Difícil achar uma palavra para definir 2015. Não teve Copa do Mundo, nem eleições como em 2014. Mas foram 365 dias de muita, muita coisa para o Brasil. No Acre não foi diferente. O ano teve reflexos da crise política e econômica para cá, muitos movimentos grevistas (incluindo o da Ufac, que durou mais de 100 dias), enchente histórica do Rio Acre em Rio Branco, acreanos que se destacaram no cenário nacional (com destaque para o modelo Marcelo Bimbi, devido à sua participação ‘de peso’ no reality show ‘A Fazenda’, da Rede Record).
Na área policial, o Acre se chocou com a brutalidade de um crime no Bujari, seguido de uma resposta mais impressionante ainda de populares contra o agressor. Teve ainda uma crise de insegurança na Capital e a cruel morte por decapitação de um ex-prefeito de Porto Acre.
Na política, o Acre recebeu duas visitas importantes: a da presidente Dilma, em março, devido à alagação; e a do ex-presidente Lula, entre os dias 29 de novembro a 1º de dezembro.
Teve também a nova ameaça da zika vírus, causada pelo velho inimigo da Saúde Pública do Acre: o Aedes aegypti (mosquito da dengue). E a participação intensa na COP 21.
Recordar é lembrar. Então, vamos ver um pouco de como foi este 2015 para o povo acreano:
Alagação trouxe a presidente Dilma pela segunda vez ao Acre
A cheia foi tão desastrosa para Rio Branco neste ano que fez com que Dilma Rousseff fizesse a sua segunda visita ao Acre. A presidente veio no dia 11 de março. Ela foi recebida no aeroporto e logo seguiu para visitar as famílias desabrigadas no Ginásio do Sesi. Na sequência, participou da cerimônia de entrega de 966 casas para a Cidade do Povo (e também no Residencial Rui Lino III, Residencial Cabreúva e no Residencial Abunã). E ainda sobrevoou as áreas alagadas na cidade.
O cenário nacional já era de desconfiança em relação à liderança de Dilma para o país. Nada tão diferente dos dias atuais. A popularidade dela estava baixa e já se comentava sobre a tese do impeachment. Ameaçavam protestos em cada lugar do Brasil por onde ela passava. E aqui não era diferente. Só que, quando Dilma chegou, o tanto que se falava de protesto se transformou em apoio. O povo acreano recebeu a presidente com muito carinho.
Trinta anos de Acre nas páginas de A GAZETA
Outubro deste ano foi um mês muito importante para A GAZETA. O jornal completou 30 anos de vida desde a sua edição número 0, datada do dia 15 de outubro de 1985. Para comemorar a ocasião, o jornal programou uma série especial de reportagens para mostrar a todos os nossos leitores um pouco mais sobre estas três décadas de história.
O foco foi recordar. Recordar as grandes reportagens, as histórias que marcaram o Acre nesta sua história recente, memórias de bastidores nunca contadas, os profissionais que fizeram a grandeza de conteúdos do jornal e quem ainda está até hoje fazendo parte da trajetória de A GAZETA. O resultado foi muito bom. Um mês inteiro de pautas diferenciadas e especiais, que aproximaram o leitor do desafio que é fazer um jornal a cada novo dia.
Enchente histórica do Rio Acre afetou mais de 70 mil pessoas
Nos meses de fevereiro e março deste ano, o Acre viveu momentos caóticos durante a enchente histórica do Rio Acre. O nível do Rio alcançou 17,88 metros no dia 2 de março, ultrapassando a cota histórica de 17,66 metros, registrada em 1997. Cinco abrigos foram montados na Capital para receber as vítimas da alagação.
A cheia histórica atingiu mais de 40 bairros em Rio Branco, desabrigou mais de 6 mil pessoas e afetou diretamente 71 mil pessoas. Também sofreram com enchentes os municípios de Brasiléia, Epitaciolândia, Xapuri, Tarauacá, Sena Madureira e Vale do Juruá. A cidade de Brasiléia foi a mais afetada pela enchente com 80% do seu território coberto pelas águas.
