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Os efeitos danosos da cultura do “FICAR!”

Estou levemente desconfiado que essa cultura do “FICAR” tão presente no mundo atual, por inspiração, começou na canção de Nelson Gonçalves “Fica Comigo Esta Noite”. Ocorre que diferentemente da letra de autoria de Adelino Moreira (1961): “fica comigo esta noite e não te ARREPENDERÁS”, essa cultura do “ficar”, dos dias atuais, traz efeitos danosos à juventude baladeira, pois é aquela que só dá prazer, mas não faz as pessoas crescerem, melhorarem como gente. Cultura do “ficar” feita sem amor, de qualquer jeito, com qualquer pessoa sem pensar nas conseqüências. A cultura do “ficar” é a principal causa de o Brasil ser campeão de abortos. Essa cultura do “ficar” produz milhares de crianças, no Brasil, sem lenço nem documentos. Crianças que não possuem nem mesmo uma certidão de nascimento e quando possui não consta que tenham pais, resultado direto dessa “costume” irresponsável.

É danosa até na sua nomenclatura ou terminologia, já que se designa, modernamente, por cultura do “FICAR”: “transar” ou “fazer amor”, isto é, uma relação intersexual de base puramente sensual, que não se baseia na escolha pessoal, mas na necessidade anônima e impessoal de relações sexuais. A relação intersexual só pode ser chamada de amor, quando é de base eletiva e implica o compromisso recíproco.

Outra abordagem nesta questão é que nunca se “ficou” tanto como no mundo de hoje. Vivemos sob o domínio do sexo. Especialistas crêem que no Brasil os compulsivos sexuais sejam até 8% da população, o que para os 202 milhões de brasileiros equivale cerca de 16 milhões de pessoas, a maioria é jovem em idade entre 14 e 21 anos. Também o “ficar” virtual está em alta, o anonimato proporcionado pela Internet deu origem a uma versão moderna da compulsão sexual. São os chamados “viciados em cybersexo”.

A guisa de informação, a cultura do “ficar” virtual como fenômeno, foi constatado pela primeira vez em meados dos anos 90, por pesquisadores de universidades americanas. Investigando os hábitos na rede de 9.265 internautas, os especialistas descobriram que aproximadamente 9% dessa população passavam mais de dez horas por semana navegando em sites pornográficos. No Brasil, segundo a mesma reportagem, ainda não há acurados estudos científicos sobre o tema, numa pesquisa com 834 internautas, realizada pela Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, descobriu que 16% passava mais de 14 horas semanais em busca de sexo na internet e que 63% praticava sexo on-line.

É bom que se diga que mesmo com o uso de preservativos, esta cultura do “ficar” desatinada e desmedida que ocorre muitas vezes por excesso de bebidas e outras drogas ou por um “lapso de memória”, pode atrapalhar ou até mesmo impedir para sempre o desenvolvimento do maior de todos os projetos, o de ser um adulto feliz.

Uma das causas que tornam a cultura do ‘FICAR’ em efeitos danosos, é a proliferação sem freios dessas “festas livres”, como tivemos o exemplo do carnaval fora de época ocorrido recentemente em São Paulo, já citado neste mesmo espaço, que mostrou ao Brasil inteiro uma farra sem medida protagonizada por grande parte dos 42 mil jovens que foram ao Anhembi. No ritmo de sons desconexos, mamados até a alma, os jovens promoveram, em praça pública, entre outras atitudes desvairadas, relações amorosas irresponsáveis. A propósito, essas relações sexuais irresponsáveis entre os jovens do presente século aqui no Brasil têm aumentado a cada minuto a desdita da gravidez na adolescência. Em verdade esse é um problema de caráter universal.

Para os promotores desses “festins” que vivem amealhando verdadeiras fortunas em função da indústria do sexo livre e, por extensão infernizando a vida de milhares de pessoas, quanto mais libertinas e promíscuas estiver o sexo e quanto menos unidos estiverem as famílias, melhor.

Na verdade algumas destas pessoas, e são muitas, estão a serviço de uma verdadeira indústria que não aparece sob forma daquelas fábricas antigas, com chaminés e fumaça, mas estão à serviço duma indústria pornográfica, do aborto, dos métodos anticoncepcionais, artificiais, dos motéis e do fantástico mundo das drogas.

Francisco Assis do Santos, Pesquisador Bibliográfico em Humanidades. E-mail: assisprof@yahoo.com.br

A Gazeta do Acre: