Pediatra afirma que crianças precisam brincar mais ao ar livre
BRENNA AMÂNCIO
Com o avanço da tecnologia, atualmente, as crianças já nascem dentro de um mundo da era digital. Os brinquedos são cheios de botões e cores. Para os jogos não é nem preciso sair de casa. E, assim, as brincadeiras tradicionais vão ficando de escanteio. Para os pais, tudo bem, afinal, lá fora, na rua, a violência tem aumentado e assusta o fato de terem seus filhos expostos à violência cotidiana.
Mas até que ponto isso pode ser considerado saudável?
O pediatra Guilherme Pulici atenta para a interação social das crianças, que está sendo deixada de lado, algo que afetará no futuro delas.
“A criança fica muito tempo dentro de casa, interage pouco com outras crianças da mesma faixa etária e com o meio ambiente. Como as crianças, hoje, ficam em ambientes mais fechados, confinados, temos visto um aumento de doenças alérgicas. Renite, sinusite e asma são as principais doenças que estão relacionadas ao ácaro, que é um agente domiciliar. Ele fica dentro de um ambiente fechado, mal ventilado, mal iluminado”, aponta.
Além das doenças alérgicas causadas por quem fica muito tempo dentro de ambientes fechados, há também o problema da coordenação motora, que pode ser afetada por movimentos repetitivos, casados pela digitação, por exemplo.
No entanto, diante disso, Pulici faz uma ressalva e destaca um ponto positivo nessa era digital para a vida dos pequenos, que é a parte cognitiva. “Isso tem desenvolvido outro lado que a gente não via antes que é o matemático, o raciocínio rápido. No entanto, creio que a interação social é algo que ainda faz muita falta, que é o lance da criança brincar de amarelinha, de pular corda, de esconde-esconde, pega-pega. A gente não vê mais isso”.
Pulici se lembra da boa infância que teve. Parte dela se deve aos amigos da rua e às brincadeiras ao ar livre.
“Eu jogava muita bola, fazíamos carrinho de rolimã. Na rua onde eu morava, em São Paulo, havia uma ladeirinha. Construíamos os carrinhos de rolimã e brincávamos de corrida. A gente conhecia bem os vizinhos, pois havia uma boa interação”, recorda.
Hoje, Pulici admite que é incomum ver uma cena parecida como essa na cidade. “Quando encontramos crianças que ainda brincam à moda antiga, é em parques, condomínios fechados, talvez um reflexo da violência atual. Os pais podem estar com medo de deixar as crianças mais soltas, fora de casa. Hoje a gente não conhece o nosso vizinho, não conhece ninguém”.
Outra preocupação no comportamento causado pela era da tecnologia é o sedentarismo, que resulta na falta de atividade. Dentro de casa, em um ambiente fechado, a criançada se diverte com jogos eletrônicos. Isso pode causar doenças metabólicas como a obesidade e a pressão arterial, coisas que parecem problema de gente grande. “Tenho bastante pacientes que sofrem de obesidade e alguns poucos que já possuem problema de pressão arterial. Por muitos anos se acreditou que a hipertensão era uma doença só do adulto. Com o aumento do consumo dos alimentos enlatados, embutidos, que são ricos em sódio, o índice de problemas de pressão arterial tem surgido mais precocemente”.
Brincar em ambientes fechados também leva as pessoas a forçarem mais a vista. Segundo o pediatra, ao ar livre a visão fica acomodada e se percebe um conforto. “Uma coisa que a minha oftalmologista sempre falou foi se você quer descansar a sua vista olhe para o horizonte, bem distante”.
A orientação do pediatra é para que os pais, caso não possuam espaço no quintal de casa, procurem levar as crianças até parques, ambientes mais abertos, que elas possam interagir com outras crianças. “Seria bom que elas também utilizassem brinquedos antigos como gangorra, balanço, correr, para mexer a parte óssea muscular. Além disso, ter certa exposição ao sol, claro, com moderação, no horário correto e com proteção adequada. Isso é bom não só para a parte física, mas para a psíquica também”.
Quem fica muito tempo dentro de casa e realiza pouca atividade física, a indicação é procurar consumir alimentos mais saudáveis como frutas, fibras e evitar o sódio. Ao adquirir o produto, deve-se ficar atento na quantidade de sal e de conservantes que ele detém.
