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No Acre, produção de café continua aumentando; mercado pode expandir até 70%

 A cafeicultura no Acre não para de crescer. Desde 2013, o Programa Fortalecimento da Cafeicultura, atualmente sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Agropecuária (Seap), beneficiou mais de 570 famílias em todo o estado. A expectativa é que este ano, a colheita proporcione quase 29 mil sacas de café.

De acordo com o coordenador do programa, Rômulo Brando, o estado possui três grandes produtores de café, Acrelândia, Manoel Urbano e Sena Madureira. No total, são cerca de 2 mil hectares de cultivo, que equivalem a aproximadamente 1 milhão de pés de café plantados.

“Hoje o programa de café vem agregando o que se tem de mais alta tecnologia. O cultivar do café, da capacidade produtiva, da resistência da planta a infestações de doenças e pragas. Hoje, a própria planta tem um padrão tecnológico avançado, assim como a soja, o milho e etc”, explicou Brando.

Brando diz que o consumo de café que vem de outros estados corresponde a 80%. Já a produção regional apresenta um déficit em relação ao consumo interno, pois a colheita do produtor ainda não atende toda a demanda o estado. Você sabia que o Acre possui 19 indústrias de café e 23 marcas acreanas do produtos?

“Esse ano esperamos contabilizar 28.900 sacas. Para as indústrias do Acre, competir em qualidade e quantidade com as de fora, nós precisamos contabilizar 80 mil sacas. Nós temos uma expansão de mercado próximo a 70%. Esse é um cenário excelente para o produtor com perfil de cafeicultor”, afirmou o coordenador.

Mas, se a planta é de qualidade e o cenário é favorável, o que falta para o Acre alcançar a autossuficiência? Apesar do crescimento, o coordenador explica ainda que, culturalmente, os produtores acreanos esperam incentivos do governo, diferente do que acontece em outros estados. Com o atual cenário econômico, e com repasses reduzidos, o fomento por parte do governo também é afetado.

“Nós temos muitos produtores com esse perfil de cafeicultor. Mas nós precisamos do fomento do governo para que tenhamos uma ponte de indução junto a essas famílias. O custo de implantar lavoura não é barato”, esclareceu Brando.

Seap aponta que ao todo 570 famílias participam diretamente do cultivo de café no Acre
Uma das 23 marcas de café que utilizam o café produzido no Acre

Produção de alta tecnologia

Com a produção de alta tecnologia, com mudas de café ‘clonal’, o pequeno agricultor consegue ter em três hectares de plantio uma plantação equivalente a 15 hectares. Hoje, um hectare produz 80 sacas de café. No sistema tradicional de plantio, a mesma quantidade de terra produzia 15 sacas do produto.

Mas, qual o significado de produção de alta tecnologia? Rômulo explica que são plantas com capacidade de alta produção, resistentes a pragas e doenças, resistentes a intempéries climáticas, entre outros aspectos.

“A alta tecnologia não é só na planta, ela precisa também ser alimentada (adubada). O manejo também tem que ser técnico, e nós oferecemos esse apoio. Precisamos casar as condições da planta, com o manejo para ter uma boa produção”, acrescentou o coordenador.

Outra vantagem desse tipo de muda é que ela são conefas, ou seja, adaptadas a região amazônica. Além disso, o plantio desse café pode ser consorciado, o que significa que grão pode dividir a mesma lavoura com plantações de banana, mamão e etc. Fato este que evita o desmate e favorece ao desenvolvimento sustentável.

Romulo aponta que um hectare produz 80 sacas de café

Cultivo de café desde 1940

O secretário de agropecuária do estado, José Reis, recorda que alguns relatos apontam para o cultivo de café na região do Juruá, em Mâncio Lima, por volta de 1940. “Algumas pessoas lá atrás, já pensava em café no Acre, mesmo que como uma forma de subsistência”.

Entre 2002 e 2006, durante o segundo mandato do governador do Estado, Jorge Viana, um programa de resgate da cafeicultura possibilitou o plantio de aproximadamente 5 mil hectares de café. Mas, uma seca severa e a queda brusca no valor do produto fez com que muitos produtores abandonassem a cafeicultura.

“Depois de 2005, diminuiu de 5 mil hectares para 1.500. Então, quando eu assumi a Secretaria de Pequenos Negócios em 2013, comecei a notar que tínhamos alguns centros com vocação para esse plantio como Acrelândia e Manoel Urbano. Nós percebemos que o Acre tinha muita dependência  de café, comprávamos cerca de 70% do café de fora”, lembrou Reis.

Segundo o secretário, em 2013, em parceria com a Embrapa o Estado produziu 400 mil mudas. Daí por diante, outros programas de incentivo distribuíram mudas de café entre os produtores.

