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Santa Clara de Assis: mãe e irmã da Família Franciscana

A Família Franciscana celebra com júbilo, em 11 de agosto, aquela que é a Mãe e irmã de todos os franciscanos espalhados pelo mundo. Sabemos que ela viveu em Assis na Itália, no tempo de São Francisco. Ninguém deixou de ter notícias dela, quando leu livros, ou assistiu filmes, sobre seu conterrâneo famoso. Alguns ficaram com a ideia, de que, ela teria sido sua namorada. Todos que ouviram falar dela conhecem-na como a santa que levanta uma custódia com o Santíssimo Sacramento.

Clara de Assis foi uma pessoa chamada por Deus, para fazer de sua vida uma oferta de louvor. Nasceu em 1194 e morreu em 11 de agosto de 1253, com sessenta anos. Entrou na vida franciscana em 1212, com 18 anos de idade. Foi viver em São Damião, a igrejinha, fora da cidade de Assis, em que São Francisco tivera um encontro com Jesus Crucificado. Desde 1216, teve que submeter à Regra de São Bento, mas pediu ao Papa o Privilégio da Pobreza.

Esteve muito doente desde o tempo da morte de São Francisco (1226), até morrer, em 1253. Mas nunca se abateu. Trabalhou sempre. Escreveu suas cartas a Inês de Praga a partir de 1234. A Regra foi completada em 1252 e o testamento deve ser anterior. Foi canonizada em 1255. Sepultada na Igreja de São Jorge, mais tarde ampliada para se transformar na Basílica de Santa Clara, seu corpo foi exumado em 1850. O original da Regra foi reencontrado em 1893.

Clara era de uma família de cavaleiros, de origem lombarda e germânica, cuja ascendência pode ser traçada até alguns séculos antes.

A mãe, Hortolana, também era nobre e aparentava com a Família Favarone. Foi uma mulher muito piedosa, mas independente e ativa. Pouco antes de casar-se, fez uma peregrinação à Terra Santa, quando isso representava um risco.

Hortolana contou que, quando estava esperando sua primeira filha, foi rezar diante do Crucificado e este lhe disse: “Não temas, mulher, porque salva vais dar ao mundo uma luz que vai deixar a própria luz mais clara”. Foi por isso que ela chamou a filha mais velha de Clara, deixando para cumprir uma promessa feita durante a viagem à Terra Santa, quando deu o nome de Catarina a sua segunda filha.

Clara teve duas irmãs: Catarina, cujo nome mais tarde foi mudado para Inês por São Francisco, e Beatriz. As duas foram ser Irmãs Pobres, como ela, no mosteiro de São Damião. Inês morreu duas semanas depois de Clara, em 1253. Beatriz ainda teve oportunidade de depor no processo de canonização da irmã.

O fato é que Clara teve oportunidade de viver uma infância e uma adolescência feliz e rica, com possibilidade de estudar, provavelmente com professores particulares. Era muito inteligente e aprendeu a escrever com uma maestria não comum para uma mulher da época. Foi educada no melhor espírito da cavalaria de seu tempo, aprendendo como ser uma dama, cortês, com o espírito enriquecido por conhecimentos religiosos e bíblicos, com uma ideia do heroísmo da santidade e com o mundo bonito das canções dos jograis do seu tempo. Tinha tudo para ser uma donzela do ciclo cavalheiresco da Távola Redonda do rei Artur.

Santa Clara começou seu testamento espiritual, dizendo que “um dos maiores benefícios que temos de agradecer a Deus é a nossa vocação”. E deixou bem claro que sua vocação foi recebida através de São Francisco: seu Pai e Irmão, e consistiu em seguir Jesus Cristo no Caminho. Ela deve ter tido os primeiros encontros com São Francisco em 1211. Francisco já encontrou uma moça que conhecia Jesus Cristo e já o tirara bastante de sua interioridade. E que teria um significado muito grande para a própria vocação e santidade dele, e da ordem por ele fundada.

Eles sabiam que Deus queria renovar a própria Igreja através da Ordem que iriam fundar: a Ordem dos Frades Menores (OFM), a Ordem das Clarissas Franciscanas, a Ordem Franciscana Secular (OFS). Procuraram desde o começo ser fieis à medula do anúncio Evangélico e também cuidaram de pedir a aprovação da Igreja de Roma. Francisco ainda duvidou se devia viver apenas no eremitério ou também pregando, mas Clara, que o ajudou a decidir-se, sempre soube que sua vocação era para o eremitério. Ela e Francisco abriram uma tradição nova na Igreja; inventando o eremitério, em que não se estava sozinho; mas a só com Deus na companhia dos Irmãos ou Irmãs.

Clara de Assis, numa noite de Natal, estava doente e acamada, e não podendo ir à capela acompanhar as irmãs do convento na celebração da missa de Natal, e milagrosamente ela conseguiu ouvir de seu quarto tudo o que acontecia na Santa Missa, mesmo a uma distância que era impossível fazer com que o som chegasse até ela. Ainda mais fenomenal foi o fato de Santa Clara, além de ouvir, ver o próprio presépio do Senhor e assistir à Santa Missa meia-noite, que se seguiu após o canto dos salmos. Devido a este fato, o Papa Pio XII declarou Santa Clara padroeira da Televisão por Decreto de 14 de fevereiro de 1958.

O ostensório com o Santíssimo Sacramento nas imagens sacras ou em pinturas de Santa Clara de Assis, tem um significado muito especial. Em 1230, os sarracenos (muçulmanos) invadiram o convento de São Damião. Assustadas, as freiras correram até Clara. Ela foi até a porta do convento levando o Santíssimo Sacramento numa custódia (pequeno ostensório), E, prostrando-se em oração, com lágrimas nos olhos, disse tais palavras: “Senhor, protege Tu estas tuas servas, pois eu não consigo protegê-las”. Ela mesma testemunhou ter ouvido uma voz de maravilhosa suavidade que dizia: “Eu as defenderei sempre!”. No mesmo instante os invasores fugiram dizendo terem visto uma luz mais forte que a do sol emanando do ostensório. Em 1234, ocorreu outro milagre parecido, que teria impedido que as tropas de novos invasores tomassem a cidade de Assis. Este acontecimento ainda é celebrado pelos habitantes da cidade nos dias de hoje.

Clara foi redescoberta no fim do século XIX e principalmente durante o século XX. Sempre se soube que ela foi uma grande santa e que tinha sido companheira de São Francisco de Assis. Mas parece que Deus deixou para os nossos tempos um conhecimento melhor de Clara. Só agora, foram descobertos e publicados seus escritos e uma preciosa coleção de documentos do seu tempo, principalmente o seu Processo de Canonização, ocorrido em 1255. Tudo isso pode ser encontrado em um livro chamado: FONTES CLARIANAS, Frei Jose Carlos Pedroso, OFM Cap; que você poderá certamente querer conhecer.

E neste dia que a Igreja celebra a entrada de Santa Clara para a vida eterna, peçamos que ela rogue a Deus por todas as nossas necessidades e, de maneira especial, por todos os comunicadores, por aqueles que trabalham à frente das câmeras e nos bastidores das TVs, nas rádios e nos jornais, e ainda por todos os que evangelizam pelos mais diversos meios de comunicação.
Rezemos: Salve “Plantinha do Pai Francisco”! Salve irmã Lua! Salve Clara: virgem que se fez igreja! Salve filha do Pai Celestial, Mãe e Irmã dos franciscanos espalhados por todo o mundo, no anuncio da Paz e do Bem.

Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.
Pároco da Paróquia de Bom Jesus do Abunã em Plácido de Castro – Acre.
Diretor Espiritual do Grupo Amigos de Francisco e Clara.

A Gazeta do Acre: