Amor pelos animais é o que move os membros da Sociedade Amor A Quatro Patas. Há quatro anos, um grupo de jovens decidiu fazer uma campanha de doação de ração aos animais de rua, no Natal. Os amigos passaram um ano atuando com ações sociais voltadas para esses animais e, em 2013, a Associação foi, de fato, regulamentada.
“A partir dessa campanha conhecemos muitas pessoas que gostaram da ideia, ajudaram e contribuíram, foram uns 300 quilos arrecadados. Em janeiro de 2012 criamos o grupo, e em 2013 nós regulamentamos a Associação. Hoje temos uma equipe organizada e conta bancária para doação”, disse a coordenadora de eventos da Associação e uma das idealizadoras do grupo, Luciana Souza.
Segundo Luciana, o principal objetivo do grupo é conscientizar a população sobre os direitos dos animais, além de promover eventos de adoção e fazer regastes de animais abandonados. Diariamente são publicadas fotos de cachorros e gatos que precisam de lar provisório ou definitivo na página de Facebook da Sociedade Amor A Quatro Patas tem mais de 20 mil curtidas.
No começo, apesar da aceitação da comunidade, a coordenadora lembra a dificuldade de encontrar clínicas veterinária parceiras. O médico veterinário Dr. Oard, da Cia do Cão, foi o responsável pelo ‘ponta pé’ inicial. Ele e sua equipe abraçaram a causa da Associação logo no início. Hoje, a Sociedade tem parceria com clínica Cia do Cão, clínica veterinária PetiGatô e a clínica veterinária Joaquim Medeiros.
Ao longo desses quatro anos, cerca de 1.500 animais, entre gatos e cachorros, passaram pela Associação. São realizados em média 25 procedimentos clínicos mensalmente. Para Luciana, é visível a mudança de comportamento das pessoas diante, por exemplo, de um animal atropelado.
“Muita gente criava animal na rua, agora já estão dentro de casa. Eles sabem que podem ser atropelados, e que nós vamos recolher porque está na rua. Já vi muitas pessoas atropelando um animal e seguindo. Agora vejo que as pessoas que atropelam param para pedir ajuda”, Luciana deu exemplo da mudança de atitude da comunidade, resultado do trabalho de conscientização das associações.
Muitas pessoas não resistem aos encantos de um cachorro ou gato. Mas, na hora da adoção a preferência ainda é pelos filhotes. Normalmente, durante os eventos de adoção, animais idosos, com necessidades especiais e fêmeas, acabam “sobrando”. Na tentativa de mudar essa realidade, a Associação deve disponibilizar mais animais adultos durante os eventos de adoção.
“Não é todo mundo que tem condição de adotar alguns animais, mas sempre aparece alguém para adotar. Animais idosos são muito difíceis. Às vezes, o animal morre com a gente, porque é muito difícil”, explicou Souza.
Amor pelo que faz
Apaixonada por animais desde a infância, a coordenadora define o trabalho social junto aos animais como gratificante. “Fui crescendo com essa ideia de que quando eu completasse 18 anos eu iria fundar uma ONG. Eu tinha muita afinidade com cachorro e depois da associação eu fui gostando de gatos também”.
Luciana recorda que, muitas histórias marcaram seu dia-a-dia na Sociedade. Porém, o caso do cachorro Apolo, que ganhou repercussão na Capital, foi especialmente marcante: “Ele foi atropelado. Estava com as patas traseiras e a bacia fraturada. Ele não tinha expectativa de voltar a andar. Com o tempo e a reabilitação ele foi voltando a ter os movimentos. Ele saiu da clínica e foi para um lar provisório. Ele era bem magro e hoje já está mais gordinho. Tem um mês que ele foi adotado. Esse é um caso que nós sempre reforçamos, porque ninguém dava nada por ele e se recuperou”, contou.
Ainda sem espaço físico próprio, a Associação planeja crescer e, até o final deste ano, criar uma sede administrativa.
Os sonhos desses jovens não param por aí. Futuramente, a Associação deve se transformar em uma Organização Não-Governamental (ONG).
“Ainda não temos dinheiro para pagar toda essa estrutura. Mas, sim, é um sonho ter uma sede, um local que possamos ter atendimento veterinário, castrações, tudo da forma legal”, afirmou.
Associação vive de doações
A Sociedade Amor A Quatro Patas vive apenas de doações. Sem nenhuma ajuda governamental. A associação realiza bazar, eventos, além de contar com a doação de pessoas que apoiam a causa. Atualmente, a Distribuidora Karina tem colaborado com 100 quilos de ração por mês.
Além disso, a parceria com as clínicas veterinárias possibilita que os animais que precisam de procedimentos médicos possam receber atendimento sem pagamento à vista. Por isso, no fim de todo mês a Associação acumula uma dívida de aproximadamente R$ 2 mil.
