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“Elementar, meu caro amigo”, como já dizia Sherlock Holmes, conheça as histórias de detetives que atuam em Rio Branco

Alguns dos equipamentos utilizados durante os trabalhos, entre eles o cachimbo. (Foto: Bruna Lopes/ A GAZETA)

O trabalho deles pode ser definido com apenas uma palavra: Discrição. Assim como consta no imaginário popular o detetive é aquela pessoa que utiliza casaco xadrez, fuma cachimbo e utiliza a lupa como principal ferramenta de trabalho. A rotina até lembra o clima hollywoodiano. Ainda sim, até hoje eles trabalham em busca da verdade.

Relembrando os vários disfarces, a detetive Sara destaca que já fez e foi de tudo. “Tive que parece prostituta, lésbica, já fui gay, professora de escola dominical, homem, representante de livros, coordenadora de curso de espanhol, advogada, já saltei de para quedas durante o trabalho. Somos obrigados a topar essas coisas pelo trabalho”, detalhou a detetive.

Há três meses está instalada em Rio Branco, uma agência de investigação, que trabalha com consultas, desaparecimentos, contra-espionagem e os tradicionais casos conjugais.

“Estamos satisfeitos com a receptividade dos acreanos. Tem sido bastante rentável. Também existem investigações, cada vez mais, localizam pessoas que cometem traição com outras do mesmo sexo”, destacou o detetive Paulo Roberto.

Sara é experiente e atua há 11 anos na área. “Felizmente nunca aconteceu nada. Mas, o risco é muito grande. Já precisei me passar por traficante. Nunca usei drogas, mas precisei ficar com um cigarro de maconha na mão. Foram dois dias e consegui pegar o que queria”, confirmou a detetive.

A desconfiança sobre a fidelidade do parceiro ou a localização de um ente querido podem ser encontradas após uma ligação no número de telefone que está nos classificados dos jornais ou da internet. As investigações relacionadas a casos conjugais ainda representam 50% do volume de trabalho da equipe.

“Já representou 70%, mas, o percentual vem caindo. Como já trabalhei diversos estados brasileiros percebo que os acreanos ainda são tímidos ao contratar o serviço. Mas, temos identificado várias traições por parte de mulheres. Isso me surpreendeu”, confessou Sara.

Os detetives confirmam o aumento no número de casos de investigações relacionadas a estelionato. “Rio Branco tem sido visada por pessoas de fora do Estado para aplicação de golpes. Os mais comuns são de cheque, furto de bens, roubo por parte de sócios e documentos falsos”, detalhou Sara.

Os detetives confirmam que até 95% dos casos são bem sucedidos. Os casos de desaparecimento são os mais difíceis. “Por que dependendo da situação a investigação pode demorar meses ou anos”, afirmou.

Os detetives também trabalham com casos de entorpecentes, atuando sempre em parceria com a Polícia Civil e Federal. A equipe de detetives já atua em municípios do interior do Acre, Rondônia e dos países Bolívia e Peru.

De acordo com Sara, o perfil dos serviços varia, mas a maioria é referente a assuntos empresariais. “Esperamos que surjam outros serviços principalmente, relacionados a entorpecentes, devido a região ser de fronteira. Atualmente estamos com quatro trabalhos em Brasileia e dois na Bolívia. Trabalhamos em equipe, com pessoal formado e em constante treinamento. Todos eles tem credencial, diploma e carteira de detetive”, falou Sara.

Os detetives fecharam uma parceria com a Academia Brasileira de Investigação (ABIN) e hoje são representantes da entidade no Acre com o objetivo de oferecer formação e treinamentos de novos profissionais.

Casos marcantes durante a carreira
Uma amante que se passou por esposa e contratou detetives para constatar uma traição. “Quando começamos a investigação, descobrimos que na verdade, a suposta amante se tratava de uma esposa que era casada há mais de 20 anos. E tinha uma filha pequena. No final a esposa tomou conhecimento, sem os nossos serviços, da infidelidade do marido. Trabalhar no ramo conjugal é bastante difícil. Fomos ameaçados de morte”, destacou a detetive.

Diante da real situação de perigo, foi protocolado um boletim de ocorrência na polícia. “E redobramos os cuidados com a nossa própria segurança. A investigação do paradeiro deles e de suas ações nunca param”, ressaltou Sara.

Outro caso marcante foi investigar um dos sócios de empresário que estava desviando peças, produtos e objetos da loja. “O agravante é a sociedade era entre dois irmãos. As peças desviadas serviriam para abastecer uma loja que seria aberta de forma individual pelo irmão investigado por nós. Resultou em muita briga entre eles”, detalhou Sara.

Bons detetives precisam ter equipamentos de ponta

Discrição e sigilo fazem parte da rotina dos detetives, existem truques que ajudam nos disfarces durante os trabalhos. (Foto: Divulgação)

“Elementar, meu caro amigo”, como já dizia Sherlock Holmes. Para quem quer ser investigador, deve ter um bom recurso financeiro para comprar equipamentos como micro câmeras do tamanho de um broche que pode está em um botão de uma camisa a um simples detalhe de um boné, câmeras fotográficas e de vídeo de alta resolução, assim como, infraestrutura como escritório, telefone, celular, escutas, carro, combustível e almoço, estão entre os muitos recursos de que precisam um bom investigador.

Sara afirma que sigilo e credibilidade dos profissionais é fundamental. Entre os equipamentos usados estão câmeras fotográficas, escutas que podem ser instaladas em carros e microfones de longo alcance de captação. Maior parte dos equipamentos utilizados pelos detetives vem de Israel. As roupas usadas devem ser as mais neutras possíveis.

Casos que tem chamado atenção dos detetives em Rio Branco
A detetive Sara relata com espanto, que em Rio Branco tem ocorridos casos de pessoas que fingem doenças para colocar a empresa na Justiça. Por exemplo, funcionários que tem como característica apresentar um atestado médico atrás do outro, sempre com a mesma alegação. Ou a demora em voltar do almoço com o carro da empresa por causa do “trânsito intenso”. Processo contra a empresa, argumentando que a “repetição intensa de atividades físicas” no trabalho causou prejuízos físicos.

Essas são algumas das situações que despertam desconfiança nas empresas e fazem com que elas recorram a detetives particulares para descobrir se o funcionário está mentindo ou não. No entanto, é preciso ter cuidado na utilização desse material para que o investigador e seu cliente não sejam alvos de ações judiciais, alerta a detetive.

A maior parte das empresas pede para que ele acompanhe os passos de um determinado funcionário para comprovar se a pessoa realmente tem a limitação física que diz ter no atestado médico.

“Depois do horário de trabalho, esses funcionários que alegam problema de saúde, andam de moto e jogam futebol. Ou a pessoa diz que não consegue fazer movimentos com o braço por causa da repetição no trabalho, e encontramos ela levantando peso em academia, por exemplo. Por esses motivos, três empresas já nos procuraram para contratar os nossos serviços. Isso tem sido comum em Rio Branco, infelizmente”, relatou a detetive.

O profissional afirma que o trabalho não consiste em fazer juízo de valor. “Nós observamos, registramos em foto, áudio, e encaminhamos para o setor jurídico da empresa, que verifica se vai tomar alguma atitude ou não”, disse Sara.

Ano eleitoral pode render vários trabalhos
Em todos os estados em que já trabalhou, um dos únicos trabalhos que a detetive Sara rejeitou é relacionado a políticos. “Dependendo do caso, recusamos sim. Já rejeitamos vários trabalhos. Muitos deles políticos. E em ano de eleição o número de recusa deve aumentar”, detalhou Sara.

A proposta de trabalho para políticos geralmente vem acompanhada de malas com R$ 200 ou R$ 500 mil. “É difícil recusar, mas recusamos porque a liberdade não tem preço. Preferimos trabalhar legalmente e honestamente ganhando o suficiente e fazendo o trabalho direito. O maior valor oferecido por um trabalho foi R$ 600 mil, mas nós recusamos. Ainda sim, eu sei que ainda vamos ver uma proposta de 1 milhão”, estima a detetive.

Os serviços oferecidos pelos detetives em Rio Branco são tabelados, mas também são negociáveis. Quando o trabalho é relacionado a casos conjugais, o valor da diária varia entre R$ 500 a R$ 1 mil, com tempo de duração de até 12 dias. Sara afirma que também é possível fazer pacotes.

Quando o caso é do setor empresarial é necessário pelo menos 40 dias, com valores de aproximadamente R$ 17 mil. A Agência trabalha sempre com aluguel de veículos para manter a discrição do trabalho.

Os detetives atendem 24h por dia de segunda a segunda. “Trabalhamos com hora marcada. O cliente liga, marca um horário e às vezes o encontro ocorre em um lugar fora da agência.

Maiores informações podem ser obtidas através dos telefones (68)9934-2504, (68) 9228-8598 ou (75) 9204-7931.

O que fazer para se tornar um detetive?
Para exercer legalmente a profissão de detetive, é necessário fazer curso de formação, tem que ser cadastrado no Estado e município de atuação. A profissão está sendo regulamentada pelo Congresso Federal. Porém a atividade é amparada por leis nacionais e por isso os detetives podem atuar em qualquer área.

“Inclusive, dar flagrantes ou voz de prisão, assim como qualquer outro cidadão também pode”, explicou Sara. No Brasil, ainda não existe curso superior de formação de detetives.

A principal característica de bom detetive é a discrição total e sigilo absoluto, aborda a profissional.

As poucas regras facilitam a propagação de falsos investigadores. Por ser uma profissão ainda bastante mitificada, o cliente não sabe como se garantir contra golpes. As agências especializadas dizem que a melhor maneira de se precaver é verificar se a empresa é registrada, o CNPJ e as credenciais do investigador. Também é aconselhável conhecer o escritório do profissional, e ter certeza de conseguir contatá-lo em situações de emergência.

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