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Tempos de Intolerância!

Nos dias atuais, por causa da ausência de razoabilidade do homem, vivem-se tempos de intolerância total e dum convívio social sofrível. Experimentamos, no dia a dia, confrontos e disputas que provocam situações injustas nos quatro cantos do mundo. É intolerância para todo lado e para todos os gostos. Intolerância total, “total, total, diria aquele personagem cognominado de “maratona” do programa “O Gordo” de Jô Soares. Essa intolerância mundial não é só no campo do fanatismo religioso que, quase sempre, termina em atos de terrorismo, como o ataque feroz ao Charles Hedbo com vítimas fatais.

No Brasil, por modelo, que se arroga possuir 123 milhões de católicos e, agora, conta com uma população de 42, 3 milhões de “fiéis” evangélicos, a intolerância permeia os quadrantes da nação. Quadro, contrário a uma forte argumentação existente nos meios acadêmicos, que a tolerância faz parte essencial do cristianismo, e que quando a tolerância não existe, a fé cristã é pervertida pela intransigência. Por aqui, é inegável, perduram graves intolerâncias, entre católicos e católicos. Da mesma forma, que há intolerância entre “evangélicos e evangélicos”. Pasmem os senhores leitores!

Há casos de intolerância, nos meios cristãos, de posturas fanáticas, ou mesmo discurso ético religioso reacionário. Reacionário porque tenta mostrar um estado de exaltação de quem se diz possuído por Deus e, portanto, imune do erro. Talvez, à luz do plausível, essa intolerância entre “evangélicos” ainda perdura no País, porque continuamos pensando como massa manobrada e iludida. Pensamos por atacado, como uma multidão, e as multidões podem sentir, mas não podem pensar. Exemplo crasso do que afirmo é essa multidão que, diariamente, permeia os “templos” e galpões, depositando aos pés dos “líderes religiosos carismáticos” suas esperanças de solução para suas agruras terrenas.

Casos grosseiros de intolerância, não menos animalesco, são os protagonizados pelas torcidas organizadas de famosos times de futebol, nos grandes centros urbanos do País. Exemplo crasso, do que digo, é a torcida organizada de um afamado time de futebol de São Paulo que se intitula “ bando de loucos.” O que se pode esperar de “um bando de loucos.” Senão atos de intolerância louca! Assim, as torcidas “organizadas” de Palmeiras “o porco” e a do Corinthians “bando de loucos”, não se toleram. Os resultados, dessa intolerância, são bem notórios e públicos, com a morte, inclusive, de torcedores.

Casos mais graves de intolerância, neste país com tamanha tradição cristã, são as que envolvem os homossexuais. Ainda que se aceite que alguns jovens e adultos com livre escolha pelo homossexualismo, exerçam cargos relevantes em todos os segmentos sociais, bem como tenham acesso até ao sacerdócio ministerial, há uma forte intolerância pela prática homossexual, com casos, até mesmo, de homofobia.

Contudo, sabemos de atitudes intolerantes, entre gays e gays. Isto é, tem gay que não tolera gay, não suporta de forma alguma, principalmente se há diferença de posição social. É a velha intolerância entre os gays da elite em detrimento dos gays mais humildes socialmente. Eu mesmo, já presenciei um fato envolvendo dois gays.

Em dias idos, no exercício de minhas funções docentes, recebi na “minha” sala, um jovem declaradamente gay, mas de posição social humilde. Minutos depois, da saída deste acadêmico, entrou outro aluno da IES que, do alto da sua presunção social “se achando” a azeitona da empada de camarão, foi logo asseverando: “Essa Bicha desclassificada, estuda aqui?” A atitude deste jovem, em si, não é de homofobia, afinal ele é um gay, mas revela uma intolerância, especifica no uso do termo pejorativo “BICHA DESCLASSIFICADA”!

Há uma máxima universal que diz que a maior força na face da terra é à força de vontade do homem. Bem aventurados os homens e mulheres de boa vontade diz as Sagradas Letras. Todavia, o que se constata, no mundo de hoje, é uma má vontade tolerar o outro.

Francisco Assis dos Santos*, Pesquisador Bibliográfico em Humanidades. E-mail: assisprof@yahoo.com.br

A Gazeta do Acre: