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“Regras de Convivência”

A filosofia empírica sugere que os homens, seres sociais por natureza, em função do bem comum, deveriam estabelecer e levar à sério aquilo que Thomas Hobbes (1588-1679) chamou de “Regras de Convivência”. Isto é:  renunciar ao interesse sobre tudo; cumprir os acordos feitos; restituir os benefícios recebidos; adaptar-se aos outros; perdoar os que se arrependem; não desprezar os mais humildes socialmente, etc. e tal!
Infelizmente, a realidade social no campo da civilidade e dos bons costumes é uma bagunça geral. Creio até, como frisei oportunamente outro dia daqui deste espaço, que havia  mais civilidade nas ruas de Atenas, da época de Aristóteles, Grécia dos anos 367 a.C. do que nas ruas dos  tempos atuais super modernos. E olha, que temos leis para tudo e para todos. Leis duríssimas. Entretanto, é notório e público, nada debela a brutalidade e a anarquia social generalizada. A impressão que temos é que estamos à beira barbarismo.Os fatos são brutais. A tal pnto de Stefhen Hawking, astrofísico inglês, o mais célebre cientista desde Albert Einstein, antevê um destino sombrio para a humanidade.
Não se está pedindo que a raça humana viva a alteridade, como deseja o Santo Papa Francisco. Muito menos, que vivamos a essência do amor ao próximo, mandamento do Senhor Jesus Cristo, pois essa atitude é para poucos, pouquíssimos mesmo! Não, isto é ideal em demasia, para a estupidez do homem da era cibernética. Nada de utopias, do Estado Ideal de Platão. O que se quer, é um minimo de civilidade, de respeito mútuo, pois que somos parte do mesmo contexto político-social, não farinha do mesmo saco, como dizem alguns políticos sem escrúpulo; embora, presos ao mesmo sistema capitalista e bandido, que privilegia uns poucos em detrimento de muitos.
Longe do ideal de perfectibilidade, almejamos a ideia de humanidade, cuja educação proporcione a consolidação de um caráter no sujeito que o faz transcender a esfera da simples legalidade das ações, isto é, o acordo externo de sua ação com a letra da lei. Sobre este ponto, Kant insistia que é o espírito da lei que deve entrar em nossa disposição, em nosso ânimo e ser a única fonte de determinação do agir.
Para um ser humano educado moralmente é preciso escolher em suas ações somente aqueles fins que podem ser aceitos como bons e aceitos por todos os outros. Tal fato já o remete para o plano da comunidade universal, para a perspectiva de uma cidadania cosmopolita. Agir considerando a humanidade em si mesmo e na pessoa dos demais, nunca como meio, mas sempre como fim em si mesmo, implica estabelecer outra forma de relação com os seres humanos e com a natureza. Aí não pode haver espaço para a instru-mentalização. Esta ideia, longe do ideal, de uma civilização cosmopolita permite que os seres humanos possam se sentir e se tratar como membros de uma só comunidade, não apenas pelo estreitamento das relações interpessoais, quanto pelo fato de compartilharem uma causa comum. Compartilhar a mesma condição, reconhecer em si e nos demais a mesma dignidade, enfim, sentir-se no mundo como co-habitantes da mesma.
É inegável, que o espírito egoísta, raiz de todos os males humanos,  termina por falar mais alto em nossa alma, colocando em primeiro plano os nossos próprios interesses, como um fim em si mesmo. Então, a maioria da gente já perdeu o interesse, no-tadamente  por aqueles que fazem parte da comunidade local e, o que é pior, pelo bem universal!
A filosofia, com sua visão universal, através de seus mais ilustres representantes, têm nos alertado para realidade tão assustadora; estes fatos não podem passar despercebidos, sob pena de se viver fora da realidade. Alguns de nossos maiores pensadores concordam, em particular, que já ultrapassamos o ponto crítico. A maioria dos que se dedicam a pensar e olhar os problemas que afligem o homem (técnicos, analistas, historiadores, cientistas, filósofos, sociólogos, teólogos e estadistas) concorda que o homem, em nível de civilidade, caminha para o pior.

*Pesquisador  Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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