O governador Tião Viana (PT/AC) se revelou indignado com o resultado da histórica sessão da Câmara Federal que aprovou domingo, 17, o encaminhamento ao Senado do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Numa reunião realizada segunda-feira à tarde com seu secretariado, assessores e aliados políticos no auditório da Biblioteca Pública, em Rio Branco, ele, um médico humanista, foi o orador mais à esquerda da turma que avaliou a derrota sofrida pelo PT e pela democracia.
Não sem razão. Eu vi pela televisão, mais envergonhado que indignado, que os 367 votos (bastavam 342) dados a favor do impedimento da presidente era manifestado em regozijo por um bando reacionário, de políticos nutridos como um zebu capado homenageando os avós, os pais, os filhos, netos e bisnetos. Quase cuspiam o “sim” ao golpe, de tanta gana contra o governo eleito em 2014. Se tivessem mais tempo, por certo, homenageariam a cachorros e gatos de estimação.
Nenhum deles ousou fazer a menor crítica ao corrupto-mor da sessão, o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB/RJ), réu na corte suprema da Justiça. Xingado de ladrão e gangster pela esquerda, se manteve impassível no comando da sessão, “blindado” por seu rebanho. Nunca vi a palavra “democracia” tão vilipendiada. Também nunca tinha visto símbolos da República tão blasfemados. Afoitos meganhas compareceram enrolados na bandeira brasileira parecendo fantoches.
Um deles, provavelmente o mais asqueroso, fez apologia a um coronel torturador da ditadura de 64, aquele que torturou a jovem Dilma de 22 anos nos idos de chumbo. “Deu vontade de vomitar”, desabafou o governador na reunião de segunda-feira.
Bom, nem tudo está perdido. A sessão histórica da Câmara escancarou para o país as suas entranhas fedidas. Qualquer cidadão minimamente informado pôde ver como são ridículos (e perigosos) os inimigos da democracia mantidos às custas do povo no Congresso Nacional. Pôde ver o mal que fazem à sociedade com seus apetites capitalistas.
O presidente regional do PT do Acre, Ermício Sena, viu no processo que finalizou com a derrota de domingo, apesar de tudo, “mais acertos do que erros”. Enquanto o secretário de articulação politica Francisco Nepomuceno (o Carioca) viu barbaridade, “um país há 500 anos dominado por uma casta”. Ele se confessou triste, e disse que o entristecerá mais “o voto da Marta Suplicy no Senado”. Uma crítica às alianças que o PT tem feito.
Outros oradores condenaram o uso “em vão” do nome de Deus, durante a votação das elites. Até Cunha pediu misericórdia a Ele, para a nação brasileira, na qual o próprio faz imundície. Tião Viana, em tom brincalhão e para provocar a militância imaginou que alguém poderia tê-lo empurrado da cadeira. Causaria algum tumulto, seria preso, mas tudo voltaria a normalidade momentos depois. O ex-deputado e hoje assessor especial do governo, Moisés Diniz (PCdoB), disse que se estivesse lá teria entregue um par de algemas ao Cunha”.
O mais à esquerda nos comentários foi mesmo o governador. Ele lamenta que boa parte do povo brasileiro não consiga enxergar o bem que os governos de Lula e Dilma fizeram e fazem ao país, disponibilizando R$ 65 bilhões para distribuição de renda, preferencialmente entre os mais pobres, multiplicando universidades federais, instituindo o programa Mais Médicos (muitos doutores votaram contra Dilma por causa desse programa), criando o projeto Minha Casa Minha Vida… Ao mesmo tempo que recolhia R$ 500 bilhões de sonegação fiscal das elites.
O governador não esqueceu a poderosa Rede Globo, que integra a máfia da mídia (com outras redes, jornalões e revistonas): “Ela está construindo um ódio nacional contra o Lula, a Dilma e o PT. As elites não vão deixar o Lula ser candidato à Presidência em 2018”.
Para evitar que as coisas continuem assim, tão drásticas, convocou os militantes petistas, secretários e assessores, bem como aliados políticos a saírem da passividade, ou todos vão pagar um preço muito alto. Propôs como estratégia “trabalhar pela verdade e pelo combate por um país diferente”. E encerrou convicto: “Estamos cercados por uma matilha de lobos”!
A vice-governadora Nazaré Araujo (PT/AC) também deixou uma advertência para a militância geral: “A história condena quem não faz um pacto para valorizar a democracia”.
* Elson Martins é jornalista.