A presidente da Associação, Mariana Lima, de 25 anos, lembra que no começo deste ano o grupo passou por maus bocados. Com uma dívida muito alta, foi preciso fazer uma campanha de doação no valor de R$ 5, para poder quitar os débitos.
“Foi só assim que conseguimos pagar as clínicas e quitar os débitos. Mesmo assim não tínhamos dinheiro para o mês seguinte. Então estamos correndo atrás. Todo final de semana nós fazemos bazar em bairros distintos, pedimos doações e fazemos também alguns eventos avulsos”, explicou Lima.
Apesar das dificuldades financeiras, Mariana diz que o amor é o combustível para continuar com o trabalho social. “Não conseguimos fechar os olhos para tanta crueldade que acontece na nossa cidade. Se vejo um cachorro ou um gato que precisa de um resgate, nós levamos para a clínica. Antes, nós conseguimos um lar provisório”.
Para ajudar no pagamento da dívida deste mês, parceiros da Associação estão promovendo um luau. O evento acontece nesta sexta-feira, 22, no Parque das Acácias, a partir das 20h. A animação fica por conta das bandas Capuccino Jack, Zoo Humanos, Caligari, Os Descordantes, Osllo, Euphônicos e DJ Lucas Marchi.
Durante o ‘Luau no Beco’ vai rolar doses de cachaça, tequila, apresentação de malabares, slackline, entre outros. Os ingressos estão à venda na Discardo. O valor é R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia entrada). Mais informações através do telefone 9903-5798.
Os interessados em fazer doações em dinheiro podem depositar no Banco do Brasil, Agência: 5790-8 – Cc: 6304-5. Associação Amor a Quatro Patas; CNJP: 18.956.679/0001-52. Além disso, a clínica veterinária PetiGatô é ponto de entrega de doações de ração, roupas, sapatos e acessórios para os bazares semanais.
Membro do grupo, Larissa Macêdo, de 26 anos, reforça a importância de doar e colaborar com o trabalho da Sociedade Amor a Quatro Patas. “São coisas que até emocionam a gente. São seres indefesos, que só tem a gente para lutar por eles. Não tem como você ver um ser indefeso precisando de ajuda e você não fazer nada”, falou emocionada.
De lar provisório a definitivo
Diariamente animais são resgatados e encaminhados para clínicas veterinárias. Eles precisam de um lar provisório até estar totalmente recuperados e aptos para a adoção. A história do cachorro Thor, com seu atual dono, o funcionário público André Barrozo, começou mais ou menos assim.
Abandonado durante a enchente histórica que atingiu o Acre em 2015, Thor foi resgatado pela Associação e precisava de um lar provisório. André ofereceu sua casa para o cachorro ficar durante um período, se apegou ao animal e acabou adotando. Membro do grupo há 8 meses, ele conta que sempre disponibiliza lar provisório.
“Me apeguei muito a ele. Foi especial pela forma como ele foi resgatado. Ele estava muito debilitado e com uma doença de pele, que ainda estamos tratando junto com a Sociedade”, revelou o funcionário público.
De acordo com André, o lar provisório funciona como uma reabilitação. Somente após estar recuperado o animal pode ser adotado. Atualmente, além dos dois cachorros de estimação que possui, o funcionário está com um animal em recuperação há aproximadamente um mês.
“Qualquer pessoa pode oferecer lar provisório. A Sociedade dá todo o apoio, medicamento, reabilitação, entre outros. É um trabalho gratificante, você pegar um cachorro ‘pelado’, conseguir cuidar dele e ver ele se recuperar e em um lar é muito gratificante”, garantiu André.
Para o funcionário público, a Sociedade atua como defensora do direito dos animais em Rio Branco. “Para ajudar pessoas já tem muita gente. Animais, não. Diariamente você vê animais abandonados, não tem ninguém por eles, e é aí que entra o trabalho das ONG’s. Além de ser um trabalho que está ligado à saúde pública”.
Apesar de gostar de animais desde a infância, André passou quase dois anos sem ter nenhum animal de estimação. A perda de um cachorro que o acompanhou por vários anos fez com que ele ficasse traumatizado. Somente após o período de luto, o funcionário público abriu espaço na sua vida e na sua casa para novos cachorros. “Ele morreu de velhice e eu fiquei um pouco traumatizado com a perda”.
Abandono de animais no Brasil
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existam mais de 30 milhões de animais abandonados no Brasil, entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Em cidades populosas, para cada cinco habitantes há um cachorro. Destes, 10% são abandonados. Em cidades menores a situação não é muito diferente. A OMS diz que o numero de casos chega a ¼ da população humana.
Com os números, vale a reflexão: será que o homem é o único ser que agride sem ser ameaçado? Que abandona sem motivo? Que maltrata sem justificativa?