“Um dos fatores que limita a produção do café, é que a mão-de-obra é estritamente familiar. O processo é muito manual, uma família com três pessoas não pode ter mais que 4 hectares. Então, quando pensamos em expansão precisamos olhar para a mão-de-obra”, falou Reis.

Cultivo de café no Acre existia em 1940, no Juruá

“Acre tem clima e solo favorável para o plantio de café”, aponta a engenheira agrônoma, Michelma Lima.

Michelma Lima afirma que os produtores recebem as mudas de café, orientação técnica sobre o plantio e como ter uma boa produção

Após um estudo de mercado constatar que 70% do café beneficiado no Acre vinha de fora, foi cogitado a possibilidade de uma produção local. Durante a pesquisa, foram identificadas algumas iniciativas de produtores acreanos. Segundo a engenheira agrônoma, Michelma Lima, apesar do modo rudimentar, a plantação de café parecia promissora.

Foi com aí que com acompanhamento técnico e grãos selecionados que o cultivo de café disparou no Alto Acre. Michelma aponta que todo o Estado tem potencial para a produção, mas a região de Brasileia, Epitaciolândia, Acrelandia e Assis Brasil tem se desenvolvido mais.

“O município de Manoel Urbano também se destaca pela produção. Lá está instalado uma secadora e uma descascadora de café que ajuda na valorização do produto. Trata-se de investimentos de R$ 200 mil. O café produzido no Acre é o tipo conilon”, confirmou Michelma, que atua na Secretaria Estadual de Agricultura e Pecuária (Seap).

Em Assis Brasil, foram escoados mais de 36,5 toneladas de café em coco (com casca) durante o ano de 2015. Para este ano, a previsão é de crescimento da produção, já que os produtores estão recebendo acompanhamento técnico e os tratos culturais necessários para o bom desenvolvimento da lavoura.

Produtores recebem as mudas, orientação sobre o plantio e capacitação sobre as técnicas necessárias para uma boa produção, como por exemplo, o envergamento de mudas. “A técnica é simples, mas tem se mostrado bastante eficaz. Com o processo é possível aumentar em até cinco vezes a produtividade de cada pé de café. Se recomenda aplicar essa técnica entre 90 a 120 dias após o plantio da muda. E consiste em envergar a muda utilizando um gancho feito de bambu ou de arame liso. A planta fica envergada durante 40 dias. Depois desse período percebemos a presença de novas hastes, passando de um para quatro ou cincos pés de café”, detalhou a engenheira agrônoma.

Na região Norte, o estado de Rondônia é o maior produtor de café, com cerca de 156 mil hectares plantados em 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com Michelma ao todo são 725 hectares de produção. Outro cuidado da Seap para aumentar a produtividade dos agricultores é fazendo a análise de solo. Com os resultados, a equipe da secretaria volta à área rural para aplicar os nutrientes necessários para corrigir o solo e garantir maior produtividade.

Entre 2013 e 2015, a Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária (Seap) somou recursos da ordem de mais de R$ 2,8 milhões de investimentos nesse setor, incluindo recursos do banco alemão KfW.

Equipes da Seap avaliam o solo para confirmar potencial da produção de café
Relação é de parceria entre Seap e os produtores, aponta Michelma Lima
Informações técnicas ajudam a evitar pragas e desperdício na produção de café

Números do cultivo de café nos municípios acreanos

*O município de Brasiléia é o segundo maior produtor de café do Estado, segundo dados do IBGE 2014 o município produziu 182 toneladas de café. Os municípios do Alto Acre possuem aptidões edafoclimaticas favoráveis para o cultivo da cafeicultura.

*O município de Acrelândia é o polo cafeeiro do Estado, segundo dados do IBGE 2014 foram 1280 toneladas. Devido essa elevada produção, o governo irá instalar um secador e descascador de café no município, para agregar qualidade e valor no produto.

*Assis Brasil produziu no ano passado segundo dados do IBGE 35 toneladas de café. O município apresenta aptidões edafoclimáticas favorável para desenvolvimento da cultura cafeeira. Para a colheita de 2016/2017 será instalado no município um secador e descascador de café para agregar valor ao produto final.

*Manoel Urbano é o terceiro maior produtor de Café do Estado. Segundo dados do IBGE 2014 foram produzidas 127 toneladas. Ressaltando que em 2013 o governo do estado através da Secretaria de pequenos negócios fez a entrega de um secador e descascador para os produtores rurais. Um investimento de 200 mil reais que causa uma revolução na vida desses produtores. Uma saca de café que antes era vendida de R$ 80 passou a ser comercializada por R$220.

Polo cafeeiro do Acre é Acrelândia, seguido de Brasileia

 

A Gazeta do Acre: