atuantes da Assembleia Legislativa, Eliane ressalta que seu mandato tem sido pautado principalmente em projetos de interesse do Acre.
Eliane fala, ainda, sobre as eleições municipais. Ela afirma que o PMDB estuda a possibilidade de lançar candidatas ao Executivo municipal. Em relação a uma possível candidatura na Capital, à deputada frisa que se for escolhida pelo partido, assume a responsabilidade.
A GAZETA – Primeiro ano como deputada estadual. Qual o seu maior aprendizado ao longo do ano?
Eliane Sinhasique – Aprendi muito e amadureci muito mais. Aprendi que não posso tudo, que um deputado não tem poderes para resolver tantas coisas e que, no parlamento, nem sempre o que queremos é possível. As boas práticas políticas dependem mais da diplomacia e da nossa capacidade de articulação e de diálogo do que de discursos inflamados, apesar de serem necessários. Aprendi a ter mais paciência e a engolir sapos, para manter uma boa convivência, de forma que nossos projetos e propostas sejam viabilizados.
A GAZETA – A senhora sempre frisa que seu papel na Aleac é representar de forma digna o povo do Acre. Sensação de dever cumprido neste final de 2015?
- S. – Muitas vezes, durante esse ano, me senti impotente diante de algumas situações. Mas, com certeza, posso deitar minha cabeça no travesseiro e dormir tranquila, pois sei que cumpri com o meu dever.
A GAZETA – O que a senhora destacaria nesse primeiro ano de mandato?
- S. – Trabalhei muito. Fui incansável em todas as comissões das quais participei. Esmiucei os Projetos de Lei, questionei e modifiquei o que pude modificar para melhorar. Apresentei e consegui aprovar leis importantes para a população como a Lei da Escala Médica, a Lei do Detran, que reduz o tempo de espera para atendimento, a Lei do Cobre, que é rigorosa para evitar o roubo e comercialização de cabos de energia e telefone. Fiz requerimentos e indicações, apresentei denúncias ao Ministério Público Federal. Assumi riscos, debati e cumpri com a minha promessa de permanecer com o meu Gabinete na Rua, uma vez por mês, no Terminal Urbano. Ampliei meu contato com o povo nas visitas aos bairros e aos municípios além de ter estreitado esse laço através das redes sociais. Nosso mandato sempre terá essa marca.
A GAZETA- Fale um pouco sobre oGabinete na Rua.
- S. – Uma das maiores reclamações que eu ouvia da população com relação aos políticos era justamente a de que ganhavam e sumiam do povo e se trancavam nos gabinetes. Estar na rua é muito importante para que o mandato seja produtivo. O povo gosta de falar com seus representantes e nos passam suas dificuldades, no dia a dia, com relação à saúde, moradia, atendimento público etc. além de nos dar boas ideias para projetos e discursos. De posse dessas informações podemos agir mais efetivamente. Esse trabalho é tão bacana que ganhou um capítulo especial num Trabalho de Conclusão de Curso, de duas estudantes do Serviço Social. O Gabinete na Rua é justiça restaurativa para o povo! Por falar nisso, segunda, dia 21, tem Gabinete na Rua, cara a cara com o povo, para encerrar as atividades desse ano.
A GAZETA – Na última sessão da Aleac a senhora relembrou sua trajetória de vida. No que essa experiência influencia em seu mandato?
- S. – Puxei enxada, tirei leite de vaca, fui agente de saúde, babá, empregada doméstica e garçonete. Trabalhei em casa de família só pela comida e pela dormida para poder estudar. Quando a gente vem de uma família humilde, de agricultores, quando a gente aprende, desde criança, a lavar, passar, cozinhar, a dar valor ao trabalho e respeitar o próximo, isso faz toda a diferença no mandato. Temos a capacidade de nos colocar no lugar do outro e nos perguntar: E se fosse comigo essa situação? O que eu gostaria que um deputado fizesse? Óbvio que nem tudo tem solução imediata.
A GAZETA – Como essa experiência lhe ajudou a chegar à Assembleia Legislativa?
- S. – Quando eu morava no Projeto Pedro Peixoto, dormia, acordava e trabalhava ouvindo rádio. De tanto eu querer, o universo conspirou a meu favor. Fui conhecendo as pessoas certas, nos momentos certos, e quando tive a oportunidade da minha vida, na Rádio Capital, através do Sérgio Pitton, não desperdicei! Da rádio para o jornal, para a televisão, para a publicidade não demorou um ano. E as coisas, quando são de Deus, vão acontecendo naturalmente.
A GAZETA – Como surgiu a oportunidade de sair candidata?
- S. –Tive a oportunidade de ser candidata à deputada federal, em 2010, através de um convite do então candidato a senador, Sérgio Petecão, mas, recusei. Sempre acreditei que política é coisa séria e não me sentia preparada para começar de cima. Sempre achei necessário passar pela Câmara Municipal, que é uma escola. Foi à decisão mais acertada, pois, em 2012, me candidatei à vereadora e fui a mais votada na capital. Certamente a rádio me ajudou muito a levar minhas ideias e meus pensamentos a um grande número de pessoas sempre de forma participativa, ouvindo a população.
A GAZETA- A senhora ameaçou entrar com mandado de segurança para anular a votação do PPA. Como está essa questão?
- S. – Minha assessoria jurídica está vendo essa questão. O fato é que o governo não cumpriu os prazos para entregar o Plano Plurianual, passou por cima da Constituição e do Regimento Interno da Assembleia. Esse plano teria que ter sido elaborado por várias mãos, deveria ter a participação dos poderes constituídos e da população. O que não aconteceu. Como, nesse momento, todos os setores estão em recesso, vai ficar para 2016.
A GAZETA – Existe mesmo essa possibilidade de a senhora sair candidata à prefeitura da capital?
- S. – Sempre disse que estou à disposição do meu partido e que não fujo de desafios. Dentro do PMDB, nossa pré-candidatura está consolidada. Eleitores, amigos, familiares, lideranças e filiados tem me incentivado muito para essa missão. Estamos conversando também com os partidos aliados porque entendemos que não se ganha uma eleição sozinho e nem se administra sozinho. Democraticamente, estamos elaborando nosso plano de administração para Rio Branco de forma que todos os aliados possam também dividir conosco a responsabilidade de fazer uma administração eficiente para nossa capital. Tudo está caminhando bem e no momento certo apresentaremos nossa aliança e nossos planos.
A GAZETA – A senhora deu uma nova dinâmica ao PMDB. O que a senhora fez tanto para fortalecer o seu partido?
- S. – Acredito que nenhum político poderá ser forte num partido fraco. O presidente do nosso partido, o deputado federal Flaviano Melo, me deu carta branca e todo o apoio necessário para que pudéssemos desenvolver nossas atividades. Cuidei, desde vereadora, em fazer ações partidárias e implementei um sistema de aproximação com a população através de cursos nas periferias. Ganhamos muitos voluntários para fazer essa missão. É um trabalho quase que silencioso, mas, que vem dando muito certo. Hoje o PMDBelas, a JPMDB e o PMDB Velho Guerreiro são núcleos, consolidados, em Rio Branco, que levam ensinamentos que transformam vidas!
A GAZETA – Como à senhora vê o envolvimento de seus correligionários Eduardo Cunha e Renan Calheiros em graves denúncias?
- S. – Vejo com muita tristeza e decepção. O PMDB é um partido grandioso que tem o melhor programa partidário. Um programa avançado, inovador e altamente democrático. É um partido que tem uma linda história de luta contra a ditadura e pela democracia no Brasil. Se existe, dentro da nossa sigla, pessoas que se envolveram em coisas escusas, elas que respondam e paguem por isso. Pode ter certeza de que a maioria dos filiados, do nosso partido, jamais compactuarão com desmandos e mal feitos, seja de pessoas do nosso partido ou de qual partido for.
A GAZETA – O PMDB nacional irá quebrar a aliança com o PT?
- S. – Não sei. Mas, eu já disse inúmeras vezes que se dependesse de mim, essa aliança nunca teria sido consolidada. Nossas diretrizes partidárias e nossa ideologia são muito diferentes da ideologia e do programa do PT. O PMDB é um partido liberal que prega o desenvolvimento das pessoas, considera que o trabalho é o fundamento da riqueza coletiva, pregamos que a livre iniciativa não pode ser engessada pelo governo, pregamos que o estado não pode se intrometer e impedir o crescimento e a criatividade das pessoas e das empresas, pregamos a meritocracia, a diminuição da carga tributária, queremos um estado eficiente naquilo que ele precisa ser eficiente enquanto que o PT pratica o protecionismo em todas as esferas e quer ser o “pai” de todo mundo, como se os brasileiros fossem crianças incapazes, impedem o talento e o empreendedorismo com impostos altos e regras que massacram quem quer crescer.
A GAZETA – Suas considerações finais.
Eliane Sinhasique – Apesar do trabalho, muitas vezes exaustivo, das noites mal dormidas, dos embates, das pressões, agradeço a Deus pela oportunidade de representar o povo do Acre, agradeço pela saúde que tenho, pelos meus filhos e minha família que sempre me apoia. Agradeço ao carinho da população e aos nossos eleitores pela confiança. Agradeço à imprensa por ter dado visibilidade às nossas ações. E, de modo particular, à GAZETA por me dar a oportunidade de fazer uma prestação de contas. Agradeço, inclusive, às críticas que nos fizeram refletir e contribuíram para o melhoramento de nossa atividade parlamentar. Desejo a todo o povo acreano um Feliz Natal e espero de coração, que 2016 seja um ano bom para todos nós!