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DEPRESSÃO: Superando a vontade de não viver

Uma vida sem brilho

BRENNA AMÂNCIO

Rozimeire enfrentou uma doença silenciosa que quase tirou todo o ‘brilho’ da vida dela, mas deu a volta por cima
Rozimeire enfrentou uma doença silenciosa que quase tirou todo o ‘brilho’ da vida dela, mas deu a volta por cima

Uma casa, três filhos saudáveis e um marido. A professora Rozimeire Conceição Moraes Soares Souza tinha tudo o que julgava necessário para ser feliz. A vida profissional era um exemplo aos demais colegas. A docente ficou conhecida, inclusive, por ser uma das primeiras a usar a informática como aliada na sala de aula no Acre.

Para ela, a sua vida é dividida em dois momentos: o antes de 2007 e o depois. Rozimeire explica que antes disso era uma mulher alegre, vivaz, criativa e muito disposta. Porém, após um problema no casamento, algo mudou drasticamente. Na época, ela ainda não sabia, mas estava no início de uma grande depressão que a levaria a atitudes extremas, como até tentar tirar a própria vida.

Começou com sintomas pequenos, como insônia, tristeza súbita, tontura e falta de atenção. “Pensei que fosse uma questão de labirintite. Fui ao médico, fiz exames, mas ele descartou essa possibilidade”.

Rozimeire havia perdido a mãe há pouco tempo e descobrir a traição do marido foi como uma avalanche. “Fui pega totalmente de surpresa, porque ele era um homem caseiro e muito amoroso. Saíamos sempre juntos e, para a sociedade, nós éramos a família perfeita. Quando isso aconteceu, comecei a me questionar sobre tudo e a perder sono. Por isso, fui até o doutor Paulino (psiquiatra) em busca de remédio para dormir. Após eu descrever como me sentia, ele disse que eu estava em um quadro depressivo”.

A professora iniciou o uso da medicação e, apesar do estado em que estava, ela ainda não havia aceitado o fato de ter depressão. Por agir assim, os sintomas não desapareceram. Rozimeire conta que suspendia e voltava a tomar os remédios sem consultar o médico. Essa atitude se perdurou por 6 anos.

“Eu sentia muita angústia, tinha perturbações na cabeça. Parecia que eu estava ouvindo vozes e que meu peito doía mesmo. Por isso, eu não tinha vontade de fazer nada. Não tinha vontade de trabalhar. Mal olhava para os meus filhos nessa época. Tem coisa que eu não lembro direito. A vida foi passando e eu não percebia”.

Rozimeire afirma que não deixava faltar nada aos filhos no sentido de alimentação. Porém, admite que se tornou distante e deixou de acompanhar o crescimento dos três meninos. “Eles não sabiam. A gente tenta esconder. Na frente das pessoas você está com um sorriso no rosto e todos pensam que está tudo bem”.

Aceitação da doença

Rozimeire engordou quase 40 quilos em 6 anos devido à depressão. Hoje, ela já eliminou 37 quilos de forma saudável
Rozimeire engordou quase 40 quilos em 6 anos devido à depressão. Hoje, ela já eliminou 37 quilos de forma saudável

Um trabalho desenvolvido por acadêmicos de psicologia da Uninorte, em 2013, foi o que despertou Rozimeire para a situação. Os estudantes fizeram uma análise com todos os profissionais da escola na qual a docente trabalhava. Com isso, foram detectados três casos de depressão, incluindo o dela.

Nesse período, a professora havia abandonado totalmente a medicação e deixado de comparecer às consultas no psiquiatra.

O baque maior foi quando um dos colegas de trabalho dela se suicidou em junho daquele ano. Ele tinha depressão e não seguia nenhum acompanhamento médico. De repente, Rozimeire percebeu que se não tomasse uma atitude, o mesmo que acontecera com o colega da escola poderia atingi-la.

Foi assim, então, que ela aceitou o tratamento oferecido pela psicóloga e coordenadora do projeto da Uninorte. “Foi quando finalmente eu aceitei que estava doente e procurei ajuda. A morte do meu colega me emocionou muito, doeu mesmo”.

Com o tratamento, Rozimeire foi despertando para as coisas em volta dela. Percebeu que o filho do meio estava insatisfeito com os dois cursos superiores que fazia. Isso o estava deixando triste e o jovem não sabia como contar aos pais. “Eu estava totalmente alheia à vida dentro de casa”.

Após muita conversa, Rozimeire se mostrou compreensiva com os problemas do filho e o incentivou a fazer o que ama.

Mudanças no corpo
Sem procurar o tratamento adequado ou mesmo por não aceitar a doença, Rozimeire chegou a engordar quase 40 quilos em 6 anos.

A obesidade chamou a atenção de uma colega que a indicou um endocrinologista. Com os exames em mãos, a professora pode constatar que suas taxas estavam todas acima da média.

“Eu não me cuidava. Quando ia ao psiquiatra, ele sempre me dizia para praticar alguma atividade física e me apegar a minha fé. Eu não fazia nada disso. Não tinha vontade. Cheguei a começar a ir à hidroginástica, à missa, mas nunca seguia adiante”.

Tentativas de suicídio
As coisas iam bem na vida de Rozimeire. Aos poucos, tudo voltava ao devido lugar. Havia novamente harmonia dentro de casa. Só que a notícia da separação, em 2014, a fez voltar à estaca zero.

“Eu fui ao fundo do poço de novo. Não aceitava a separação. Era como se nada na minha vida fizesse sentido. Você está sofrendo tanto que acha que chegará a um ponto em que vai perder tudo na vida. O que mais se deseja é dormir e nunca mais acordar. Eu achava que se eu dormisse, aquilo tudo ia passar. Que eu ia ficar calma, tranquila e que aquela dor passaria”.

Para dar fim ao sofrimento, Rozimeire tentou tirar a própria vida. Ela tomou mais de 10 comprimidos para dormir, uma cartela inteira. De acordo com o médico, o máximo que ela poderia tomar daquele remédio eram 200 miligramas por dia. No entanto, Rozimeire ingeriu mais de 1.500ml.

A medida drástica não pôs fim à vida da professora. No entanto, causou muito mal à saúde dela, que precisou ser internada para fazer a desintoxicação.

Essa não havia sido a primeira vez que ela tomou remédios para morrer. Rozimeire revela que anos atrás, quando descobriu a traição, já havia se envenenado com medicações. Depois desses episódios, ela foi afastada da sala de aula e passou a assumir o cargo de coordenadora pedagógica.

“Eu não estava gostando de mim. Estava enorme. Já não me via como mulher. No trabalho, eu me perdia nos conteúdos. Tinha hora que eu estava explicando um assunto e dava branco, eu não sabia o que estava falando”.

Para Rozimeire, a parte mais difícil é não ter compreensão dos outros. “As pessoas não estão preparadas para conviver com quem tem depressão, principalmente a família, justamente por não conhecerem a doença. Muitas vezes acham que é ‘frescura’ da pessoa, como foi o caso do meu marido, que achou mais fácil arranjar uma amante”, desabafa

Tratamento
A ajuda de um psicólogo foi importantíssima para que Rozimeire seguisse com sua vida. O tratamento, que incluía terapia e medicamentos receitados pelo psiquiatra, surtiu efeitos após alguns momentos de desânimo dela.

Com perseverança, a professora e mãe estava na lista de pacientes da renomada psicóloga Cláudia Correia. “A terapia me ajuda muito. No momento que eu sinto que não estou bem, ligo para a Cláudia. Ela faz as observações profissionais. Com isso, eu me sinto mais forte. Mais segura”.

Hoje, aos 49 anos, Rozimeire recorda tudo o que a depressão tirou dela e usa como uma fonte de força, uma busca diária. Ela já conseguiu eliminar 37 quilos naturalmente, apenas com exercícios e alimentação adequada.

“Hoje, a minha motivação são os meus filhos. Eu voltei a olhar para mim como pessoa, como mulher. Voltei a gostar de viver. Percebi que a vida ainda tem muita coisa para me dar. Tinha me esquecido dos sonhos que queria realizar e hoje eu quero isso. Estou tentando reconstruir a minha vida”.

Ela conta que agora suas metas são otimistas. Na verdade, ter metas já é uma vitória. Ela sonha em ver os filhos bem, felizes e encaminhados. Além disso, quando se aposentar, pretende ir conhecer o Egito, algo que sempre desejou por ser professora de História.

Depressão, a doença silenciosa, tida como o mal do século e que pode levar ao suicídio

BRUNA LOPES

A tentativa de suicídio é o último pedido de socorro de uma pessoa que sofre de depressão. Doença que atinge 10% dos brasileiros e 350 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). A depressão não escolhe faixa etária, classe social, profissão, gênero ou idade, alerta a psiquiatra Renata Patrícia de Carvalho.

“O sofrimento psíquico – às vezes invisível – ao olhar humano terá sempre neste hospital cuidados especiais e solidariedade”. Esses dizeres estão na entrada do Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac). É lá que os pacientes diagnosticados com depressão moderada a grave realizam tratamento.

