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“Eduardo Cunha é um dos políticos mais desacreditados do país”, disse Jorge Viana

“Eduardo Cunha é um dos políticos mais desacreditados do país”, disse Jorge Viana

O jornal A GAZETA bateu um papo nesta semana com o vice-presidente do Senado Federal, Jorge Viana (PT/AC). Durante a conversa, o senador fez um balanço da primeira semana de debates na da Conferência das Partes do sobre o Clima das Nações Unidas (COP-21), que ocorre em Paris, França.

Ele falou sobre a expectativa e as negociações de um acordo na Conferência. Segundo o senador, “a intenção é chegar a um consenso para suceder o Protocolo de Kyoto e promover uma ação unificada de todos os países no combate à emissão de gases que contribuem para o efeito estufa e, assim, diminuir o ritmo do aquecimento global”. Destacou ainda os esforços do governo brasileiro e a posição do Brasil nas negociações.

Jorge comentou sobre o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Ele classificou a atitude do presidente da Câmara Federal como irresponsável. A maior preocupação, segundo o parlamentar, é o agravamento de uma crise institucional. “Por conta de uma ação irresponsável, teremos que viver nos próximos meses um grande desafio, que é evitar uma crise institucional”.

A GAZETA – Qual o balanço que o senhor faz nessa primeira semana de debates na COP21?
Jorge Viana – Estou bastante otimista com o andamento das discussões da conferência. Um avanço importante foi à inversão de prioridades. Em 2015, pela primeira vez, os líderes mundiais se reuniram no início do evento, e não ao final, para já determinar as diretrizes das negociações. Isso é importante, pois aqui não debatemos um plano B até porque não existe planeta B, portanto, temos que ter seriedade quanto a esse debate.

A GAZETA – Dentre o que já foi debatido na COP-21 até o momento, o que o senhor destacaria?
J. V. – É importante que se fale que a intenção desse encontro é chegar a um consenso para suceder o Protocolo de Kyoto e promover uma ação unificada de todos os países no combate à emissão de gases que contribuem para o efeito estufa e, assim, diminuir o ritmo do aquecimento global. Mais de 180 países assumiram compromisso de redução de emissões. Isso já é uma vitória. A questão é se o acordo será vinculante, terá força de lei ou não. Pelo que se tem ouvido, o processo de transparência dos dados sobre as emissões dos países será regulamentado, inclusive em lei”.

A GAZETA – O Brasil tem um importante papel nesse debate, haja vista que é um grande protagonista na área ambiental. Nossa contribuição?
J. V. – O Brasil conseguiu esse lugar devido à inclusão social, aliada a redução do desmatamento ambiental e crescimento econômico. Somos um dos países que vai conseguir cumprir seus compromissos antes do prazo, mesmo diante de uma proposta de redução de 37% das emissões até 2025 e 43% até 2030, tudo em relação às emissões de 205. Nós que demos início ao debate em torno desse assunto. Nossa preocupação em torno desse assunto já vem de longos anos, tanto que nos últimos 15 anos, conseguimos reduzir mais de 80% do desmatamento da Amazônia.

A GAZETA – Qual o papel do Acre dentro desse debate?
J. V. – As florestas brasileiras terão um papel fundamental e nesse ponto o Acre é uma grande referência. O trabalho que o governador Tião Viana vem realizado é de extrema importância, trabalho este que começou com o governador Binho Marques, vem sendo trabalhado desde a época de Chico Mendes. O Acre, sem sombra de dúvidas, é uma referência no cuidado à floresta e com certeza terá ganhos por conta do cuidado que tem tido com as florestas.

A GAZETA – O governador Tião Viana participa nesta semana do evento. Qual a expectativa?
J. V. – Há uma boa expectativa com a chegada do governador, sem sombra de dúvidas. O Acre fez um trabalho interessante na área de floresta, na busca de se preparar para o mercado de comércio de carbono. Este foi um bom investimento que o Acre fez. O Acre talvez seja o estado brasileiro mais preparado para viver o pós COP 21, do ponto de vista do mercado e do comércio do carbono. O compromisso que Tão vai assinar coma ministra do Meio Ambiente, de desmatamento zero, é um passo importante para entendermos definitivamente que a floresta não é um problema. É a nossa maior oportunidade e deve ser vista como um ativo econômico.

A GAZETA – Como o senhor avalia a atitude do presidente da Câmara Federal em relação ao pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff?
J. V. – Por conta de uma ação irresponsável, teremos que viver nos próximos meses um grande desafio, que é evitar uma crise institucional. O impeachment está na Constituição, porém, não se pode levantar essa possibilidade só porque nossa governante passa por um momento de baixa popularidade. Se no Brasil tirarmos os governantes por não serem tão populares, não haverá mais nenhum respeito à Constituição e leis no país. É claro que vivemos um momento econômico ruim, mais isso ocorre em todo o mundo. Essa atitude de Cunha é o pior que poderia acontecera ao país nessa hora. Ele é um desonesto e um péssimo exemplo de político.

A GAZETA – O senhor acredita que essa é uma forma de chantagem para força um apoio para evitar uma possível derrocada dele?
J. V. – Sem sombra de dúvidas. Eduardo Cunha é um dos políticos mais desacreditados no país hoje. Foi flagrado em quebra de decoro parlamentar e usou a situação para sobreviver politicamente. Tentou chantagear setores da oposição e, depois, a base de apoio parlamentar do governo em troca da não apresentação do pedido de impeachment.

A GAZETA – No caso da presidente Dilma ser afastada do governo, até que ponto isso poderia prejudicar a economia do país?
J. V. – Há quem diga que essa é a solução para a crise econômica que o Brasil enfrenta. Engana-se quem pensa assim. Essa proposta não tem nenhuma coisa boa. A única coisa boa dessa situação, se é pode-se usar a palavra boa, é que agora haverá uma decisão e finalmente poderemos colocar um fim as eleições de 2014. O PSDB até hoje não aceitou o resultado da eleição do ano passado e vem forçando a barrar para assumir o comando do país a qualquer custo. Esse é um debate que deve ser feito com muita maturidade e não tentando distorcer os fatos e manipular a opinião pública, como vem acontecendo.

A GAZETA – Diante desse pedido de impeachment, como fica a relação entre o PT e o PMDB?
J. V. – É óbvio que é um problema sério. Vou seguir acreditando que haverá maturidade dos outros líderes do PMDB quanto a esse assunto, principalmente do vice-presidente Michel Temer. É importante que se fale que vamos viver momentos ruins no Brasil caso essa história tenha continuidade. O mais correto nesse momento é respeitar as regras do jogo e esperar mais três anos, quando haverá uma nova eleição. E, nesse momento, quem ganhar que faça as mudanças que acha ser necessária. No momento temos que seguir em frente e ter confiança que o Brasil é maior do que a crise.

A GAZETA – Para finalizarmos senador, como está o clima em Paris após os atentados?
J. V. – De tranquilidade. Claro que ainda tem um clima de consternação, porém, estão todos tranquilos e tentando seguir em frente. Temos muitos policiais nas ruas e isso tem dado uma sensação de segurança às pes-soas. O evento está ocorrendo dentro da normalidade. Mas o que aconteceu em Paris não pode ser esquecido, pois, sem sombra de dúvidas, ainda teremos muitos conflitos dessa espécie. Estamos diante de uma guerra difícil de ser enfrentada porque não é convencional. Temos que encontrar uma forma de lidar com isso e não é através do olho por olho.

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