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Made in China

Nos primeiros dias do ano, com o recesso da política e o mundo girando em compasso de férias, a grande mídia costuma se ressentir de suas preferenciais manchetes negativas. Dizem até que certos jornalões nacionais torcem para que as chuvas de verão tragam alguma tragédia natural no Sul e Sudeste, e, finalmente, algumas notícias ruins. Deve ser piada.

Mas o fato é que 2016 começou com uma notícia preocupante para todo o mundo. A economia da China deu sinais de fragilidade, suas bolsas de valores despencaram, puxando para baixo todas as bolsas do mundo, e países como o Brasil acenderam o sinal de alerta diante da supervalorização do dólar americano, que aqui foi além dos 4 reais.

Seria a situação sonhada por nossa poderosa mídia começar o ano já manchetando o “Apocalipse da economia mundial”. Seria! Seria porque a crise chinesa é a confirmação de tudo o que a mídia nacional vem negando: as dificuldades internacionais que, no movimento da economia globalizada, fazem repercutir no Brasil problemas e desafios do mundo do nosso tempo.
Acostumada a culpar os governos petistas por todas as desgraças e colocar tudo o que é notícia ruim a serviço da “causa oposicionista”, o impeachment da presidente, deve ter doído aos jornalistas patronais iniciar o ano admitindo que a disparada do dólar não é culpa da Dilma, mas de variações negativas da economia chinesa, com repercussão mundial.

Claro que o governo cometeu erros – isso tem sido admitido claramente. Mas o fato é que migrou da técnica da notícia para o formato de propaganda oposicionista o conteúdo “jornalístico” das grandes empresas de mídia. Assim os problemas econômicos do país são tratados de forma simplista e atribuídos apenas aos erros do governo.

Foi interessante ver a jornalista de economia Miriam Leitão ouvir do presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Murilo Ferreira, que “a economia mundial nunca esteve tão fraca quanto agora”. Ela concordando tacitamente, ele emendando que o mais grave é que “os governos não poderão mais injetar recursos para estimular a demanda”.

De toda sorte, logo o governo Chinês injetou 20 bilhões de dólares para acalmar o mercado financeiro, esta entidade quase espiritual que faz a economia virtual muito mais senhora dos nossos destinos que a economia real – esta construída com o suor dos trabalhadores no dia a dia dos quatro cantos do mundo.

Gilberto Braga de Mello é jornalista e publicitário.
E-mail: giba@ciaselva.com.br

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