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Triste destino!

Em dias idos garatujei, neste espaço, sobre uma cidadã octogenária, aposentada, que de posse de uma câmera filmadora, comprada à prestação, resolveu documentar as mazelas do dia a dia do seu famoso bairro, Copacabana. Obviamente que ela só filmou as adjacências do seu apartamento, uma vez que o caos social em que estava metido o Rio de Janeiro era sem medida. É inegável, sem leviandade, que com o passar dos anos, quando o tema é violência urbana, o “Grande Rio” piora cada vez mais.

À época, duas afirmações da anciã, foram dignas de reflexões: A primeira faz alusão aos tempos áureos da “Cidade Maravilhosa”: “Copacabana, já foi tão tranqüila. Meu Deus!”, exclama a anciã. É verdade! Sem dúvida, se faz necessário que, num exercício de memória, pensemos sobre o passado. Santo Agostinho dizia: “É na memória , que eu me encontro comigo mesmo”. Significa que é no passado que encontramos a nós mesmos. Igualmente é necessário lembrar o passado e as ações de gerações passadas para tentar compreender o presente, e também para, ao menos tentar, escapar da violência do homem perverso da vida hodierna. Também, à luz do passado, ver os nossos próprios defeitos, numa auto-avaliação da postura que assumimos em relação às agruras do mundo contemporâneo.

A segunda assertiva é duma atualidade loquaz, própria da nossa geração: “O que me revolta é a falta de segurança… nós não merecemos isso!” Aqui fica evidente, nunca é demais repetir, a miséria que nós rodeia: fome, ignorância, analfabetismo, terrorismo, narcotráfico, crianças abandonadas, corrupção em todos os níveis, ditaduras, fascismo de direita e de esquerda, desrespeito aos direitos humanos, ausência de deveres humanos, desrespeito às leis e muitas outras desventuras; desgraças que caracterizam o cotidiano do brasileiro e com as quais, aqui e acolá, estamos todos, crianças e adultos; moços e velhos, familiarizados, infelizmente.
Deste modo, o fenômeno da violência saiu do campo das teorias das ciências humanas para alcançar e preocupar o humilde cidadão que, de conhecimento, só possui o bom senso. Cidadãos honestos, a maioria sem instrução acadêmica, que buscam na simplicidade de suas vidas, acossadas pelas circunstâncias, um mínimo de serenidade, como a demonstrada pela anciã aposentada, a despeito de possuir idade beirando a senilidade, para reagir sem violência, contra a violência que campeia, como nunca, nos dias atuais.
Naquela oportunidade, a atitude inteligente e corajosa da anciã de Copacabana, foi decantada pela imprensa e pelas autoridades que representam a Secretaria de Segurança do Estado do Rio de Janeiro. Quanto a esta, infelizmente, continua impotente em conter os avanços da bandidagem naquele Estado. A propósito, no Brasil, as polícias, mesmo tendo à sua disposição as condições necessárias para um bom desempenho da atividade policial, inexplicavelmente, não o fazem a contento. O resultado é o aumento da violência em todos os quadrantes do País.

Rio Branco, não é isenta dessa realidade. Na “Cidade do Povo”, dizem as más línguas, há 16 facções criminosas. Sendo a afirmação veraz, se consuma aqui, bem perto de nós, o que já vem ocorrendo em outros estados, notadamente no Rio de Janeiro, em que facções criminosas e as tais “milícias” exercem um “poder paralelo” à revelia da própria lei.

Assim sendo, o melhor é ficar de bico calado e encarnar interiormente um princípio filosófico, chamado estoicismo que nos torna, a todos, homens e mulheres insensíveis aos males físicos, os meus e o do meu próximo, eliminando a noção de liberdade, substituindo-a por uma conformidade, que os estóicos chamavam ou chamam de destino. Triste destino para o homem que não consegue vislumbrar um futuro melhor para a humanidade, uma vez que passa pela angústia de viver o presente, onde as forças positivas são muito dispersas. Mundo, onde tudo é volátil! Mundo, em que a única certeza é a morte!

Francisco Assis dos Santos, Pesquisador Bibliográfico em Humanidades. E-mail: assisprof@yahoo.com.br

A Gazeta do Acre: