O jornal A GAZETA bateu um papo nesta semana com o coordenador da bancada federal acreana, o deputado Raimundo Angelim (PT/AC). Durante a conversa, o deputado fez um balanço do primeiro ano como parlamentar federal. Ele falou sobre as comissões no qual faz parte e o trabalho desenvolvido em cada uma delas.
Angelim comentou sobre o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Ele classificou a atitude do presidente da Câmara Federal como irresponsável. A maior preocupação, segundo o parlamentar, é o agravamento de uma crise institucional.
“O Cunha sempre deixou claro que se o Partido dos Trabalhadores votasse contra ele em seu processo de cassação, ele iria aceitar o pedido de impeachment. Cunha chegou a afirmar isso na impressa. Diante dessa situação, a bancada do PT se reuniu e afirmou que não aceitaria nenhum tipo de chantagem”.
Ele falou ainda sobre a crise econômica. Para ele, 2016 será um ano difícil para o país. “Eu acredito que com o processo de recessão que vivemos, só iremos respirar mais tranquilamente em 2017. Não resta dúvida que 2016 será um ano difícil”.
A GAZETA – Como o senhor avalia a atitude do presidente da Câmara Federal em relação ao pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff?
Raimundo Angelim – Lamentável a atitude do Cunha, ainda mais se levarmos em consideração que estamos diante de uma pessoa que não possui idoneidade moral para fazê-lo. Foi uma jogada política da parte dele a fim de evitar que seu processo de cassação tivesse continuidade na Câmara Federal.
A GAZETA – O senhor acredita que Eduardo Cunha poderia estar sendo orientado pelo PSDB?
R. A. – Ao longo do ano, o PSDB buscou de todas as formas convencer a população brasileira de que a reeleição da presidente continha alguma irregularidade. Pediram a recontagem dos votos, auditoria, enfim, em todas elas, ficou mais que comprovado que tudo ocorreu dentro da legalidade. Existe sim o desejo deles de ver a presidente Dilma fora do cargo, porém, acredito que Cunha age em benefício próprio.
A GAZETA – Então, realmente a atitude dele foi uma espécie de vingança?
R. A. – O Cunha sempre deixou claro que se o Partido dos Trabalhadores votasse contra ele em seu processo de cassação, devido sua participação na Lava Jato, ele iria aceitar o pedido de impeachment da presidente Dilma. Cunha chegou a afirmar isso na impressa. Diante dessa situação, a bancada do PT se reuniu e afirmou que não aceitaria nenhum tipo de chantagem e decidimos votar contra. No mesmo dia em que fizemos essa reunião, o Cunha deu uma entrevista coletiva anunciando que havia acatado o pedido de impeachment, ou seja, ele tentou usar esse assunto para se manter naquela posição. Sua ação foi uma retaliação à nossa decisão.
A GAZETA – Qual avaliação que o senhor faz do comando de Eduardo Cunha na Câmara Federal?
R. A. – É uma presidência irresponsável. Ele sempre usou as prerrogativas de presidente para direcionar as votações para o que lhe fosse favorável. Exemplo: ganhamos a votação para o financiamento de campanhas e no calar da noite ele pegou uma brecha no regimento e, numa manobra casuística, reverteu a votação e ganhou. Essa cena se repetiu por diversas vezes. Toda vez que ele se sentia prejudicado, ele buscava uma forma de reverter a situação para beneficiá-lo.
A GAZETA – Houve alguma interferência por parte dele durante a criação da comissão que iria avaliar o pedido de impeachment?
R. A. – Sem sombra de dúvidas. Desde o começo de sua gestão ele vem interferindo nas decisões dentro do parlamento federal e neste caso não foi diferente. Quando ele percebeu que não teria controle sobre a decisão, haja vista que a chapa criada não continha muitos parlamentares de sua base, em mais uma manobra, ele manipulou e criou uma nova chapa. Reduziu de 66 para apenas 39 parlamentares e colocou em votação o pedido. Nesse dia, inclusive, ele proibiu que os parlamentares se manifestassem. Perdemos a votação.
