O mundo está mudando. Acreditamos que quase todos concordam com essa afirmação, mas é importante, para as decisões que tomamos, saber quanta mudança tem acontecido e o que está por vir. As vezes isto pode ser visto mais facilmente na vida das pessoas. Neste caso podemos usar como exemplo dois indivíduos, o primeiro autor e o outro uma criança recém-nascida. O primeiro nasceu em 1951 e o outro teria sua idade (64 anos) cerca de 2080.
Estas duas pessoas cobrem cerca de 130 anos da história recente e do futuro próximo deste planeta. Como Evandro Ferreira escreveu em artigos anteriores, estes 130 anos fazem parte do Antropoceno, um período geológico onde atividades humanas estão afetando o planeta de maneira significativa.
O futuro pertence a Deus, mas podemos fazer algumas projeções usando as tendências atuais que poderiam afetar as nossas ações agora. Afinal, o futuro depende do presente e do passado. A década de 1950, quando o primeiro autor nasceu, foi a primeira década pós-segunda-guerra-mundial e foi considerado o ponto de partida da “grande aceleração” de várias mudanças socioeconômicas e ambientais que continuam até hoje.O Programa Internacional de Geosfera-Biosfera (IGBP em inglês)concluiu que a partir de 1950vários indicadores globais começaram a disparar devidos a atividade humana, afetando o funcionamento da Terra.
A população mundial fornece um exemplo típico. No tempo de Cristo a população humana foi de 140 a 400 milhões. Ela levou quase 2000 anos para chegar a 2,5 bilhões de humanos no planeta em 1950. Desde então, adicionamos quase 5 bilhões de pessoas, chegando a 7,3 bilhões em 2015 durante a vida do primeiro autor. Em outras palavras, conseguimos adicionar na Terra o dobro da população mundial que existia a 66 anos atrás.
A previsão para o récem-nascido é que ele/ela será uma de 10 bilhões de pessoas em 2080, ou seja, adicionando mais 2,5 bilhões de pessoas. Um desafio crescente será ter condições dignas de emprego, educação, saúde, moradia, segurança e alimentação para 10 bilhões de seres humanos.
Mas, este aumento parece pequeno em relação a outras mudanças em curso. Segundo o IGBP,o PIB mundial cresceu em termos reais de 5,5 trilhões de dólares em 1950 para 50 trilhões de dólares em 2010, um aumento de quase dez vezes. No mesmo período, o uso de energia primária e represas de grande porte aumentaram cerca de 5 vezes, o uso de água mais de 3 vezes e 12 vezes o consumo de fertilizantes para agricultura.
Porém, nosso uso de energia e água e a nossa economia dependem de um planeta funcionando bem. Os indicadores globais do IGBP da situação do planeta não são nada bons. Durante o período de 1950 a 2010, as florestas tropicais reduziram sua extensão de 84% a 72% da sua área original. A pesca nos oceanos aumentou mais de 4 vezes e algumas áreas que eram ricas em peixes já entraram em colapso. As concentrações de gases de efeito estufa – gás carbônico, metano e óxido nitroso – aumentaram 24%, 57% e 12%, respectivamente.A temperatura média global aumentou 0,5 graus C.
A perda de espécies de plantas e animais está acelerando, levando a preocupação de que estamos entrando no sexto grande evento de extinção, algo equivalente ao fim dos dinossauros. Tudo isso está acontecendo antes do nosso recém-nascido ter aprendido a andar.
Em 2050, antes da nossa criança ter cabelos brancos, a concentração de gás carbônico pode alcançar mais de 450 partes por milhão, o nível mais alto que já tivemos em mais de um milhão de anos, num mundo de 9 bilhões de pessoas.
Estamos numa series de encruzilhadas, cada uma representando pontos de decisão para a sociedade humana e sua relação com a sua casa – a Terra. Decisões feitas agora vão afetar muitas gerações futuras. Como vamos ter energia, comida e emprego para uma vida digna de uma população de 9-10 bilhões de pessoas? Como a Terra vai continuar a funcionar como a nossa casa, se estamos acabando com sistemas naturais que regulam o clima, os solos, as florestas e as águas?
Precisamos redesenhar a economia que construa e não destrua, que restaura a Terra e não a degrada. Precisamos fomentar colaboração no lugar de conflito. Afinal, nas palavras do Leonardo Boff, precisamos cuidar tanto de nossas relações com pessoas quanto com o planeta.
* Foster Brown, Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) e do Curso de Mestrado em Ciências Florestais (CiFlor) da Universidade Federal do Acre (UFAC). Cientista do Programa de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT SERVAMB e do Grupo de Gestão de Riscos de Desastres do Parque Zoobotânico (PZ) da UFAC. Membro do Consórcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre (CEGdRA).
* Ednéia Araújo dos Santos, engenheiro florestal com mestrado em botanica do INPA, bolsista de LBA.
* Sonaira Souza da Silva, Professora da UFAC e Doutoranda em Ciências de Florestas Tropicais do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia.