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Velhice agradável e bem vivida!

Dizem, as tais pesquisas, que as pessoas idosas do mundo atual possuem mais longevidade e gozam de mais saúde e privilégios do que as do passado Quanto a privilégios, é verdade: temos até o Estatuto do Idoso. Este articulista, particularmente, gosta do atendimento prioritário das ou nas agências bancárias, especialmente a consideração do Banco do Brasil, aqui da Chico Mendes. Nota 10!

Mas, quando é mesmo que uma pessoa pode ser considerada velha ou idosa? Apesar de hoje, tudo ser relativo, havia uma máxima antiga, entre os gregos, de que o homem inaugura a velhice quando completa 60 anos; pode até, mulher e homem sessentão, gozar de completo vigor físico, mas saiba que, aos sessenta anos, estão, implacavelmente, adentrando ao último ciclo da vida terrena. Diante desta realidade radical, a velhice, que precede à morte, qual seria a postura do homem para tornar a existência terreal, após os sessenta, agradável e bem vivida?

A primeira decisão é aceitar, no íntimo da alma, que a vida é um ciclo e que a velhice é uma realidade natural. A propósito dessa realidade, vivo a filosofar com os jovens sobre uma velha máxima: _A única fórmula de não envelhecer, é morrer novo! (rsrs)!!

A segunda ilação, para nós idosos, seria desmitificar no nosso interior ou psicológico, a imagem geral que as pessoas, salvos exceções, que já passaram dos 60 anos, tem de si mesmas. Livrar-se da “pecha” de que se achar velhas, em demasia, para empreender atividades no campo da educação e em outras áreas da vida. _Ah, estou velho, ou velha, demais e sem potencial para disputar o mercado de trabalho! Grande parte, dos que assim pensam, passa a viver de bicos ou mendicância nas ruas das principais cidades.

Sabe-se, entretanto, que esse estado de ânimo interior é, na maioria dos casos, sucumbido, na vida de muitos idosos, por não terem status quo empresarial, político, religioso, etc. e tal. Por conseguinte, têm contra si o alto preconceito duma sociedade pós-moderna que só enxerga o que é novo. Deste modo, sem apoio da família, são forçados pelas circunstâncias, a sair das atividades econômicas.

Mas, essas são questões existenciais provenientes das desigualdades sociais, que alienam principalmente o idoso de origem humilde, e para as quais não há nenhum vislumbre de reparação. O que fazer, então, para levantar a auto-estima de homens e mulheres que carregam o estigma de “velhos”?

Na minha ótica, os mais variados cursos que existem, pelo mundo afora, ensinando como envelhecer feliz, apesar de bem-vindos e salutares para o corpo decaído esteticamente, são sem eficácia para a mente; porquanto, ao contrário do corpo, o espírito não decai com o passar dos anos; necessitamos sonhar e, da mesma forma que sonhávamos quando éramos jovens em idade, colocar ação nos nossos sonhos e ideais, para tanto precisamos alimentar a nossa alma (vida), de verdades metafísicas oriundas da real verdade subjetiva, diria Søren Aabye Kierkegaard.

Providos de sentimentos de sonhos e esperança, sigamos, então, o arquétipo de homens e mulheres que conseguiram na velhice suas melhores façanhas e ousam desafiar a própria idade. O encanecido Catão começou a estudar grego aos oitenta anos. Platão morreu escrevendo, aos 81 anos. Miguel Ângelo escreveu poesias e projetou construções até aos noventa. Sófocles escreveu sua famosa tragédia Filocteto quando tinha oitenta e sete anos. Goethe terminou o Fausto, sua obra prima, aos oitenta e um. Ticiano completou o quadro “A última Ceia” quando tinha oitenta anos. Walter Matthau, o incorrigível e indisciplinado comediante de Hollywood, e meu ator predileto, trabalhou até aos oitenta anos. O que dizer do desempenho espetacular de Cora Coralina, que começou a escrever em idade bem avançada para os padrões modernos. Essas atitudes são seguidas aqui e acolá por gente famosa, Oscar Niemeyer, por exemplo, e por gente humilde que vive no anonimato, ostentando uma vida discreta, limpa e bem ordenada; virtudes que garantem uma velhice agradável.

Além disso, urge que nos desliguemos do materialismo exagerado produto de sistemas empíricos que consideram real só aquilo que é mensurável; que só acreditam no que tocam com os sentidos e com “os instrumentos científicos”. Carecemos vislumbrar, a partir duma perspectiva espiritual, um novo começo depois da morte terrena. “Buscar a existência de esferas onde não prevalece o tempo, conforme conhecemos” (Agostinho).

Para os que não acreditam nessa outra aura de vida, faço minha as palavras de Cícero: “ E se erro ao pensar que as almas dos homens são imortais, erro voluntariamente, e não quero que me tirem desse erro enquanto vivo, porque nele está meu prazer; e se depois de morto (como crêem certos filósofos de pouco renome) não existir nada, não temo que os filósofos mortos ponham-se a rir de meu erro”.

A Gazeta do Acre: