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Vilas na área de fronteira entre o Acre e Rondônia somam mais de 50 homicídios

 O Acre é vulnerável ao narcotráfico de drogas devido à sua localização geográfica como porta de entrada da fronteira do Brasil com a Bolívia e com o Peru. Os riscos por integrar esta rota internacional do tráfico da tríplice fronteira são evidentes nos números de crimes e homicídios do Estado, a maioria relacionada a ‘acertos de contas’ do mundo do tráfico. O que muitos não imaginam é que um perigo vizinho ainda maior está começando a ameaçar a paz dos acreanos.

Nos pequenos distritos e vilarejos situados entre 180 a 260 km de Rio Branco, nas áreas-limites entre o território acreano e o de Rondônia, vários homicídios estão sendo registrados. Mais de 50 foram contabilizados nos últimos meses apenas em três vilas entre o Estado vizinho e o Acre: Extrema, Vista Alegre e Califórnia. Tal valor representa um quarto do total de homicídios dolosos (ou seja, quando há intenção de matar) registrados, na média anual, no Acre: que varia entre 190 a 220 casos.

São casos demais, o que reporta a um quadro de anomalia de homicídios, sendo que trata-se de apenas três vilas, em comparação com um Estado inteiro, de quase 800 mil habitantes. O cenário torna-se mais crítico do ponto de vista demográfico. Juntas, as três vilas têm cerca de 15 mil habitantes. Em outras palavras, a cada 275 pessoas destas vilas, 1 é assassinada.

Com o crescimento desta onda de violência em sua fronteira com Rondônia, significa que o Acre está sendo ‘bombardeado’. Muitos destes homicídios também têm fortes ligações com a rota do tráfico que vem de fora do país, corta o Acre e se espalha para o resto do Brasil por rota terrestre, tendo estas vilas rondonienses como alvos da passagem da droga. Isto é, o Acre está cerceado por grandes ondas de homicídios das áreas limítrofes do Peru, Bolívia e agora de Rondônia. No centro do ‘triângulo das bermudas’.

Outras atividades ilícitas que se fortalecem pela ausência do ‘braço do Estado’ e que motivam homicídios nas vilas são a extração de madeira e ‘pistolagem’. Um panorama de ‘terras sem lei’, parecido com o que o Acre viveu em décadas passadas, em tempos de esquadrões e grupos de extermínio. Um passado que assombra o Estado até hoje.

Califórnia é a que atravessa o momento mais complicado. O Comando Geral da Polícia Militar de Rondônia repassou ao governo acreano que na referida vila foram registrados cerca de 36 homicídios. Este número, porém, pode ser ainda maior, tendo em vista que a polícia não soube apontar com precisão o total de casos contabilizados.

Somente no último final de semana, na vila Califórnia, duas pessoas foram mortas com requintes de crueldade. Elas tiveram seus corpos queimados, supostamente por homens acusados de serem ‘pistoleiros’ da região.

No distrito de Extrema (que é o mais populoso da região, com pouco mais de 6,5 mil habitantes e até já teve vários movimentos pedindo emancipação como município e também para passar a fazer parte do Acre, deixando de ser de Rondônia), foram computados 9 homicídios, enquanto que em Vista Alegre do Abunã  foram 10 homicídios.

Dados mais precisos sobre o número de mortes na região devem ser atualizados e repassados nesta sexta-feira, 1º de julho, ou no começo da próxima semana tanto para as igrejas e demais entidades que estão mobilizadas em volta desta situação, quanto para o governo acreano.

Questão deve ser tratada com os governos vizinhos e até no Ministério da Justiça

O governador Tião Viana contou que esta onda de violência das vilas rondonienses fronteiriças com o Acre é grave e extremante preocupante. Algo precisa ser feito para conter tais crimes e reduzir a sensação de insegurança instalada naquela região. O governador está preocupado não só pelas vidas que estão sendo perdidas lá, mas também porque pode trazer consequências ruins para o Acre nos esforços que o Estado vem empreendendo para frear a violência local.

Nesse sentido, Tião Viana vai fazer audiências com o ministro da Justiça para explicar o caso e tentar encontrar uma solução. Além disso, o governo acreano vai mandar ofícios aos governos de Rondônia e também do Amazonas, cuja população das áreas de fronteira ao sul com o Acre também sofrem devido à ação criminosa de madeireiros ilegais. O objetivo é que, juntos, os governos tenham disposição para agir e amenizar a criminalidade nas fronteiras interestaduais.

1 - ACRE  NO TRIÂNGULO  DAS  BERMUDAS - foto DIVULGAÇÃO (2) 1 - ACRE  NO TRIÂNGULO  DAS  BERMUDAS - foto DIVULGAÇÃO (3)

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