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Misérias Humanas

Lê-se, por aí, que a migração para Europa de gente humilde de origem africana passa pelas mais absurdas degradações e misérias humanas que se tem notícia. Antes de chegar ao destino dos “sonhos” além de pagar o equivalente a R$ 10 mil por pessoa e correr o risco de, na travessa do Mediterrâneo, morrerem naufragados, os imigrantes, notadamente as mulheres, sofrem os mais variados tipos de humilhações. Sabe-se, através de divulgação feita pela Anistia Internacional, o caso, por exemplo, de uma mulher nigeriana, que foi estuprada por 11 homens energúmenos na frente de seu marido. São raras as mulheres solteiras ou desacompanhadas que, ao empreenderem esta travessia, não sofrem estupro ou abuso sexual.

Outro foco dessa miséria humana são as cidades com seu brilho e suas luzes, seus exuberantes arranha-céus e imponentes avenidas, suas movimentadas noites e seus grandes negócios, onde se vale pelo que se tem e se vende o que melhor simboliza o mundo caos em que vivemos. Pois, as cidades são o espelho que melhor refletem a miséria e as contradições do sofisticado mundo moderno. É nas ruas que mendigos, em humilhação assassina, estendem suas mãos aos transeuntes apressados e ocupados. É nas suas esquinas que as “prostitutas” ainda crianças, se expõem, em busca de freguesia, para que no dia seguinte o seu pão de cada dia possa comer. A propósito, como tem meninas novas, quem sabe de menor idade, na Avenida Chico Mendes ou AC-40 aqui em Rio Branco, a partir das 20h30min horas, nas imediações dos motéis existentes nesta via, numa ostentação clara de oferta sexual.

As cidades refletem, ainda, de forma aguda a situação socioeconômica que caracteriza tão fortemente o nosso século. Não apenas por causa das visíveis e gritantes contradições entre cidades que revelam a sofisticação e os parâmetros de Primeiro Mundo com seus abundantes recursos e exacerbado custo de vida. Cidades de arranha-céus suntuosos que tentam esconder os seus pobres, que são em pequeno número. Em contraste com as nossas cidades, seja Rio Branco ou São Paulo, de qualidade de vida própria de países do Terceiro Mundo, que não conseguem esconder os seus pobres, porque são muitos ou quase todos, e a dor e a fome que os impelem para as ruas no desesperado desejo de saciá-la. Há uma década havia nas ruas de São Paulo cerca de 6 mil moradores de rua. Hoje, são 16 mil!
As cidades, pequena e grandes, se tornaram palco dessa miséria humana, tão presente no nosso cotidiano. As ruas de nossas cidades se transformaram em selvas de terrorismo, assaltos, estupros e morte. Parece, que nesta contradição, o humano deu lugar ao desumano. Pois, basta uma simples olhada na convivência entre as pessoas, a partir do mais simples município, para se constatar esta realidade. Essa miséria humana, grosso modo, impele o inditoso, o indigente sócio-econômico, a roubar do seu semelhante de infortúnio. É o pobre roubando do pobre!

Aquele espírito humano que anima uma coletividade e instituições. Aquilo que é característico e predominante nas atitudes e sentimentos dos indivíduos de um povo, grupo ou comunidade, e que marca suas realizações ou manifestações culturais, relações de amizade entre as nações com base no respeito ao princípio de igualdade de direitos e autonomia dos povos. O modo de ser ou de vida habitual, do ser humano. Seu temperamento e disposição interior de fazer o bem, de natureza emocional ou moral, feneceram pelo caminho.

Misérias humanas, é tudo o que rebaixa para o plano de manifestação insignificante de uma realidade pré-determinada. Miséria humana é o homem considerado fora da história e da sociedade em que vive. Fechado numa situação ultrapassável, e é também o homem reduzido a simples marionete da sociedade e da história.

Francisco Assis dos Santos, Pesquisador Bibliográfico em Humanidades. E-mail:assisprof@yahoo.com.br

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