O ano mais quente já registrado
O título de ano mais quente já registrado é de 2015. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), este ano ultrapassou 2014, configurando dois recordes sucessivos. Os principais fatores para o aquecimento são o fenômeno El Niño e o aquecimento global. Em Rio Branco, a noite mais quente foi registrada no dia 22 para 23 de outubro, quando os termômetros alcançaram 37,5º C.
Para quem não gosta de calor, apenas um aviso: pode piorar. O Met Office, instituto de meteorologia do Reino Unido, divulgou que 2016 desbancará 2015 como o ano mais quente desde o início dos registros, em 1880.
Lula também reencontra o Acre
O Acre também recebeu outra figura presidenciável neste ano. Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva também veio para cumprir uma agenda de vital importância para o Estado: a inauguração do frigorífico da Dom Porquito, em Brasileia. Lula chegou na noite do dia 29 de novembro e ficou até o dia 1º deste mês. A agenda no Alto Acre, no dia 30, foi a principal e a que teve a maior mobilização e contatos de Lula com os militantes e admiradores acreanos.
No evento, Lula ressaltou o quanto estava orgulhoso de ver o progresso do Acre nas últimas décadas. A noite, o ex-presidente participou também do X Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, que acontecia em Rio Branco.
Nos dias seguinte, Lula ainda conheceu mais dois projetos acreanos de destaque. O primeiro foi o Centro de Referência e Inovações para a Educação (Crie), no prédio do antigo Mira Shopping. O segundo foi a Indústria de beneficiamento de castanha, no Parque Industrial, na BR-364.
Movimentos grevistas marcam 2015
Ao longo do ano, várias instituições decretaram greve. Mas, algumas das greves marcaram pelo tempo de paralisação e polêmicas. Os professores da Universidade Federal do Acre (Ufac), por exemplo, ficaram quase quatro meses de braços cruzados. Os professores aderiram ao movimento nacional no dia 29 de maio e anunciaram o final da paralisação no dia 8 de outubro.
Os servidores da Educação do Estado também deflagraram greve. O movimento durou cerca de 60 dias e em seu auge atingiu 15% das escolas do Estado. Os servidores recusaram três propostas do governo, e tiverem ameaça de corte nos salários, caso não retornassem às salas de aula.
O movimento grevista também alcançou as agências bancárias. A categoria deflagrou greve no dia 6 de outubro, e somente após 21 dias de paralisação retornaram às atividades aos poucos. Apenas 30% dos serviços internos foram mantidos durante a greve.
Os servidores do INSS aderiram ao movimento grevista no dia 10 de julho. Somente após 70 dias de paralização os serviços foram normalizados. Os primeiros dias de trabalho foram marcados por muitas filas e tumulto nas agências.
Já a greve dos médicos peritos do INSS ultrapassa 100 dias. A categoria cruzou os braços no dia 4 de setembro. Os peritos exigem reposição salarial de 27,5% em duas parcelas, reestruturação da carreira, fim da contratação de peritos terceirizados e a garantia de 30 horas de trabalhos semanais. Além disso, eles pedem mais segurança nas agências.
Crime bárbaro: ex-prefeito de Porto Acre é assassinado com requintes de crueldade
O ex-prefeito do município acreano de Porto Acre, João Batista Gomes Asfury, 78 anos, foi encontrado decapitado, na madrugada do dia 5 de julho, em frente à casa onde vivia na Rua Beira Rio, mais conhecida como Rua do Comércio.
A cabeça de João do ex-prefeito foi encontrada em um barranco a cerca de 30 metros do local onde o corpo foi deixado. O crime chocou todo o Estado. O ex-prefeito tinha quatro filhos.
Meses depois, Francisco Ralyson, de 22 anos, confessou o crime e disse que estava sob efeito de drogas e álcool e que a intenção era apenas roubar.
Recentemente, uma lei póstuma determinou que a Rodovia Estadual AC-10, que liga Rio Branco a Porto Acre passa a se chamar Rodovia Estadual João Batista Gomes Asfury.
Bebê e mãe são assassinadas por monstro do Antimary
A jovem Jardineis Oliveira da Silva, 25 anos, foi morta a facadas, teve a barriga aberta, parte das vísceras retiradas e, após ser costurada, foi amarrada a pedras e jogada em um rio da comunidade. O corpo da jovem foi localizado no dia 17 de novembro. Um dia depois, o corpo da filha de seis meses que estava com a mulher no dia do crime foi encontrado numa cova rasa em um matagal próximo à residência de Lucimar Bezerra, 33 anos, acusado do crime.
“O corpo do bebê foi achado em um matagal depois da casa dele e o rosto da criança aparentava ter sido esmagado. Ele conta que estava estuprando a mãe e a criança ficava ao lado chorando. Do local onde matou a mãe, até onde enterrou a criança, é uma hora de caminhada. Ou seja, ele caminhou 1h com a criança morta”, revelou o delegado, Rêmulo Diniz, responsável pelas buscas.
O motivo para o crime brutal seria uma vingança já que Jardineis não aceitou manter relações sexuais com o suspeito. Após achar o corpo da criança, Lucimar Bezerra foi encaminhado para a delegacia do município do Bujari. Ainda no dia 18 de novembro, mais de 50 homens invadiram a unidade policial e lincharam Lucimar até a morte.
Logo após a invasão, o secretário de Polícia Civil, Carlos Flávio Portela, informou que o caso está sob investigação e que os invasores serão responsabilizados dentro da lei. Na hora da invasão, apenas sete policiais estavam de plantão na unidade.
Promotora de Justiça é encontrada morta
A promotora de justiça Nicole Gonzales Colombo Arnoldi foi encontrada morta em seu apartamento, localizado num condomínio de luxo em Rio Branco, no dia 29 de novembro. O disparo de uma arma de fogo contra a própria cabeça interrompeu uma promissora carreira. Um dos motivos para o possível suicídio da promotora seria um grave problema de depressão, confirmado por amigos no dia do velório, depois o fato foi negado.
Nicole atuou no caso do bloqueio das contas e encerramento das atividades da Telexfree no Brasil. Natural da cidade de Araraquara, interior de São Paulo, a promotora Nicole Gonzales Colombo Arnoldi, 35 anos, tomou posse em 2009 no MPE do Acre. Atuou em Tarauacá, e em Rio Branco ocupou funções nas promotorias de Violência Doméstica e de Defesa do Consumidor. Ultimamente, ela vinha respondendo pela Promotoria do Bujari.
A crise incendiária
Rio Branco viveu dias ardentes no começo de outubro. Depois que 2 acusados de tentar assaltar uma clínica na cidade morreram baleados por um policial à paisana, bandidos de gangues e até facções organizadas começaram um plano de instalar o caos e insegurança generalizada. Atearam fogo em carros e principalmente ônibus durante vários dias. A maioria dos ataques aconteceu de madrugada, mas houve várias tentativas no período da manhã e da tarde também.
Os crimes incendiários foram preocupantes. Mas certamente não alcançou a proporção que os boatos disseminados por redes sociais provocou na cidade. Logo após os primeiros incidentes, uma onda de notícias inventadas e informações falsas se espalharam por Rio Branco, sugerindo que as coisas estavam fora do controle da polícia. A população ficou em pânico.
As pessoas pouco saiam de casa à noite, e até de dia muitos deixaram sua rotina de lado. Pelas ameaças, o Terminal Urbano passou horas no dia interditado. Só depois de várias medidas, como a transferência de presos e reforços policiais, o povo se sentiu seguro de novo. ]
A ameaça do Aedes aegypti
Um novo problema surgiu como o maior vilão das grávidas no final de 2015. A explosão de casos de microcefalia no Brasil virou preocupação e o número de bebês que nascem com a deficiência não para de aumentar. A principal suspeita é de que o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e da chikungunya, seja o responsável pela situação.
Segundo o Ministério da Saúde, o Aedes aegypti é também o transmissor de um novo vírus chamado zika. Esse vírus é o que tem causado o aumento nos casos de bebês com microcefalia.
No Acre, três casos de microcefalia foram identificados em 2015. No entanto, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre) ainda investiga que a deficiência está ligada ao surto de zika vírus.
Governo e prefeitura de Rio Branco entraram em uma verdadeira missão de guerra para combater a proliferação do mosquito. Até o dia 21 de dezembro, foram registrados 35 casos suspeitos de zika vírus.
Participação do Acre na COP 21
A 21ª Conferência do Clima (COP 21) reuniu líderes e estudiosos de todo o mundo em dezembro, em Paris, na França. E o Acre esteve presente nesse evento. O objetivo era chegar a um novo acordo entre os países para desacelerar o aumento nas emissões de gases de efeito estufa, diminuindo o aquecimento global.
A missão parece fácil, mas fazer com que cada país se comprometa e cumpra com o trato é bem mais complicado. No entanto, a natureza já vem dando o recado de que responderá ao homem à altura das suas ações.
Na conferência, o Acre mostrou casos concretos e suscitou o debate sobre os mecanismos inovadores de financiamentos e resultados e impactos socioambientais das experiências acreanas na conservação da floresta e redução do desmatamento.
Durante a COP 21, também foi inserido à programação de atividades o Dia do Acre. Na oportunidade, o governador Tião Viana anunciou a criação da Unidade de Conservação Gleba Fluente. O processo de criação representa a conservação de mais 155 mil hectares de floresta, que poderão ser utilizados pelas famílias que vivem no entorno, de maneira sustentável.
Acreanos que foram destaque
Em 2015, os acreanos ganharam destaque no cenário regional e nacional em diversos ramos. Foi o que aconteceu com o modelo Marcelo Bimbi, que participou do reality show A Fazenda, da Rede Record. Ele foi o décimo eliminado do programa e por pouco não levou o prêmio, mas fez muito sucesso e já está cheio de planos como ator e também político.
O cantor Adonay Brasil representou o Acre no reality show musical da Amazônia, Estúdio Nema. E o resultado não podia ser diferente, ele venceu a quarta edição do programa, com 53,5% dos votos. Adonay é a nova voz da Amazônia.
Na área da segurança e serviços humanitários, o tenente-coronel Marcos Kinpara encheu os acreanos de orgulho. Em novembro ele retornou a Rio Branco após passar seis meses no Sudão do Sul, país do continente africano, distante mais de 11 mil quilômetros do Acre. Ele concluiu sua passagem pela Organização das Nações Unidas (ONU) sendo homenageado com a medalha das Forças de Paz da ONU.
Durante esse tempo o oficial da Polícia Militar do Acre (PM/Ac) serviu a ONU, na capital do país, em Juba. Além disso, ele trabalhou na Protectionof Civilian (Proteção de Refugiados) e na Administração Logística da operação.
A crise financeira
O ano também foi marcado pela maior crise financeira dos últimos meses do país. A crise na política nacional se refletia na economia e a impressão era de que o Brasil estava em desordem.
Os vários aumentos do dólar e poucas quedas foram apenas uma pequena parte do aperto que o consumidor sentiu no bolso.
A criação das bandeiras tarifárias e os ajustes na tarifa de energia em um curto espaço de tempo foram de assustar.
Mas os aumentos em serviços essenciais não ficam por aí. Em 2015, a gasolina teve quatro reajustes no Acre, local onde o produto é comercializado pelo maior valor do país.
A botija de gás também aumentou e o consumidor teve que fazer malabarismo para que o salário pudesse pagar as contas e as refeições. Que ano!
Ano difícil também para os trabalhadores. Muitos terceirizados reclamaram por salários atrasados e outros ficaram desempregados, como os que prestavam serviço para a OCA.
Surpreendeu muito o fechamento da Fábrica da Coca-Cola em Rio Branco. A empresa estava instalada no local há mais de 30 anos. Dezenas de pais e mães de famílias perderam seus empregos.