Apesar de causar atos extremos, a depressão pode sim ser tratada na unidade básica mais perto do paciente, dependendo do tipo de doença.

“No Hosmac atendemos um público bem variado. Tem aqueles idosos que sofrem com a síndrome do ninho vazio, caracterizada pela saída dos filhos de casa. Mas, têm as crianças que apresentam sintomas da doença, após a separação dos pais, por exemplo”, explica a médica.

Além de consultas, distribuição de remédio e internações, o local abriga algumas terapias que ajudam esses pacientes a enfrentar a doença. Através da música ou pintura, alguns pa-cientes conseguem expressar os sentimentos mais escondidos e que causam dor.

Nessa área a atuação da professora Diana Rodrigues é fundamental. “Ser humano sozinho entra em sofrimento psíquico. Quando não existe um grupo de apoio. Seja a família, amigos, igreja ou colegas de academia. Existem algumas pessoas que sofrem de depressão, fazendo tratamento ou não. Mas, só o fato de participar de um grupo de expressão e que em determinado momento ela consegue falar sobre a importância de todos ali para a sua vida e perceber a sensação de alívio, só de falar é impressionante. As pessoas precisam se expressar”, explica a professora.

Em alguns casos, é necessário incluir no tratamento os antidepressivos, mas de maneira geral, como parte do tratamento. É recomendável que o paciente pratique atividades físicas, tenha interação social, converse sobre seus problemas com pessoas de confiança e, se necessário, reprogramar seus hábitos, buscando sempre manter situações e práticas que proporcionem bem-estar e recuperação constante da vontade de viver.

“O mundo que era colorido fica cinza. O paciente depressivo vê a vida sem cores. Tristeza além das forças. Sentimentos e sensações que associados à oscilação de sono, podem levar ao suicídio. Por isso, a atenção é constante nos pacientes que realizam tratamento”, confirma a psiquiatra.

Prevalência e sintomas

Psiquiatra afirma que a depressão pode ser tratada. (Foto: Victor Augusto)
Psiquiatra afirma que a depressão pode ser tratada. (Foto: Victor Augusto)

Apesar de atingir o público em geral, a depressão tem prevalência em mulheres. É uma doença que tem estigma. “O depressivo dá sinais de que algo não está certo. Ele chega a falar, inclusive, mas, por preconceito ou falta de informação, as pessoas próximas tratam como ‘frescura’, exagero ou simplesmente não dão importância aos sintomas”, destaca Renata Patrícia.

Apesar da prevalência, os casos de suicídio entre os homens é maior. “Eles são impulsivos. E, geralmente, realizam as ações mais agressivas. A mulher também tenta, mas de forma menos rigorosa. Ela pensa na família e nos filhos, por isso que a maioria fica apenas na tentativa”, justifica a médica.

Entre os sintomas mais comuns estão a oscilação no sono, a falta de vontade de fazer as coisas que eram prazerosas. Come muito ou para de comer. Isolamento e diminuição na produtividade. Tristeza, baixo astral por um longo período com ou sem motivo.

“Com esses sintomas associados, buscar ajuda médica é fundamental. Cerca de 60% a 80% dos casos podem ser tratados com medicação e psicoterapia em um atendimento primário. A depressão é uma doença grave que, se tratada corretamente, tem cura, mas o acompanhamento médico deve ser feito pela vida toda”, esclarece a psiquiatra.

Sobre o perfil dos pacientes, a médica Renata Patrícia explica que é bom quando a pessoa demonstra algum problema ou alteração de comportamento. Além disso, vale ressaltar que a depressão é causada pela associação de fatores genéticos e do meio social.

“Mas, e quando a pessoa não demonstra qualquer tipo de alteração? Quando vive em uma espécie de personagem? Quem é que sabe o que realmente se passa quando essa pessoa não está às vistas das pessoas que convive?”, questiona.

Passado, presente e futuro de uma paciente em tratamento contra a depressão
Sobre depressão, a dona de casa Maria Auxiliadora Nascimento, 24 anos, entende. Em tratamento da doença há dois meses, ela recentemente ameaçou verbalmente o suicídio e, ao comentar o fato numa consulta de rotina no Hosmac, ficou internada.

“Um dos remédios do tratamento tinha acabado. Estava me sentindo muito só. Daí comentei com meu marido que iria me enforcar. Durante uma consulta, falei para o médico o que tinha ocorrido e ele me internou. Quero procurar minha cura. A depressão que desenvolvi foi devido passar muito tempo sozinha. Costumo dizer que depressão é para quem não tem o que fazer e não procura atividades para ocupar a mente. Eu sabia que tava doente, antes mesmo do diagnóstico”, confessa.

A internação é uma das medidas adotadas para proteger a paciente, explica a médica Renata Patrícia de Carvalho.

“Queria agradar as pessoas e me deixava para trás. Fiquei acabada. Hoje já estou melhor e estou me amando. Quero terminar minha faculdade, quero trabalhar na área da saúde. Gosto de ajudar as pessoas”, planeja Maria Auxiliadora quando estiver livre da depressão.

Caminho para tratamento
A pessoa que apresenta pelo menos cinco sintomas da depressão pode procurar um posto de saúde e fazer uma consulta com um clínico geral ou um médico da família. Após a identificação do caso, se for algo grave, o paciente é encaminhado para o Hosmac. Também pode ocorrer do paciente ser orientado a buscar um psicólogo ou ainda, que pode ser tratado na própria unidade de saúde mais próxima de casa.

“Psicoterapia é necessária, seja com psicólogo ou psiquiatra. O acompanhamento de um familiar ou amigo nessas consultas ajudam no diagnóstico. Em alguns casos, apenas as orientações e terapias de um psicólogo bastam para o tratamento. Mas, é importante ressaltar que o psiquiatra é quem faz o diagnóstico”, concluiu a médica.

Setembro Amarelo e as ações de prevenção ao suicídio

Psicóloga Andréia Vilas Boas, (FOTO: RAYLANDERSON FROTA)
Psicóloga Andréia Vilas Boas, (FOTO: RAYLANDERSON FROTA)

Criado para promover a prevenção e conscientizar a população sobre a problemática do suicídio, o movimento Setembro Amarelo visa, por meio de campanhas e ações, mostrar que é necessário falar sobre o assunto. A data 10 de setembro foi escolhida como Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.

No Hospital de Urgências e Emergências de Rio Branco (Huerb) existe uma equipe do Núcleo de Prevenção ao Suicídio, formada por psicólogos, psiquiatras e outros profissionais, que atua identificando os pacientes que dão entrada no hospital por tentativa de suicídio e oferecendo apoio e acompanhamento psicológico.

O serviço teve início em 2012, quando a psicóloga Andréia Vilas Boas observou que o número de internações registradas no sistema do hospital não condizia com o levantamento feito por ela e outros profissionais.

“Nós identificamos que, muitas vezes, a causa registrada no sistema para a entrada dos pacientes eram acidentes de trânsito, suturas, intoxicações medicamentosas, que são possíveis métodos utilizados na tentativa de suicídio”, explica Andréia.

Este ano foi criado a sala de Plantão Psicológico, onde revezam três profissionais. “Quando as entradas acontecem durante nosso plantão, já vamos até o paciente, conversamos e oferecemos o tratamento. Quando não estamos na unidade, buscamos pelo sistema e entramos em contato com esses pacientes”, afirma a psicóloga.

Quando há necessidade de internação, o paciente já fica nos leitos de saúde mental da unidade. Quando não, eles são acompanhados no núcleo pelo período de seis meses a um ano, dependendo do problema que apresentam e da sua evolução clínica.

No Brasil, a cada 45 minutos uma pessoa tira a própria vida. 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos, pois estão associados a patologias de ordem mental que, se observadas a tempo, podem ser diagnosticadas e tratadas, como a depressão.

De 2013 a 2014, foram registradas 215 ocorrências de tentativa de suicídio no Huerb, das quais 142 eram pacientes do sexo feminino. O Instituto Médico Legal (IML) registrou no mesmo período, 66 óbitos. Destes, 57 homens e nove mulheres. (Com informações Agência Acre)

Do mau humor ao mal do humor: como lidar com a depressão grave

Apesar da prevalência, os casos de suicídio entre os homens é maior, diz psiquiatra
Apesar da prevalência, os casos de suicídio entre os homens é maior, diz psiquiatra

BRUNA MELLO

Humor deprimido, melancólico, “para baixo”. Falando assim parece que se trata apenas de uma pessoa triste, mas esse indivíduo que apresenta, sobretudo, uma tristeza profunda pode estar sofrendo de depressão. No mundo inteiro, a depressão atinge um número cada vez maior de pessoas, e dentre todos os distúrbios psiquiátricos, ela ocupa o terceiro lugar em prevalência.

O Transtorno Depressivo apresenta diversas ramificações, contudo, o Transtorno Depressivo Maior é um clínico que se caracteriza por um ou mais episódios depressivos maiores. Esse é um tipo de depressão mais grave. Neste transtorno, os pacientes costumam apresentar maior quantidade de sintomas depressivos, e eles são mais graves.

Segundo o psiquiatra, José Rosa Paulino, o principal sintoma de uma pessoa com depressão maior é o humor deprimido por mais de 15 dias. “Além do humor depressivo, tem a perda da capacidade de trabalhar, sentimento de medo e de insegurança, isolamento social, apatia, desânimo, pessimismo, ideia de culpa e ideação suicida, quando se tem uma depressão grave”, explica Paulino.

O psiquiatra esclarece que a ideação suicida é um sintoma da depressão maior. Apesar de o suicídio estar frequentemente associado à depressão – 15% das pes-soas com depressão grave cometem suicídio – ele pode ocorrer em várias situações. “Quando a depressão é grave, não é só o humor que está deprimido. A ideia de se matar vem junto como um sintoma da doença. Eu imagino que a pessoa vem sofrendo com aquele mal-estar psíquico, e ele acha que nunca vai ter alívio dessa dor”.

Segundo Dr. Paulino, a dor psíquica se compara à intensidade de uma dor física. “É uma dor física insuportável, é uma dor interior muito grande”.

Para o especialista, a depressão pode se agravar, devido ao preconceito e medo do tratamento psiquiátrico.

“Ainda hoje existe muito preconceito de a pessoa procurar um psiquiatra, de vir e ficar na sala de espera do consultório e se apresentar como paciente de um psiquia-tra. Eu atendo médicos, por exemplo, que só vem no final do expediente, com receio”, exemplifica o especialista.

O sofrimento causado por esta doença é difícil de medir, o que muitas vezes acaba retardando o diagnóstico, e pior, o tratamento. Geralmente, o portador da depressão não sabe como, onde ou com quem procurar auxílio e, outras vezes, durante a doença a pessoa não tem energia ou vontade para agir.

Psiquiatra desde 2002, Paulino conta que já teve muitos pacientes que chegaram a atos extremos como mutilação e suicídio. Cerca de 70% dos seus pacientes apresentam um quadro de depressão. “Na realidade, nós temos muitas tentativas de suicídio, mas é uma minoria que conseguiu. O importante é que depois de uma tentativa que a pessoa pode tentar de novo. Então é preciso levar a sério e fazer o tratamento”, conta.

Estudiosos acreditam que as tentativas de suicídio são 8 a 20 vezes mais comuns do que o suicídio. São ainda mais frequentes em jovens (200 tentativas para cada suicídio) do que em pessoas com mais de 65 anos (4 tentativas para cada suicídio).

Como diferenciar a tristeza normal da depressão?
Uma pessoa deprimida consegue perceber que seus sentimentos diferem de uma tristeza já sentida. Na depressão grave ou maior, o indivíduo se isola, perde o interesse por tudo. Algumas pessoas procuram ocupar o tempo para se distrair e afastar o mal-estar sentido. Podem ficar mal-humorados, ou insatisfeitos com tudo ao redor. Na maioria das vezes, são pessoas que sofrem dessa doença, e a luta diária rouba a pouca energia que lhes sobra. Com isso, ficam piores, mais irritados e impacientes.

Afinal, depressão tem cura?
Com a ajuda de tratamentos adequados, não há necessidade de suportar tamanha dor em silêncio. De acordo com o Dr. Paulino, um episódio depressivo tratado pode não ter recaída. Porém, o Transtorno Depressivo Recorrente, quando há mais de três episódios de depressão, não tem cura, apenas tratamento ao longo de toda a vida.

Entre 80% e 90% dos pacientes com diagnóstico de depressão grave podem ser eficazmente tratados e retornam a sua vida normal.

“É um tratamento para o resto da vida, e a pessoa vai ficar bem. Vai ter uma vida normal. Quanto mais a pessoa demora a tratar, pior é o prognóstico. Porque a depressão é como se fosse uma doença inflamatória do cérebro, e tem uma deterioração das células cerebrais. Existem pessoas que vieram se tratar comigo achando que estavam com demência, mas era uma depressão grave que afetou a memória. Depois do tratamento recuperou tranquilamente a memória”, relata o psiquiatra.

O importante é saber que existe tratamento e não há necessidade de tolerar sofrimento. A família tem um papel fundamental na hora de identificar a doença e apoiar o doente, afinal, ela é atingida como um todo quando um de seus membros apresenta depressão.

“O papel da família é de convencer a pessoa a procurar tratamento. Quando a pessoa se nega a fazer tratamento, ela só procura quando já está em estado grave, correndo riscos, por exemplo, de se suicidar. A pessoa que vem ao meu consultório sem o convencimento não vai tomar o remédio. Quanto mais grave a depressão, mais a pessoa nega que está doente”, conclui o especialista.

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