O Governo do Estado do Acre e a Academia Acreana de Letras (AAL) devem começar a elaborar nos próximos dias o projeto de Lei em favor do gentílico acreano com ‘e’. Desde 2009, como novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, o gentílico “acreano” foi modificado para “acriano”. A regra passou a ser obrigatória no dia 1º de janeiro de 2016.
Segundo a presidente da AAL, Luísa Karlberg, a mudança contraria todos os princípios linguísticos de tradição, de história e de costumes de um povo. “Uma língua se faz pela história de seus falantes e não por decretos e leis. Uma língua é viva, ela não é estática, é dinâmica”, disse.
Karlberg destaca que, por ser ortográfico, o acordo não deve modificar a morfologia das palavras, apesar de algumas pessoas defenderem que o gentílico é originário da palavra indígena “aquiri”.
“As línguas indígenas todas são ágrafas, não são línguas escritas. Logo, não se pode dizer como se pronunciava e se grafava “aquiri”. Não se sabe, não se tem registros. A AAL sempre se posicionou contrária a essa mudança do gentílico”, explicou Luísa Karlberg.
Para a estudiosa, a defesa do gentílico vai além da questão escrita. Ela acredita que gentílico é parte da construção da identidade dos habitantes de determinado local. “A Academia de Letras não tem autoridade para mudar, nós apenas vamos dar o parecer. Por isso, nós, em parceria com o governo do Acre, vamos elaborar um projeto de Lei.”
Luísa recorda que a última reforma ortográfica da Língua Portuguesa, em 1971, retirou o “h” do nome do estado do Bahia, por não ter som. Ela afirma que, na época, os baianos não aceitaram a mudança. “Os baianos disseram não, pois eles tinham costumes e tradições. E o ‘h’ não foi tirado. Essa é a mesma coisa que o Acre deveria fazer. Os acreanos são muito pacatos nessa questão do gentílico”, concluiu.