X

A Academia Acreana de Letras é guardiã do idioma pátrio na região do Acre

Esse Acordo Ortográfico tão discutido, ao longo dos anos, entrou em vigor e veio mexer com a nossa identidade cultural, aqui no Acre. Mas não somos os únicos a tecer críticas, há grande resistência a ele nos três continentes. Portanto, quando alguém abole o trema, porque o trema é desnecessário, está cometendo uma violência. Igualmente quando alguém escreve acriano está atentando contra a nossa identidade, cometendo uma violência à cidadania acreana. Ademais, essa mudança se configura como uma atitude discriminatória, porque o Acordo é Ortográfico e não Morfológico. E, mesmo se assim fosse, não nos obrigaria a romper com as nossas tradições, que estão acima de todos os acordos.

Ditas essas palavras iniciais, compreende a Academia Acreana de Letras que o gentílico acreano é forma consagrada pelo uso regional desde o século XIX, segundo dados colhidos nas obras: Revista do Instituto do Ceará – ANNO XLIV – 1932; Revista do Instituto do Ceará – ANNO LIII – 1939; Revista do Instituto do Ceará – ANNO LIV – 1940; em Subsídios para a História do Alto Purus e Separata da Revista do Instituto do Ceará, Tomo LIV – Ano LIV – Editora Fortaleza, de autoria de Soares Bulcão, Revista do Ceará que trata da “Comissão Acreana”, do ano de 1878.
Também esta Casa cotejou o Folheto Unitas, publicado na typ. e Enc. de A. Loyola, 8 Pará, 1900, em cuja capa traz os seguintes dizeres: “A Questão do Acre. Manifesto dos Chefes da Revolução Acreana  ao venerando Presidente da República Brasileira, ao povo brasileiro e às praças do commercio de Manaos e do Pará”, com a seguinte legenda: “Os brasileiros livres nunca serão bolivianos”. Independência ou Morte! Viva o Estado Independente do Acre!

Esta Corte, parafraseando a patriótica legenda, diz: “Somos acreanos, nunca acrianos! Isso porque no ano de 1900,  em março, no Pará, um grupo de revolucionários formou a “Comissão Acreana”, em defesa deste solo até, então, boliviano. Neste grupo estavam os nobres heróis criadores do gentílico acreano: Antonio de Sousa Braga, Rodrigo de Carvalho e Gastão de Oliveira. Concordaram e secundaram o manifesto: Hypólito Moreira, Pedro da Cunha Braga, Joaquim Alves Maria, Manoel Odorico de Carvalho, Antonio Alencar Araripe, Joaquim Domingues Carneiro, Luís Barroso de Sousa, Francisco Manuel de Ávila Sobrinho e Raimundo Joaquim da Silva Vianna.

Considera a Academia Acreana de Letras que um gentílico não se muda por força de Acordo, Decreto, Lei, porque um gentílico pertence à população do lugar, é nome sagrado que se guarda como um tesouro raro, que dá voz ao adjetivar um povo. E nesse particular, consagrou-se no meio linguístico, em todos os tempos, as sábias palavras do grande gramático Fernão de Oliveira (1536) que “os homens fazem a língua, e não a língua os homens”. Assim, segundo o mestre, “cada um fala como quem é”. E, aqui, no extremo oeste do Brasil a população é acreana, desde o nascimento.

Aqui, no Acre, a AAL é a guardiã do idioma pátrio. O Acordo Ortográfico dos Países de Língua Portuguesa busca unificar a língua no mundo da lusofonia, ao tempo em que respeita e preserva os aspectos culturais, sociais e históricos da população lusófona. Não tem por objetivo tratar de questões morfológicas no processo de formação de palavras. Esse caso dos gentílicos em -iano é considerado um desvio no Acordo.

Digo por ser fundamental, no caso acreano, olhar dois lados: o histórico e o linguístico. O histórico assegura a manutenção de acreano, pela consagração do uso da forma ao longo de 137 anos. Do lado linguístico deve-se considerar que o próprio Acordo está repleto de concessões ou exceções que permitem dupla grafia, palavras com acento agudo ou circunflexo, palavras com consoantes mudas, entre as muitas quebras de unidade entre o cânone europeu e o brasileiro.

Além de toda discussão, o Acordo diz que os nomes registrados e consagrados pelo uso permanecem. Isso me faz lembrar a última Reforma Ortográfica que fez o Brasil, em 1971, quando determinava a retirada do /H/ da Bahia. Os baianos nunca aceitaram e o /h/ permanece até hoje. Portanto não há, Lei, Decreto ou Acordo que seja capaz de violar os costumes e tradições de um povo. Quanto ao gentílico acreano, ele traduz a alma, a própria identidade da população dessa terra que se fez brasileira.

O próprio Acordo diz que os nomes registrados e aqueles que guardam tradições e costumes permanecem inalterados. Por tudo isso, as Ciências Humanas, por mais magníficos e atraentes que sejam seus argumentos lógicos e dialéticos, não propiciam arcabouço seguro para tirar dessa terra acreana o seu gentílico consagrado: acreano. Dito isso tudo, conclamo os acreanos à preservação do nosso gentílico, em todos os meios de comunicação, com maior força nas redes sociais.

Acreano não é uma palavra para ser vista pelas vogais que a compõem, átonas ou não, mas por todo o conjunto que personifica os costumes, a história e a tradição do lugar. Ser acreano é algo único, é aptidão revolucionária, é a caracterização de um povo, e isto não é mutante. Ser acreano é perene. É uma lição de amor, igualmente a Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios. Devemos hastear nosso gentílico, sempre.

DICAS DE GRAMÁTICA
CONTINUAMOS A USAR HÍFEN:
1 ) Depois dos prefixos “ex-, sota-, soto-, vice- e vizo-”:
Ex-diretor, Ex-hospedeira, Sota-piloto, Soto-mestre, Vice-presidente , Vice-rei.

2 ) Depois de “pós-, pré- e pró-”, quando TEM SOM FORTE E ACENTO.
pós-tônico, pré-escolar, pré-natal, pró-labore, pró-africano, pró-europeu, pós-graduação.

3) Depois de “pan-”, “circum-”, quando juntos de vogais.
Pan-americano, circum-escola.

* Luisa Karlberg – É membro da Academia Acreana de Letras; Membro Fundadora da Academia dos Poetas do Acre; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da International Writers and Artists Association (IWA), sediada na cidade de Toledo, Ohio, USA. Coordenadora da Pós-Graduação em Língua Portuguesa (Campus Floresta (2011-2018); Orientadora de Pós-Graduação em nível de Mestrado e Doutorado; Orientadora de Pós-Graduação Lato Sensu; Orientadora de bolsistas PIBIC (Campus Floresta – UFAC); Pesquisadora DCR do CNPq (2015-2018). Grã-Chancelar da medalha J.G. de Araújo Jorge, pela Academia Juvenil Acreana de Letras; Embaixadora da Poesia pela Casa Casimiro de Abreu.

Categories: Luísa Lessa
A Gazeta do Acre: