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Morte de padre Paolino Baldassari comove Acre

 A morte do padre Paolino Baldassari, reconhecido por seu trabalho junto com as comunidades ribeirinhas no interior do Acre, por sua coragem e fé, comoveu fiéis, admiradores e autoridades. Após ser velado por algumas horas na Catedral Nossa Senhora de Nazaré, em Rio Branco, o corpo de líder religioso foi levado para Sena Madureira, onde será velado neste domingo, 10, e enterrado na manhã de segunda-feira, 11.

O corpo do padre será sepultado numa capela que começou a ser construída neste sábado, 09, atrás da igreja Nossa Senhora da Conceição, em Sena Madureira. No local, os fiéis poderão visitar diariamente o lugar que guardará o corpo de Paolino Baldassari.

Tido como exemplo de solidariedade, dedicação e amor ao próximo, Paolino era conhecido por suas inúmeras ‘desobrigas’ (serviço que levava aos ribeirinhos e indígenas dos rios da região de Sena Madureira, atendimento de saúde, ações humanitárias, além da missão religiosa).

As pessoas mais próximas, do religioso dizem que o sonho dele era ser enterrado no meio da floresta, lugar onde sempre atuou como missionário. Mas, ficou decidido que ele seria sepultado na própria igreja que ele construiu e liderou por quase 50 anos.

Na missa de corpo presente, realizada em Rio Branco, no sábado, 09, o governador Tião Viana, que era amigo do padre, esteve presente por toda a cerimônia. “Tivemos uma ampla convivência. Um grande amigo de todas as horas. Eu acho que frei Paulino traduz o sentimento de cristão pleno. A madre Teresa de Calcutá uma vez disse que ‘mais valem as mãos que ajudam do que os lábios que rezam’, e o padre Paolino não só exercia a misericórdia todos os dias com suas mãos, como era um homem de profundas orações”.

Padre Baldassari aos 90 anos morreu na sexta-feira, 8, após 11 dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), onde estava internado desde o dia 28 de março.

Depoimentos

O senador Jorge Viana lembrou que o padre Paolino foi uma figura humana extraordinária, um verdadeiro santo homem, lutava pela vida. O começo da vida missionária de Paolino foi em Brasileia, no Icuriã, na cabeceira do Iaco, em Sena. “Eu, particularmente, tive o privilégio da sua amizade, dos seus ensinamentos e do seu exemplo. Queria nesta hora que ele nos deixa, agradecer pelo exemplo de vida dedicada aos que não sabem, os que não podem e os que não têm”, disse Jorge Viana.

O senador Gladson Cameli, também lamentou a morte do religioso. “O Acre chora a morte de padre Paolino Baldassari. Conhecido além das fronteiras como o “Santo do Iaco”, não somente pela vida dedicada ao Evangelho como um dos líderes da Igreja Católica de Sena Madureira, mas pelo extremo amor e dedicação aos povos indígenas, ribeirinhos, enfermos e a todos que estiveram em suas mãos, independente da necessidade física, psicológica ou espiritual”, disse.

O presidente da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), deputado estadual Ney Amorim, em nome do Poder Legislativo, manifestou profundo pesar pelo falecimento de Baldassari.

“Frei Paolino escolheu viver no Acre, onde durante décadas se dedicou à população, sendo exemplo de doação e amor ao próximo.  Ele deixa a todos nós, uma verdadeira lição de serviço aos mais necessitados.  Que Deus possa confortar seus familiares, amigos e toda comunidade católica do Acre.  Perdemos um homem que soube servir a Deus e ao próximo com amor e dedicação”, disse o parlamentar.

O Procurador-Geral, em exercício, do Ministério Público do Acre, Carlos Roberto da Silva Maia, por meio de nota ressaltou que o padre era colecionador de muitos títulos e prêmios. Em julho de 2015, o religioso foi homenageado pelo MPAC quando recebeu a Comenda do Cinquentenário, instituída por ocasião dos 50 anos da Instituição, em 2013, ainda na gestão da procuradora Patrícia Rêgo. A homenagem foi feita a ele como forma de reconhecimento pela contribuição para o engrandecimento do Ministério Público acreano.

Prefeito Mano Rufino decreta luto de quatro dias

O prefeito de Sena Madureira, Mano Rufino, decretou luto oficial de quatro dias pela morte do padre Paolino. O prefeito bastante abalado, também, lamentou a perda do religioso que ele considera irreparável.

“Toda a nossa população está comovida. O padre Paolino é dono de uma fascinante história. Ele dedicou sua vida aos pobres, brigou pra levar educação aos ribeirinhos, enfim, deixa seu nome eternizado na história de Sena Madureira”, ressaltou.

O pastor Agostinho, da Igreja Batista do Bosque, falou do respeito que tinha pelo padre. “Independente de Religião, reconheço o seu trabalho, reconheço sua dedicação em favor de milhares e milhares de pessoas que receberam sua atenção e amor como religioso. Que Deus conforte sua família e os fiéis da sua comunidade de fé”.

Histórias do padre

Padre Massimo Lombardi destacou que a vida de padre Paolino foi dedicada a “seu povo”, o povo acreano, nas paróquias de Brasileia, Boca do Acre, e principalmente Sena Madureira. “Profeta das selvas, seringueiro de Deus. Frágil, mas de uma força de espírito impressionante. Com ele se tinha a experiência do que significava uma vida que jorra de dentro e que revitalizava o corpo fraco”.

Nas suas viagens constantes pelos rios Purus, Iaco, Caeté, Macauã e outros, dava a todos o conforto espiritual e o material. Além dos sacramentos que administrava com total dedicação e espírito missionário, seus remédios caseiros, suas receitas, suas orientações, seus cuidados, salvaram muitas vidas e deram vida em abundância para muitos que a tinham diminuído.

Pe. Paolino foi sempre um defensor ardente da preservação da floresta amazônica, incansável em suas denúncias sobre a exploração ilegal da madeira. Para os atuais e futuros médicos, Pe. Paolino ofereceu uma lição de humildade e sabedoria: “Amem os doentes, sejam misericordiosos com os doentes. A felicidade de um médico é poder atender uma pessoa pobre. A grande recompensa de um médico é a satisfação de ter atendido seu semelhante”.

A Gazeta do Acre: