O papel dos pais na educação dos filhos
BRUNA MELLO
O primeiro ensinamento de como educar os filhos do escritor e médico psiquiatra, Içami Tiba, diz que a educação não pode ser delegada à escola. “Escola é para ensinar a ler e a escrever, acrescentando-se algumas noções de bons costumes e boas maneiras. Aluno é transitório. Filho é para sempre. Quem pôs no mundo tem o dever de educá-los no amor e na autoridade”.
Nos dias de hoje é comum ver crianças sendo educadas somente pelos professores. A falta de tempo, e até mesmo interesse dos pais faz com que os mestres assumam também o papel de educadores ‘familiar’. O cenário de hoje vai contra tudo que a sociedade criou ao longo dos anos. Afinal, se a família é a base da sociedade, cabe aos pais o papel fundamental da educação dos filhos.
Os pais são os primeiros educadores, e desde o início estão encarregados do sustento material, cultural e espiritual das crianças. Afinal, educação vem de berço.
A funcionária pública federal Ariane Almeida, mãe de duas meninas, acredita que a educação dos filhos é um conjunto de fatores como respeito, regras, entre outros.
“Para mim o indispensável mesmo é o amor. É preciso que seu filho saiba que é amado diariamente antes de tudo, e que embora haja ‘correções’ você as faz por amor, e não por raiva”, disse Ariane.
A funcionária pública aprendeu desde cedo que educação vem de berço, ou como ela diz “costume de casa se leva à praça”. Ariane acredita que o papel da escola na educação das filhas é indispensável, assim como o papel da família. “É frustrante quando percebo pais que esperam que a escola assuma uma obrigação que é deles. A família é o berço, ao menos é para ser, onde se forja o caráter e princípios que norteará uma vida inteira”.
Ariane e o marido Jorge Gonzales, de 26 anos de idade, acompanham o desenvolvimento e amadurecimento das meninas todos os dias. Quanto à rotina da filha mais velha, Sophia, de cinco anos, Ariane é atenciosa e, como disse anteriormente, extremamente amorosa.
“Apesar da correria do dia-a-dia, não deixo escapar um dia sequer de perguntar como foi na escola ou onde esteve. Infelizmente, nem sempre estou presente em reuniões escolares, mas uma hora ou outra estou enchendo o saco da professora, com aquele velho questionário: Como ela está na sala? Está obediente? Brinca muito com os coleguinhas? E ela [a Sophia] fica super atenta quando me vê conversando com a professora, o que eu acho uma graça. Crianças são mais espertas do que imaginamos.
Já a minha pequenina, é lindo ver seu desenvolvimento dia apos dia”, descreveu a mãe.
Para o pai, a educação que teve quando criança é uma inspiração. “Sempre aprendi a dar valor, a respeitar, a valorizar o que tenho. E quero passar isso para minhas filhas, mostrar a elas que família unida é sinônimo de felicidade”, declarou Jorge.
Na rotina diária da família é difícil encontrar espaço para lazer durante a semana. Mas, quando o final de semana chega é hora de tirar o atraso. “Nossa primeira opção é sempre o shopping, devido à segurança e o conforto. Mas, logo em seguida vem a casa da vovó, da titia, brincar com as primas, passeio no parque, piscina, até ver o pôr-do-sol. Só não vale ficar em casa sem fazer nada”, garantiu Ariane.
“Sei que já errei e ainda errarei muito como mãe, mas quero que elas tenham boas lembranças da infância”
Assim como a maioria dos pais, Ariane e Jorge querem criar boas lembranças da infância em suas filhas. Apesar de a educação ser um aprendizado constante, eles acreditam que as boas memórias é que ficam para o resto da vida.
“No meu caso, tinha meu pai como a pessoa que colocava disciplina, que tinha o papel de sustentar a família, e não tinha muito tempo para os filhos. Já a minha mãe, ficava com o papel de educar. Hoje eu quero fazer diferente, quero participar da vida de minhas filhas, estar presente em todos os momentos possíveis”, recordou Jorge Gonzales.
Vale ressaltar que educar os filhos é um desafio diário. Criar filhos inteligentes, responsáveis, tolerantes, com uma boa autoestima… Tudo isso demanda tempo e dedicação constante. Impor limites de forma sensata é um dos principais desafios ao longo da infância da criança. A falta de limites pode gerar problemas futuros, na escola, por exemplo.
“Educar não é tarefa fácil. Só quem é pai e mãe sabe o quão difícil, mas a responsabilidade principal é nossa. Tudo o que plantamos colhemos no futuro. Veja seu filho como seu fruto. Até o momento em que ele tiver maturidade suficiente para caminhar sozinho, a responsabilidade será sua. Não tenha vergonha de dizer a eles abertamente que os ama, ou de cativar sua amizade, pois em cada esquina há muitos que irão fazer se você não fizer”, pontuou Ariane.
Crianças sem limites: educar não deve ser dever da escola
BRENNA AMÂNCIO
As experiências e ensinamentos adquiridos na infância norteiam quais rumos a vida de uma pessoa pode tomar. Dizer que educação vem de casa não é só uma frase aleatória. É na família que a criança aprende sobre valores, respeito e deveres. Contudo, alguns pais se abstêm dessa responsabilidade e deixam o papel nas mãos da escola.
A pedagoga Mirian Braga, 48 anos, ensina crianças de 2 a 4 anos na Escola Estadual Rural Jorge Kalume, localizada no bairro Barro Vermelho, em Rio Branco. Com 30 alunos em sala de aula, ela fala sobre os desafios e o papel que exerce no dia a dia escolar.
Segundo a professora, a negligência dos pais no papel de educar e dar amor aos filhos é refletida no comportamento dessas crianças na escola. Ela destaca um caso com o qual precisou trabalhar. Um garoto que passou o ano letivo demonstrando sinais de agressividade.
“Ele bate muito nas outras, toma a tarefa dos outros. Não sabe brincar com as demais crianças sem machucá-las. Ele não tem limites. Tive que fazer um relatório sobre esse comportamento para mostrar aos pais dele. Na verdade, o pai sabe quem o filho é. Por isso, entende que o professor está fazendo o melhor para ajudar a criança”, aponta.
Em situações como essa, Mirian relata que precisa trabalhar com o uso de muito carinho e atenção. “A boa comunicação ajuda a criança a desenvolver confiança, sentimento de autovalorização e bom relacionamento com os outros. Ao conversar com a criança e mostrar a ela comportamentos positivos, contribuí-mos para resolver problemas de agressividade”.
De acordo com a pedagoga, as possíveis conse-quências por mau comportamento devem ser realizadas como um ‘aro de amor’, não uma simples punição. É necessário estabelecer regras e limites. “As crianças precisam de regras muito bem estabelecidas para estruturar suas vidas”, destaca.
Além das crianças agressivas, Mirian também destaca os alunos com comportamento esquivado, de medo e tristeza, o que chama a atenção. Nessa fase da infância, espera-se agito, alegria e vontade de brincar. Contudo, algumas simplesmente não participam. Parecem carregar um peso grande demais para a idade que possuem.
O motivo para isso pode estar no convívio que essas crianças têm em casa. Tudo o que elas presenciam no lar, como brigas, violência, maus- tratos, podem se refletir na escola. E a professora é a primeira a notar, afirma Mirian.
“Nós logo identificamos quando um aluno está com problemas em casa. Eles trazem tudo para dentro da sala de aula, seja com agressividade ou tristeza. Crianças são muito transparentes”.
Mirian afirma que o papel do professor nisso tudo é ser mediador. No entanto, educar é um dever dos pais, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Para a pedagoga, a educação infantil é a mais importante, pois são os primeiros conhecimentos adquiridos na vida. “Hoje é lei ter creche para todas as crianças que necessitam. Antes, a mãe não trabalhava e ficava em casa com os filhos. Atualmente, vivemos em um mundo com ritmo apressado. Acaba que nós passamos muito tempo com as crianças e ficamos, em alguns casos, com o papel de educar”, afirma.
Enquanto professora, Mirian declara que ama o que faz. Para ela, o segredo do bom educador é passar confiança aos alunos e ter com eles uma relação de respeito.
“Infelizmente, vivemos em tempos onde a permissividade relativa à educação de filhos tem reinado”, aponta psicóloga
BRUNA LOPES
Pais que, para não se desgastarem depois de um longo dia de tarefas, permitem tudo, pois preferem apenas descansar ou assistir televisão para relaxar. Existem também aqueles que utilizam a forma de compensação. Presenteiam os filhos para preencher o espaço deixado em aberto. Ou, ainda, aqueles que, em nome do sucesso profissional, atropelam ou se esquecem dos filhos e suas necessidades afetivas.
Atenção, pais! Se você se identificou com alguns dos comportamentos acima é necessário repensar suas prioridades, aponta a psicóloga Claudia Correia. Ao viver mais intensamente o ambiente externo do que o com a família, os pais confundem e delegam à escola o papel de educar os filhos.
“Os pais devem ter atenção e responsabilidade no trato com as crianças. Escola forma e cuida da parte intelectual do indivíduo. Já a educação, princípios, valores, moral, caráter devem vir de casa. Isso deveria ocorrer de fato”, ressalta Claudia.
O resultado dessa confusão aparece, geralmente, na escola com comportamentos violentos, isolamento e baixo rendimento escolar. Os professores, nesses casos, são vítimas ao receber uma turma de crianças extremamente estressadas, explica a psicóloga.
“O professor até percebe o problema com o aluno e chamam os pais e comunica. Existem casos de pais que atribuem a culpa ao próprio professor. Existem também, aqueles que são resistentes a ter uma relação mais próxima com a escola. Os pais encaram a ida à escola como obrigação. O que não deixa de ser. Mas, deve ser encarada como obrigação positiva e não negativa”, ressalta Claudia.
Educar uma criança é uma construção que requer muito esforço, tempo de qualidade, atenção, prazer, disciplina, limites, amor, e tudo que deste possa vir. “Infelizmente, vivemos em tempos onde a permissividade com relação à educação de filhos tem reinado”, aponta a psicóloga.
Lares onde as brigas, as ofensas e humilhações são constantes, geram filhos assustados e revoltados. Nessas famílias, a afetividade não é levada em consideração. Onde era para existir amor prevalece os bens materiais.
“Hoje estamos diante de uma geração de filhos reis e rainhas, e pais que não passam de meros súditos. Sim, onde a permissividade e o consumismo reina. Pais, produzem dívidas para satisfazerem os caprichos e mimos dos seus filhos, que, por sua vez, não aprendem a reconhecer os esforços, as lutas daqueles que são os seus responsáveis e a valorizarem como deve ser valorizados”, reforça.
Mas, nem tudo está perdido. Os pais podem mudar esse mau comportamento. “Resolvam-se, pais! Não desistam dos seus filhos. Procurem ajuda, antes que seja tarde. Nossas crianças e jovens devem ser educados, atendidos, cuidados, vistos, compreendidos e amados”, declara Claudia.
Citação do psicólogo John B. Watson
“Dê-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e meu próprio mundo especificado para criá-los e eu vou garantir a tomar qualquer uma ao acaso e treiná-lo para se transformar em qualquer tipo de especialista que eu selecione – advogado, médico, artista, comerciante-chefe, e, sim, mesmo mendigo e ladrão, independentemente dos seus talentos, inclinações, tendências, habilidades, vocações e raça de seus antepassados. Eu vou além dos meus fatos e eu admito isso, mas tem os defensores do contrário e eles foram fazendo isso por muitos milhares de anos”. (John B. Watson, behaviorismo), cita Claudia Correia.
“Sociedade atual é formada por pais doentes e filhos adoecidos”, afirma Claudia Correia
Geralmente, os pais se dão conta de que algo está errado na relação com os filhos quando explodem problemas com drogas, alcoolismo ou prostituição. Para os pais, o problema ocorre de um dia para noite. O que não percebem é que se trata de uma consequência da relação familiar ou da falta dela.
“Nós sabemos que não é bem assim. A pessoa não vira usuária de drogas de uma hora para outra. Existe um processo. Mães e pais precisam estar atentos aos sinais e às mudanças de comportamentos dos filhos. Mas, os pais gostam de se enganar. É difícil admitir que um filho tem problema, mas o do vizinho pode ter”, exemplifica a psicóloga.
Isso ocorre em famílias de todas as classes sociais, aponta Claudia. “Televisão, internet, jogos eletrônicos exercem uma influência poderosa nas crianças que estão em fase de formação. Além disso, o sentimento de abandono dos cuidadores marca essa criança. Quando uma mãe fala que tem cinco filhos e criou eles da mesma forma e só um entrou para o mundo das drogas, sempre falo que nós temos na mão cinco dedos e nenhum deles é igual ao outro”, explica a psicóloga.
Diálogo, tempo, lazer, atenção, dentre outros, são ingredientes em qualquer relação. “Cabe aos pais ter disponibilidade em desejar educar os filhos de forma consciente, oferecendo o melhor deles”, confirma Claudia.
Se tudo pode, tudo é permitido, nada é errado, a criança que certamente vai crescer, pode agredir, ofender, prejudicar, roubar e até matar, dependendo do ponto de vista. “Infelizmente, este pensamento perigoso toma forma, concretiza-se em nossos comportamentos. E assim caminham muitas e muitas famílias sem rumo e sem controle na criação e educação daqueles que eles trazem ao mundo”, afirma a psicóloga.
Além disso, é importante ressaltar que os cuidados acima descritos devem ser uma obrigação dos cuidadores. “Porque não é obrigação apenas da mãe, do pai, da avó ou da tia. Eu permanecerei acreditando no estímulo positivo que constrói para a vida, para as relações saudáveis, confiáveis. Acredito que o amor age cuidando, protegendo, instruindo, preparando o outro para a vida em sociedade onde o respeito ao outro é fundamental”.
A orientação para os pais é passar mais tempo com os filhos. “Mas, não é qualquer tempo. É um tempo de qualidade. Ter foco nessa relação. Ter atenção e firmeza. Isso pode evitar que essa criança desenvolva qualquer tipo de problema psicológico no futuro. Costumo dizer que a sociedade atual é formada por pais doentes e filhos adoecidos”, conclui a psicóloga.