A GAZETA – O STF interviu e o resultado dessa votação foi suspenso. Qual o próximo passo?
R. A. – O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, protocolou na última sexta-feira parecer em que sugere ao STF a anulação da votação da Câmara dos Deputados que deu à oposição maioria na comissão especial que irá discutir o impeachment. Em seu parecer, Janot afirma que votação não poderia ter sido secreta e nem permitido chapa concorrente. Estamos confiantes que o STF irá acatar o parecer haja vista que além dessa votação ter sido realizada de forma irregular, o pedido de impeachment não tem fundamento legal.
A GAZETA – E quanto às pedaladas fiscais?
R. A. – As contas da Presidência da República ainda precisam ser votadas no Congresso Nacional. Quem vai dizer se existe alguma irregularidade ou não é o parlamento, em que pese também o parecer dos tribunais. O fato de algumas pessoas discordarem das pedaladas fiscais, isso não configura atentado à Constituição, o que é requisito para a abertura de um processo de impeachment. Portanto, não há legitimidade no pedido de impeachment.
A GAZETA – Como evitar que essa crise política influencie ainda mais na crise econômica que o Brasil enfrenta?
R. A. – Nosso país enfrenta um momento delicado. A crise econômica é muito grave. Tem a conjuntura internacional que nos afeta, haja vista que a maior importadora do mundo, no caso a China, recuou. Temos a queda dos commodities, as excessivas onerações de imposto, que fez com que a receita da união e, consequentemente, a receita dos estados e municípios caísse drasticamente. Talvez se esse momento estivesse ocorrendo sem uma crise política, a situação fosse outra. Eu acredito que com o processo de recessão que vivemos, só iremos respirar mais tranquilamente em 2017. Não resta dúvida que 2016 será um ano difícil.
A GAZETA – Fale um pouco sobre sua atuação no parlamento federal.
R. A. – Atualmente, sou membro titular da Comissão de Educação e Cultura, da Comissão de Integração Regional e da Amazônia, Comissão do Desenvolvimento Urbano e da Comissão Mista de Mudanças Climáticas. Em todas temos desenvolvido um trabalho de extrema importância. Temos conclamado a população a participar dos debates em torno de assuntos relacionados aos temas que discutimos nessas comissões.
A GAZETA – Uma das suas principais atuações é na Comissão de Educação. Fale um pouco sobre isso.
R. A. – Essa é uma das pastas mais importantes deste país. Por isso, tenho me dedicado muito a esse trabalho. Hoje, nós temos um Plano de Educação que é modelo. É um plano que foi exaustivamente discutido com a sociedade. Temos que priorizar essa pasta, pois trata do futuro da nossa nação. Este trabalho está sendo conduzindo por um acreano, o ex-governador Binho Marques.
A GAZETA – E quanto à Comissão de Integração Regional e da Amazônia?
R. A. – Tenho trabalhado muito também essa questão da Amazônia. Hoje, carecemos de um plano para o desenvolvimento da Amazônia. Um plano que seja feito a partir das prioridades das demandas, dos sonhos, da sociedade. O que vemos são planos frágeis que não refletem no que precisamos como moradores desta região. Temos que investir em pesquisas, mas, infelizmente, não temos recursos necessários. E é exatamente nesse ponto que estamos trabalhando nesse momento.
A GAZETA – Fale um pouco sobre seu trabalho na área social?
R. A. – Tenho buscado desenvolver políticas para a terceira idade, bem como deficientes físicos e também para a pró-infância. Outro trabalho que tenho muito orgulho de ter abraçado diz respeito à economia solidária. Fomos os primeiros a ter um marco regulatório aprovado sobre a economia solidária. Levei essa experiência ao Congresso e com isso criei a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Economia Solidária e Criativa. Nosso olhar também chega à questão da geração de emprego e renda.