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Será que conseguimos viver a Perfeita Alegria?

Manuseando a Bíblia, encontramos tantos textos sobre a alegria que ficamos perplexos de como, desta alegria, nasceram cristão tristes, padres triste, religiosos tristes. Um pagão pode-se mostrar triste, carrancudo, melancólico, não um cristão. Afinal, nossa alegria profunda brota do fato de nos saber amados por Deus. São Francisco é um “irmão sempre alegre”. O carisma da alegria e do bom humor de Francisco é hereditário… Todos temos acesso a esta secular riqueza do “pobre que enriqueceu o mundo”, que partilhou tudo, até a alegria, o temperamento jovial e festivo.

Graças a Deus, Francisco agiu “loucamente”, do contrario, não teríamos conhecido São Francisco de Assis. Teríamos tido somente mais um “cristão normal”, entre tantos outros.

Alguns dos amigos e ex-companheiros de farras, festas, danças perceberam que Francisco não era tão louco quanto todos diziam. Reconheceram nele um homem de Deus que dava testemunho de alegria, felicidade e paz incomuns… Isso os impressionava e, sobretudo, incomodava! Sentiram o desejo de juntar-se a ele naquela forma de vida pobre e penitente. O primeiro deles a decidir-se foi Bernardo de Quintavalle, nobre e sábio de Assis. Depois vieram o jurista Pedro Cattani, o agricultor Egídio, o sacerdote Silvestre, Leão, Masseo, Ângelo, Elias… e tantos outros.

Vindo uma vez São Francisco de Perusa para Santa Maria dos Anjos (igrejinha doada a Francisco e seus companheiros pelos monges beneditinos) com Frei Leão, era tempo do inverno e o frio grandíssimo o cruciava fortemente. Chamou Frei Leão, que ia indo na frente, e disse assim: “Frei Leão, se acontecer, por graça de Deus, que os frades menores dêem em todas as terras grande exemplo de santidade e de boa edificação; apesar disso, escreve e anota diligentemente que NÃO ESTÁ AÍ A PERFEITA ALEGRIA”.

E andando mais adiante, São Francisco chamou-o uma segunda vez: “Ó Frei Leão, ainda que o frade menor ilumine os cegos, estenda os encolhidos, expulse os demônios, faça os surdos ouvirem e coxos andarem, e os mudos falarem e, o que é coisa maior, ressuscite os mortos de quatro dias; escreve que NÃO ESTÁ AÍ A PERFEITA ALEGRIA”.

E, andando um pouco, São Francisco gritou forte: “Ó Frei Leão, se o frade menor soubesse todas as línguas, todas as ciências e todas as escrituras, de modo que soubesse profetizar e revelar não somente as coisas futuras mas até os segredos das consciências e das pessoas; escreve que NÃO ESTÁ NISSO A PERFEITA ALEGRIA”.

Andando um pouco mais adiante, São Francisco ainda chamava forte: “Ó Frei Leão, ovelhinha de Deus, ainda que o frade menor fale com a língua do Anjo e saiba os caminhos das estrelas e as virtudes das ervas, e lhe fossem revelados todos os tesouros da terra, e conhecesse as virtudes dos pássaros e dos peixes e de todos os animais, e das pedras e das águas; escreve que NÃO ESTÁ NISSO A PERFEITA ALEGRIA”.

E andando ainda mais um pedaço, São Francisco chamou com força: “Ó Frei Leão, ainda que o frade menor soubesse pregar tão bem que convertesse todos os infiéis para a fé de Cristo; escreve que aí NÃO HÁ PERFEITA ALEGRIA”.

E durando esse modo de falar bem duas milhas, Frei Leão, com grande admiração, lhe perguntou, dizendo: “Pai, eu te peço da parte de Deus que tu me digas onde há perfeita alegria”. E São Francisco lhe respondeu: “Quando nós estivermos em Santa Maria dos Anjos (a igrejinha doada aos frades pelos monges beneditinos), tão molhados pela chuva, enregelados pelo frio, enlameados de barro, aflitos de fome, e batermos à porta do lugar, e o porteiro vier irado e disser: Quem sois vós? E nós dissermos: Nós somos dois dos vossos frades. E ele disser: Vós não dizeis a verdade, aliás sois dois marotos que andais enganando o mundo e roubando as esmolas dos pobres; ide embora; e não nos abrir, e fizer-nos ficar fora na neve e na água, com o frio e com a fome até de noite; então, se nós suportarmos tanta injúria e tanta crueldade, e tantas despedidas pacientemente, sem nos perturbarmos, e sem murmurar dele, e pensarmos humildemente que aquele porteiro nos conhece de verdade, que Deus o faz falar contra nós; ó Frei Leão, escreve que AQUI HÁ PERFEITA ALEGRIA.

E se, apesar disso, continuássemos batendo, e ele saísse para fora perturbado, e nos expulsasse como velhacos importunos, com vilanias e bofetões, dizendo: Ide embora daqui, ladrõezinhos muito vis, ide ao hospital, porque aqui vós não comereis, nem vos abrigareis; se nós suportarmos isso pacientemente, com alegria e com bom amor; ó Frei Leão, escreve que AQUI HÁ ALEGRIA PERFEITA.

E se nós, mesmo constrangidos pela fome, pelo frio e pela noite, ainda batermos mais, chamarmos e pedirmos por amor de Deus com muito pranto que nos abra e nos ponha para dentro assim mesmo, e ele escandalizado disser: Estes são patifes importunos, eu os pagarei bem, como merecem; e sair para fora com um bastão cheio de nós, e nos agarrar pelo capuz e jogar por terra, e nos revirar na neve e nos bater nó por nó com aquele bastão: se nós suportarmos todas essas coisas pacientemente e com alegria, pensando nas penas de Cristo bendito, que temos que agüentar por seu amor; ó Frei Leão, escreve que AQUI E NISTO HÁ PERFEITA ALEGRIA.
E, por isso, ouve a conclusão, Frei Leão. Acima de todas as graças e dons do Espírito Santo, que Cristo concede aos seus amigos, está a de vencer a si mesmo e de boa vontade, por amor de Cristo, suportar penas, injúrias, opróbrios e mal-estares; porque de todos os outros dons de Deus nós não podemos nos gloriar, pois não são nossos mas de Deus, como diz o Apóstolo: Que é que tu tens que não recebeste de Deus? E se recebeste dele, por que te glorias, como se o tivesses por ti? Mas na cruz da tribulação e da aflição nós podemos nos gloriar, pois diz o Apóstolo: Não quero me gloriar a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Que possamos viver a Perfeita Alegria em Jesus Cristo, como viveu o pobrezinho de Assis. Paz e Bem!

Narciso Cândido L. Neto, Ministro Extraordinário da Palavra – Diocese de Rio Branco, Coordenador do grupo Amigos de Francisco e Clara, Articulador para a criação em Rio Branco da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular – OFS
narcisocandido7@gmail.com
(68) 99986-4474

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