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Jorge Viana fala a Roberto D’Ávila sobre crise política e novas eleições

O tempo foi curto para temas tão complexos. Mas em pouco mais de 20 minutos, o senador Jorge Viana conversou com o jornalista Roberto D’Ávila sobre diversos assuntos que permeiam a crise política brasileira nos últimos dias. O programa foi ao ar pela GloboNews na última quarta-feira (15) e será reprisado pela emissora neste domingo, a partir das 10 horas (horário do Acre).

Reconhecendo avanços dos governos do PT, especialmente na promoção da inclusão social, o senador reconheceu que faltou ao partido manter o diálogo e estabelecer uma reforma política verdadeira, que colocasse fim à relação entre políticos e setor empresarial. O parlamentar também falou sobre novas eleições e defende que o Brasil precisa se reencontrar com a democracia e a soberania do voto para poder seguir adiante. Compartilhamos abaixo alguns trechos da entrevista.

Cenário político atual

“Tem horas que eu queria muito estar aqui hoje para ajudar, tem horas que eu queria estar longe. Depois de vivermos esses anos todos de prosperidade, vai tudo por água abaixo da noite para o dia. A gente vê uma eleição como a de 2014, muito disputada, onde quem ganha – no caso a presidente Dilma – não consegue iniciar o segundo mandato e quem perde não se conforma com o resultado.”

Marketing nas eleições

“Eu acho que as eleições no Brasil estão levando todos a fazerem um teatro seguindo o marketing. Temos que reconhecer que isso ajudou a desmoralizar a atividade política e isso é muito grave. Você contrata um bom marqueteiro, ele estabelece as frases, o discurso, você ganha uma eleição e depois vai querer governador com outros atores. Isso se repetiu em 2014 para os dois lados.”

Mais diálogo

“Houve um erro grave nosso, e temos que assumir, senão a gente não estabelece um diálogo com a sociedade: a presidente Dilma teria que, depois de eleita, procurar o vencido, procurar setores que estavam se dividindo na sociedade e tentar procurar pacificar o país.”

 Governabilidade

“Com 35 partidos não tem como você montar um governo. É impraticável. Pode ser PSDB, pode ser PT. O erro maior nosso foi que resolvemos fazer o jogo e aceitar regras que não podem ser aceitas. Nossa base era de 12, 13 partidos, e não deu certo. A do governo interino de Michel Temer são mais de 20 partidos. Isso não tem nenhuma chance de dar certo, isso desmoraliza a essência da democracia representativa.”

Lei do Impeachment

“Essa lei do impeachment é uma certa insanidade, criada na década de 50. A presidente foi eleita com 54 milhões de votos, um ano e meio depois o plenário do Senado, por maioria simples, tira a presidente eleita e põe um presidente, como ele mesmo se diz, provisório. Aqui em Brasília tem dois presidentes morando na mesma avenida. E aí o presidente interino, enquanto vivemos a fase de julgamento, que não chegou nem na metade, muda e mexe na estrutura não só de governo, mas de estado. Essa lei é perversa.”

Reforma política

“Não ter feito a Reforma Política talvez tenha sido o pior dos nossos erros. Podíamos ter feito, mas resolvemos estabelecer convivência pacífica com o que estava estabelecido. Hoje são mais de 30 partidos. Acho que a reforma política que negligenciamos agora está sendo feita pela própria operação Lava Jato, pelo judiciário, que está fazendo uma ação que tem respaldo da sociedade. E acho que não é sem razão. Temos que ficar atentos para que não tenha excessos, mas não dá para ficar botando condicionantes. Porque a atividade política não está só judicializada, ela está criminalizada. Alguns achavam que era o PT porque estava no governo. Mas aí foram ver e hoje os presidentes dos principais partidos respondem por processo.”

 Novas Eleições

“Todos estão olhando para o lado em busca de um interlocutor. Chegamos a uma crise brutal, violenta, econômica e política. Qual é o caminho? Eu acho que é tentar fazer com que o Brasil se reencontre com a soberania do voto. Não pode ser uma proposta do Temer, não pode ser uma proposta da presidente Dilma. Tem que ser uma decisão construída pela sociedade. Estamos em um estágio embrionário. O que temos visto é que mesmo os que apoiam a continuidade do governo da presidente Dilma já a possível volta dela não significaria voltar à normalidade.”

Plebiscito

“Seria um gesto, e nós defendemos, para reencontrar o brasil com a democracia, a soberania do voto. Teria que haver uma proposta da sociedade de que nós anteciparíamos as eleições, já agora, fazendo um plebiscito nas eleições municipais. Plebiscito sobre novas eleições para presidente do Brasil e também sobre reforma política exclusiva. Se fizermos isso, talvez encontremos uma forma de pacificar o país, sair do confronto dos verde-amarelos com os vermelhos.”

Modelo fracassado

“Todos partidos e líderes estão atingidos nessas investigações. Num momento de dificuldades como essa, nós temos que nos reinventar. Acho que tem que ter muita humildade agora, fazer o diagnóstico de que as instituições que precisam estar vivas na democracia agora estão falidas, o modelo fracassou.”

Críticas e intolerância

“A crítica é sempre boa, mas hoje em dia tem sido feita numa ação de ódia, de absoluta intolerância, seja em redes sociais ou até na convivência que é ruim para um país pacífico como o nosso.”

Experiência do Acre

“Quando assumi o governo no Acre estávamos, estávamos convivendo com o Esquadrão da Morte, tínhamos um estado desmoralizado, setores embrutecidos da sociedade dominando tudo e amedrontando todos. O ex-governador Edmundo pinto tinha sido assassinado. Fiz o que parecia impossível na época: estabelecer um diálogo entre PT e PSDB. Eu procurei o presidente Fernando Henrique e o Lula, e ambos concordaram com a aliança.”

Petrobrás e corrupção

“Eu não sei onde começa ou onde termina a culpa dos empresários, nem onde começa ou onde termina a culpa dos políticos. Só sei que é um sistema que se contaminou, e agora todos estão pagando caro por isso. Eu me pergunto porque não prenderam o presidente da Petrobrás? Porque acho que contaminação não é na presidência. Esse negócio de pegar diretorias, fazer loteamentos, dividir por partidos, foi um erro de nossos governos, foi um desastre. Os partidos pegaram como propriedade privada, e ali financiaram suas campanhas. E agora o Brasil está perdendo uma empresa que é símbolo do nacionalismo, da nossa história.”

Partido dos Trabalhadores

“O PT não inventou esse sistema, mas sucumbiu a ele. E tem que pagar uma conta maior porque nós éramos contra. Nós fizemos inclusão social, chegamos a gerar 20 milhões de empregos, investimentos em educação importantes como o Prouni e o Pronatec, mas é triste ver esse legado sendo deixado para trás.”

Brasil tem que se reiventar

“Temos que fazer uma reforma política a partir de uma constituinte exclusiva. E aqueles que fizerem as regras não podem se candidatar. Temos que acabar com o poderio econômico nas eleições. O estado brasileiro tem que reinventar o modelo de governança do dinheiro público na relação com o setor empresarial. O Brasil precisa se reencontrar com esse legado de prosperidade, mas de outro jeito, passando a limpo. Tem que romper com essa relação promíscua de pessoas do poder com o setor empresarial.”

A Gazeta do Acre: