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Direção da maternidade diz que 30% dos atendimentos são caracterizados como urgência

 Na tentativa de combater a superlotação frequente e real na Maternidade Bárbara Heliodora, a direção da unidade buscar mudar a forma de atendimento. De acordo com os dados do local, 70% dos atendimentos realizados são de procedimentos, exames e orientações que deveriam ser realizados nas unidades de referência ou postos de saúdes mais próximos da residência da gestante.

A diretora de Assistência, Ana Beatriz Souza, explica que as gestantes deveriam buscar a maternidade apenas em casos de urgências e emergências, mas na prática não é isso que acontece.

“Atualmente, tem mulheres que procuram a unidade para fazer teste de gravidez, tratar infecção urinária ou fazer ultrassom. Fazer um hemograma completo. Colocar ou tirar ou DIU. Estamos tentando tirar esse tipo básico de atendimento. Porque precisamos concentrar os médicos na urgência e emergência”, completou ela.

A Maternidade Bárbara Heliodora atende pacientes de Rio Branco e todos os outros 21 municípios do Acre, distritos de Rondônia, município do Amazonas, além da Bolívia e Peru.

“Não negamos vagas. Na nossa UTI tem 20 leitos. Já ficaram 27 crianças internadas. Sempre damos um jeito de atender. Mas, as gestantes devem se conscientizar. Nos deparamos com mulheres que fazem o pré-natal na Maternidade. E aqui não é o lugar ideal para isso”, confirmou Ana Beatriz.

De acordo com o diretor técnico da unidade, Dr. José Everton Santiago, o ideal é a gestante saudável procurar a maternidade apenas com 40 semanas. “Isso não significa que a paciente vá ganhar bebê nesse dia. Mas, é necessário e importante após as 40 semanas, procurar uma unidade para fazer uma avaliação obstétrica que não necessariamente deve acontecer na maternidade. A avaliação pode ser feita por uma enfermeira obstétrica em um posto de saúde”, esclareceu o médico.

Esse comportamento de procurar a unidade é cultural, destaca o médico. “A população deve compreender que a maternidade deve atender urgências e emergências. Nosso público deveria ser de grávidas doentes, com diabetes, com pressão alta ou com doença da tireoide”.

O ideal é que a mãe tenha responsabilidade com sua gravidez, aponta Ana Beatriz. “Não significa tratar esse período como doença. Mas, é necessário ter cuidados específicos. Como por exemplo, seguir as orientações a respeito da alimentação balanceada, exercício e etc”.

Maternidade não é local para tirar dúvidas

A equipe da maternidade destaca que tem paciente que abre mão da comodidade de realizar os exames e todo o acompanhamento pré-natal no posto de saúde mais próximo de casa. “Às vezes elas vem na maternidade tirar dúvida do que ela esqueceu de perguntar na última consulta”, aponta o médico.

Durante esse tipo de consulta, José Everton explica que não tem como atender de forma apressada a gestante. “É nesse momento que o médico tenta conscientizar a grávida de que ela está buscando dúvidas no local errado”, ressaltou o médico.

A Diretora de Assistência detalha o que mais tem ocorrido na Unidade. “A paciente nos procura para coletar PCCU, por exemplo. Durante o procedimento chega um caso de emergência. Não interrompemos a consulta ou coleta. Após a conclusão do procedimento a emergência é atendida”.

Para evitar que novos casos como esse ocorram, a equipe da maternidade tem tido um maior contato com a prefeitura para que as unidades de saúde tenham profissionais aptos a lidar com esse público.

“Além disso, tem os Fóruns Perinatal, que ocorrem em toda a terceira terça-feira do mês e é aberto ao público. Convidamos a todos para conhecer e participar”, convidou Ana Beatriz.

Para mudar o mundo, é necessário mudar a forma como se chega nele

Para mudar o mundo, primeiro é preciso mudar a forma de nascer, dizia Michel Odent. É com esse pensamento que as enfermeiras obstétricas Ruslana Cardoso Saboia e Jorgiane Melo recebem as gestantes no novo bloco de atendimento na maternidade Bárbara Heliodora.

As salas agora são preparadas para que as gestantes tenham acesso a um parto humanizado. “Procuramos criar um ambiente mais favorável possível para que a mãe tenha condições de ter seu bebê. Aqui costumamos dizer que não realizamos parto. Nós assistimos. As pessoas tem que entender que parto é algo fisiológico”, explicou Jorgiane.

As salas PPP (pré-parto, parto e pós-parto) contam com instrumentos que ajudam no relaxamento e preparação para a chegada do bebê. Artifícios como a bola, o cavalinho, banho morno, a banheira e a ajuda de um acompanhante da confiança da gestante ajudam durante o processo.

Atualmente são realizados 600 partos por mês na maternidade. Sendo que 49% deles são por meio de cesariana. O Ministério da Saúde aponta que o índice deveria ser de 13 a 17%.

De acordo com Ruslana, os tabus do parto normal devem ser desmistificados desde o início do pré-natal. “Se a gestante é preparada desde o início da gravidez, todas as situações com relação ao parto fluem naturalmente. Por isso, o pré-natal é tão importante. Garante que tanto a mãe quanto o bebê tenham saúde antes, durante e após o parto”, confirmou a enfermeira obstétrica que não contabiliza quantos bebês já ajudou a colocar no mundo.

Ruslana Cardoso Saboia e Jorgiane Melo (Foto: A GAZETA)
Foto/ A GAZETA

 

A Gazeta do Acre: