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Medo da própria companhia

Mais uma vez eu havia marcado de ir ao cinema e todos tiveram de cancelar. Eu estava ansiosa para assistir um filme recém-estreado que hoje não me lembro qual, mas não tinha companhia e teria de adiar novamente. Até que ponderei por alguns minutos… eu realmente queria assistir aquele filme e estava cansada de esperar aquelas pessoas enroladas irem comigo. Decidi, então, que iria sozinha. Isso, sozinha.

Nossa, que solitário. Parece até que não tenho amigos. Nem meu primo, que morava comigo, podia ir.
Foi a primeira vez na vida que eu fui a algum lugar com apenas uma companhia: a minha própria. E não foi horrível. Nem solitário. Na verdade, foi agradável. Por que por tanto tempo eu deixei de fazer coisas por não ter companhia, com medo de estar sozinha, quando eu mesma já era suficiente?

Quando contei para minhas amigas que havia ido sozinha e que foi tudo bem, uma delas achou engraçado e ao mesmo tempo corajoso. “Nossa, você foi sozinha! Eu não tenho coragem”.

Uma vez quando a turma toda foi ao cinema, ela viu uma garota entrando na sessão com pipoca e refrigerante, mas ninguém ao lado. “Olha, Isa. Essa aí é você!” Eu ri junto com ela porque, naquele ponto, eu já havia ido várias vezes ao cinema sozinha. Acabei criando o hábito de que em um momento de tédio, do nada decido ir ao cinema. Aviso para quem se interessar e quiser vir comigo, mas vou independentemente de companhia e assisto qualquer filme que estiver passando.

Um dia, eu decidi andar pela Avenida Paulista sozinha. Ninguém podia ir e uma amiga que morava perto estava em um curso durante a tarde. Mesmo assim, eu me diverti bastante. Assisti a dois filmes, ambos maravilhosos. Fui à Livraria Cultura e comecei a ler um livro que gostei tanto que o comprei. Assisti a uma banda de rua que tocava as músicas dos Beatles. À noite, encontrei minha amiga e fomos comer numa cafeteria na Rua Augusta. Como sempre, conversamos até tarde. Foi um ótimo dia que guardo na memória e, olha só, a maior parte dele eu passei sozinha.

Esse ano, eu não tinha companhia para ir às famosas palestras do TED. Tudo bem, fui sozinha. Resultado: Conheci uma empreendedora que admiro muito. Dois livros autografados. Workshops, brindes e muitas palestras incríveis. Inclusive, foi uma chance de conversar com pessoas desconhecidas e muito interessantes. Eu teria perdido tudo isso se tivesse medo de ficar sozinha.

Você já se perguntou quantas experiências legais deve ter perdido por medo de sair sozinho?

Por que tanto medo de estar sozinho? “Ah, se me virem sozinho vão achar que não tenho amigos, que ninguém gosta de mim, que sou desagradável…”
Pense bem: você sabe que isso não é verdade. Você está sozinho naquele momento, mas há várias pessoas que te amam e gostam da sua companhia, mas que, por alguma razão, não puderam estar ali. Isso não deveria te atrapalhar e te impedir de fazer algo que você queira. Você perde muitas oportunidades com medo de ficar sozinho.

Isabela Gadelha é acadêmica de Jornalismo.

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