O pediatra destaca dados da Organização Mundial de Saúde que mostram aumento na incidência das doenças psiquiátricas. “Precisamos nos questionar até que ponto essa mudança no dia a dia das crianças tem participação nisso. É claro que tem o estresse do cotidiano, e, em grandes centros, há o lance do trânsito, a quantidade de informação que a gente recebe… Li um estudo outro dia que mostra que uma criança de 5 anos de idade tem mais informação do que tinha um imperador romano”.
Deixar de ter brincadeiras mais tradicionais na infância para se aventurar, exclusivamente, no mundo digital, pode afetar no relacionamento conjugal, aponta Pulici. Talvez, interfira até na interação com os filhos, no futuro.
O ideal é procurar o equilíbrio. Fazer isso é garantir que a criança terá a criatividade instigada, obterá mais autonomia, irá se relacionar melhor com as pessoas, além de ser um motivo de união familiar. “Não digo para deixar totalmente de lado os brinquedos eletrônicos. Mas é importante que a criança tenha também momentos para brincar ao ar livre”.
Na era tecnológica, escola reforça a importância das brincadeiras
BRUNA LOPES
Cada vez mais cedo a tecnologia é apresentada as crianças, seja pela televisão ou pelo tablet que abre um leque de possibilidades entre jogos e vídeos. Experiências vividas muitas vezes de forma solitária e individuais, não permitindo que outros sentidos da criança sejam desenvolvidos e aperfeiçoados. Se os pais em casa não impõem limites e controle sobre o tempo dos filhos, na escola brincar é a matéria principal.
Pelo menos é assim, na escola, Terezinha Kalume, apontou a diretora Silvana Chaves. “Por seremos uma escola de ensino infantil. As brincadeiras em grupo ocupam a maior parte do tempo em que os mais de 310 alunos estão na escola. Procuramos preservar as brincadeiras que incentivam o desenvolvimento da linguagem, a tolerância, capacidade de se colocar no lugar do outro e, principalmente, o trabalho em conjunto e o desenvolvimento social”, destacou.
Os pais dos alunos sabem que não podem levar a criança para a escola com qualquer artigo eletrônico “Tentamos manter nossa equipe sempre em constantes formações que preparam para o dia a dia na escola”, detalhou Silvana.
A coordenadora pedagógica de uma escola de ensino fundamental, Janaira Souza, destacou que para se divertir, a criança de hoje precisa muitas vezes apenas pressionar um botão. Os amigos estão longe, as relações são virtuais, e o toque, o contato, a imaginação e as relações interpessoais estão se perdendo.
“Há pelo menos 30 anos, as crianças eram mais tranquilas, viviam realmente a infância. Hoje, elas tendem ao individualismo, são mais competitivas. Apesar da resistência dos alunos em deixar o mundo virtual, quando a brincadeira é desenvolvida eles atendem as expectativas”, analisa.
Os avanços tecnológicos geram uma troca, em termos de qualidade, entre o real e o virtual, apresentando às crianças um mundo dúbio.
“Muitas crianças até já conhecem as brincadeiras, pois existem famílias que se preocupam em preservá-las, mas mesmo quem não conhecia, adorou. Elas demonstraram entusiasmo de poder entender como os avós e pais brincavam”, relatou Janaira.
Além do projeto onde os alunos trazem os pais para brincar na escola do jeito de sua época, o colégio tenta resgatar as brincadeiras diariamente no recreio. As mais lembradas e já incorporadas pelos alunos são as de corda, jogar bola e amarelinha.
A era da tecnologia nas lojas de brinquedos
Mas uma coisa é certa: não há como ignorar a tecnologia nos brinquedos. Apesar das críticas de que esse tipo de brincadeira privilegia a individualidade e a falta de interação, não são só malefícios que chegam com computadores e tablets.
Inclusive, muitas brincadeiras antigas acabam tendo suas versões modernas nos brinquedos tecnológicos, geralmente em jogos.
Equilíbrio de dois tempos
Tanto a tecnologia atual, quanto a tradição antiga trazem aprendizado quando utilizadas nas brincadeiras dos alunos. O segredo é o equilíbrio entre os dois tempos. É o que acredita Janaira Souza.
“Equilíbrio é a palavra de ordem. Com a mediação dos professores é possível misturar os dois mundos. Existe um tempo para ficar no laboratório de informática, nas lousas inteligentes e tablets, e outro do pátio, do parquinho”, explicou.
Seja antiga ou tecnológica, a importância da brincadeira como um ato social. “As escolas precisam ter espaços livres e precisam voltar a pensar na coletividade. O ato de brincar é social, precisa ser ensinado e vivenciado com o outro. As brincadeiras antigas valorizam o contato, o abraço, o outro, humanizam. Não quer dizer que não devamos aceitar brincadeiras com tecnologia, elas têm o seu papel, mas vivemos em um mundo em que muitas culturas se misturam, podemos sim absorver o novo e reviver o que existiu de bom ao mesmo tempo”, destacou o professor de Educação Física, Francisco Silva.
Habilidades desenvolvidas pelas brincadeiras
Liderança
Brincadeiras: Meu Mestre Mandou e Cabo de Guerra
Benefícios: fazem a criança se sentir mais confiante
Força
Brincadeiras: Cabo de Guerra e Pula-sela
Benefícios: melhoram o desempenho físico
Equilíbrio
Brincadeiras: Cabo de Guerra e Cabra-cega
Benefícios: ensinam a controlar bem o próprio corpo
Controle da ansiedade
Brincadeiras: Batata Quente e Passa-anel
Benefícios: mostram a importância de se manter a calma
Memória e imaginação
Gato Mia
Benefícios: trabalham a capacidade de inventar coisas
Reflexão estratégica
Brincadeiras: Cabo de Guerra e Esconde-esconde
Benefícios: ensinam a calcular riscos na hora de tomar decisões
Confiança
Brincadeiras: Cabra-cega e Gato Mia
Benefícios: fazem a criança botar mais fé em si mesma
Trabalho em equipe
Brincadeiras: Cirandinha e Cabo de Guerra
Benefícios: demonstram o valor da cooperação
Domínio das emoções
Brincadeiras: Gato Mia e Esconde-esconde
Benefícios: provam quanto é importante ser menos impulsivo
Coordenação motora
Brincadeiras: Batata Quente e Cabra-cega
Benefícios: estimulam movimentos mais harmoniosos
Algumas opções de brincadeiras para crianças de todas as idades
Pular corda
Existem várias modalidades para essa brincadeira, onde as crianças seguem o que é dito pela música. Uma das canções mais clássicas é “Um homem bateu em minha porta e eu abri. Senhoras e senhores ponham a mão no chão. Senhoras e senhores pulem num pé só. Senhoras e senhores deem uma rodadinha e vá pro olho da rua (quando a criança tem que sair da corda sem encostar nela)!”
Bambolê
Aquele círculo colorido de plástico tem o poder de divertir por um bom tempo crianças de todas as idades, até mesmo as menores que não conseguem girar bem o aro. Na cintura, com movimentos do quadril, nos pulsos ou pescoço, o bambolê vai ensina muito sobre o corpo às crianças.
Amarelinha
Uma brincadeira fácil e que envolve diversos aprendizados. Com um giz de cera ou pedaço de carvão, desenha-se a amarelinha no chão. As casas são numeradas e o “céu” pode ser colorido. Passar por todo o trajeto da amarelinha vai exigir das crianças muito equilíbrio e coordenação motora.
Bobinho
É necessária uma bola e ao menos três pessoas. Uma criança será o bobinho e tem que conseguir pegar a bola enquanto os outros a jogam entre si. Quem jogar e tiver a bola apreendida pelo bobinho será o bobinho da vez.
Cirandas
São muitas músicas, cada uma com sua origem cultural e com movimentos diferentes que devem ser seguidos pelas crianças. “Brincadeiras cantadas, mesmo sem o uso de mate-riais, desenvolvem a criatividade, o raciocínio, a memória, a percepção musical, a coordenação motora ampla e favorecem a interação e a sociabilidade”, acrescenta a coordenadora pedagógica, Janaira Souza.
Massinha
A massa de modelar estimula a criatividade de forma simples e divertida. Quanto mais cores, maior será o interesse da criança de criar diferentes formas e objetos. É indicado para qualquer idade, irá estimular a capacidade de criação e exercitar os movimentos mais detalhados dos dedos.
Forca
A criança escolhe uma palavra e a representa no papel apenas com risquinhos correspondentes a cada letra. A outra pessoa tenta adivinhar a palavra ‘chutando’ uma letra de cada vez. A cada erro, um pedaço de um boneco aparece na forca até ser totalmente completo ou a palavra ser descoberta.
Mímica
Essa brincadeira pode ser feita em qualquer lugar. Uma criança sozinha ou em grupo decide por um objeto, animal, filme ou qualquer outra coisa que será encenada e anotará em um papel. O outro grupo de crianças tem que adivinhar a palavra escolhida.
Pular carniça
As crianças se posicionam em fileiras, agachadas apoiando as mãos no joelho. Uma a uma, as crianças vão pulando pelas costas dos amigos e voltando à posição inicial logo à frente.
Esconde-esconde
Umas das brincadeiras mais famosas de todos os tempos, o pique-esconde é indicado para todas as idades. Uma criança conta até 10 enquanto os outros amigos se escondem.
Escravos de Jó
Cantiga aparecendo sob a forma de jogo ou passeio (ver esta última modalidade na categoria correspondente). A música é a mesma. Crianças sentadas no chão em círculo ou ao redor de uma mesa; um objeto (pedrinha, caixa de fósforos ou sementes). As crianças vão entoando a cantiga, marcando os tempos fortes; passam o objeto de uma para outra, no sentido dos ponteiros do relógio. Somente na parte onde dizem zique – zá o objeto é passado na direção contrária, retornando-se, logo a seguir, à primeira direção contrária, retornando-se, logo a seguir, à primeira direção. Quem erra cai fora. Os últimos dois serão os vencedores. Música: Escravos de Jó/Jogavam Caximbó/Tira, bota/Deixa o Zé Pereira Que se vá/Guerreiros com guerreiros/Fazem zigue – zigue zá.
Dança da cadeira
Colocam-se cadeiras em círculo, cada participante senta-se, sendo que uma criança é destacada para dirigir o jogo, este deve estar vendado. O dirigente da brincadeira grita: já! Todos levantam e andam em roda das cadeiras. O dirigente retira uma cadeira. À voz de já!, todos procuram sentar. Quem ficar sem lugar comandará a nova volta. Assim, as cadeiras vão sendo retiradas e o grupo vai diminuindo. Será o vencedor aquele que conseguir sentar na cadeira no último comando.
Mães resgatam brincadeiras da infância e incentivam filhos a brincar ao ar livre
BRUNA MELLO
Pular corda ou amarelinha, fazer comidinha de barro, brincar de futebol na rua, de “esconde-esconde” ou soltar pipa. As brincadeiras que reúnem várias crianças na rua perto de casa, no parque, na chácara ou no quintal de casa são inúmeras. Porém, com a popularização da tecnologia, as brincadeiras tradicionais aos poucos estão desaparecendo.
É fato que, hoje, as crianças tendem a ficar em casa em seus momentos de lazer, e cada vez mais prefiram se divertir com videogames, computadores ou smartphone. Por um lado, o uso da tecnologia pelas crianças é benéfico, pois elas tem acesso a informação, conhecimento e entretenimento. Mas, por outro lado, o uso de celular, computador e outros aparelhos eletrônicos, exercita menos o corpo e a mente.
A mãe e enfermeira, Andreia Rodrigues, de 38 anos, conta que as melhores lembranças que tem da infância são as brincadeiras ao ar livre, convívio com os bisavós e amizades. Natural de Ji-Paraná (RO), ela cresceu brincando com terra, na rua e tomando banho de rio.
“Acredito que me transformei em alguém que sabe dar valor a simplicidade, a natureza e tudo que nos cerca. As brincadeiras na época só fortificavam os vínculos de amizade, quem me conhece sabe que hoje sou uma pessoa que valoriza muito os amigos e que procura manter o respeito e carinho por cada um”, disse a enfermeira.
Hoje, Andreia é mãe de duas meninas, Sofia, de 9 anos, e Cecília, de 5 anos de idade. Quando o compromisso da maternidade chegou, os pais não pensaram duas vezes e assumiram a responsabilidade de resgatar as brincadeiras da infância, na tentativa de estimular as crianças a ver e sentir o mundo de outra forma.
A mãe explica que as filhas tem acesso à internet, televisão, celular, entre outros. Porém, é estipulado um horário e tempo máximo de uso. “Vejo que hoje em determinados momentos caímos nesse relapso e deixamos nossos filhos passar tempo demais em frente à TV ou tablet, ou qualquer outro veículo semelhante. Às vezes utilizamos como válvulas de escape por conta da correria diária. Mas, no tocante às minhas filhas procuro evitar ao máximo”.
Qualquer oportunidade de aproveitar a natureza fazendo passeios, por exemplo, no parque do Tucumã, ou banho de piscina, ou ainda criar brinquedos reciclados, é bem-vinda pela família. Mas, por que o contato com a natureza e brincadeiras ao ar livre é considerado importante por Andreia?
“Desejamos que nossas filhas sejam felizes e livres, que não se tornem oprimidas e escravas da televisão e internet. Claro que não estamos educando nossas filhas para serem ignorantes quanto a evolução, mas aprender a conviver com equilíbrio e valorizando o que a cercam”, relatou a mãe.
Apesar de estimular brincadeiras que não utilizem tecnologia, Andreia admite que o contato com a internet, por exemplo, é importante. “Pois auxiliam em algumas informações e com as pesquisas escolares, mas com uso de forma limitado e supervisionados”.
Com relação às crianças do futuro, a mãe acredita que ainda está em tempo de resgatar meninas e meninos para viverem de acordo com sua idade. Para ela, o uso excessivo de celular e internet, cria uma barreira entre a família. “Podemos passar mais tempo com nossas crianças e ensiná-las a viver de forma mais natural e saudável”, concluiu Andreia.
“Crianças criadas com afeto certamente serão melhores pessoas para o futuro”, diz Nany Damasceno
A infância da jornalista Nany Damasceno, de 28 anos, não foi muito diferente de Andreia. Ela cresceu em contato com a natureza. O quintal da casa onde morava com os pais era denominado por Nany como uma floresta.
“Nós tínhamos pé de jambo, goiaba, cupuaçu, acerola, manga, caju, criávamos cachorros, galinha e uma tartaruga. Eu passava a tarde inteira brincando no quintal, que na minha visão de criança, era uma floresta”, recordou.
Em contrapartida, o marido, Thiago Cabral, teve uma infância completamente diferente de Nany. Nasceu em uma metrópole e morou por muito tempo em apartamento. “Ele sempre quis ter tido oportunidades de brincadeiras ao ar livre”.
Apesar da criação do casal ter sido oposta, os dois acreditam na mesma filosofia: liberdade e felicidade. O filho do casal, Bento, de 2 anos, tem uma infância muito parecida com a da mãe. Mesmo morando em um apartamento, ele passa a maior parte do dia na casa da avó, em contato com animais de estimação e a natureza.
“Sou defensora que uma criança precisa ser tratada como uma: correr, brincar e não ter problemas, brincar com terra. Ver nessas coisas simples a felicidade. Ele ama brincar na areia e eu sou muito feliz que ele tenha essas oportunidades que estão tão distantes de muitas crianças”, acrescentou Nany.
Durante a gravidez, a jornalista dizia que o filho não seria o tipo de criança conectada o dia inteiro a internet. Depois que Bento nasceu, Nany percebeu que as coisas não funcionam dessa forma.
Hoje, ela pensa diferente: “Acredito que depende de como a criança utiliza as tecnologias. Baixamos jogos educativos e aos dois anos ele já sabia contar em inglês até 10. Ele sabe todas as cores e formas geométricas que aprendeu através desses jogos”.
Agora, a jornalista acredita que tudo é questão de equilíbrio. Bento tem acesso à tecnologia, mas não troca uma tarde de brincadeiras na areia por um joguinho de celular. “Não podemos fingir que as coisas permaneceram iguais ao que eram 20 anos atrás. Precisamos nos adaptar às novas tecnologias e usar ao nosso favor. É possível encontrar um meio saudável para as crianças usá-las”, afirmou a mãe.
Pesquisadores acreditam que as brincadeiras de criança ao ar livre caminham para a extinção. A mãe de Bento não acredita nessa hipótese. Para ela, sempre haverá alguém que valoriza e que busca resgatar essas oportunidades de brincar.
“Antes de investir em tecnologia de ponta, temos que investir nosso tempo com eles, crianças criadas com afeto certamente serão melhores pessoas para o futuro. Não precisamos trabalhar demais para dar brinquedos caros, precisamos trabalhar menos para ter tempo de sentar no chão e construir um castelo de areia com nossas crianças, deitar no capim e ver desenhos nas nuvens, comer uma fruta do pé juntos, apostar corridas, essas memórias afetivas serão longas e duradouras para eles e para nós”, finalizou Nany.