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São Francisco e a violência do Lobo de Gúbio para os nossos dias

Queridos irmãos e irmãs, Paz e Bem! Hoje, mediante no que temos presenciado, nos meios de comunicação, uma constante onda de violência manifestada de diversos modos em nossos bairros, cidades, estados e países: o aborto, os roubos, os sequestros, o desrespeito no trânsito, as agressões, os homicídios, a corrupção, o abandono nas ruas, a falta de condições de saúde, o tráfico de drogas e de pessoas, a exploração de menores, etc., é a vida humana que está sendo agredida e violada. Sentimos-nos impotentes, diante de tantas cenas que chocam a nossa razão e o nosso coração. Recentemente, na França, o assassinato o padre Jacques Hamel, de 86 anos, enquanto celebrava a Missa.

Parece que vivenciamos uma “epidemia sistêmica de atos violentos”, que ferem a nossa cultura tão frágil de paz. Quantos e quantas estão mergulhados numa visão pessimistas da história; o que cega a todos nós, para vivenciarmos uma cultura de paz, misericórdia, confiança, solidariedade. O fenômeno da violência não perdoa: religião, cultura ou classe social. Assusta a todos! Provoca em todos, desejo desenfreado de protegerem-se com armas, cachorros, cercas elétricas, muros altos, vigilâncias, pena de morte, etc. Como se isso fosse tábua de salvação para a sociedade, refúgio de segurança, salvação da história.

No capitulo 21 dos “Fioretti de São Francisco”, intitulado: Do santíssimo milagre que fez São Francisco, quando converteu o ferocíssimo lobo de Gúbio (comunidade italiana da região da Úmbria, província de Perugia), onde podemos, quem sabe, encontrar um pouco de luz e discernimento para algumas questões. Eis a narrativa: “No tempo em que São Francisco morava na cidade de Gúbio, apareceu no condado de Gúbio, um lobo grandíssimo, terrível e feroz, o qual não somente devorava os animais como os homens, de modo que todos os citadinos estavam tomados de grande pavor, porque, frequentes vezes, ele se aproximava da cidade; e todos andavam armados quando saiam da cidade, como se fossem para um combate. Contudo, quem sozinho o encontrasse não se poderia defender. São Francisco de Assis tendo compaixão dos homens do lugar, quis sair ao encontro do lobo, se bem que os citadinos, de todo, não o aconselhassem; e, fazendo o sinal da santa cruz, saiu da cidade com os seus companheiros, pondo toda a sua confiança em Deus. Encontrando com o lobo, fez o sinal da cruz, o chamou a si, e disse-lhe assim: “Vem cá, irmão lobo, ordeno-te da parte de Cristo que não faças mal nem a mim nem a ninguém”. Coisa admirável! Imediatamente após São Francisco ter feito a cruz, o lobo terrível fechou a boca e cessou de correr; e dada a ordem, vem mansamente como um cordeiro e se lança aos pés de Francisco como morto. Então, São Francisco lhe falou assim: “Irmão lobo, tu fazes muitos danos nesta terra, e grandes malefícios, destruindo e matando as criaturas de Deus sem sua licença. E não somente matastes e devorastes os animais, mas tiveste o ânimo de matar os homens feitos a imagem de Deus; pela qual coisa és digno de forca, como ladrão e homicida péssimo; e toda gente grita e murmura contra ti, e toda terra te é inimiga. Mas eu quero irmão lobo, fazer a paz entre ti e eles, de modo que tu não mais os ofenderá e eles te perdoarão todas as passadas ofensas, e nem homens nem cães te perseguirão mais”.

Ditas estas palavras, o lobo, com o movimento do corpo e da cauda e das orelhas e com inclinação de cabeça, mostrava de aceitar o que Francisco dizia e de o querer observar.

E São Francisco disse: “Irmão lobo, quero que me dês prova desta promessa, a fim de que possa bem confiar”. E estendendo, Francisco, a mão para receber o juramento, o lobo levantou o pé direito da frente, e domesticamente o pôs sobre a mão de São Francisco, dando-lhe o sinal como podia. E então disse São Francisco: ”Irmão lobo, eu te ordeno em nome de Jesus Cristo, que venhas agora comigo sem duvidar de nada, e vamos concluir esta paz em nome de Deus”. E o lobo obediente foi com ele, a modo de um cordeiro manso; pelo que os citadinos, vendo isso, muito se maravilharam.

O texto descrito parece-nos uma parábola que exige profunda mudança dos que vivem na cidade e do lobo que vive na mata. Em decorrência da fome o lobo vira inimigo da cidade, que se arma e se fecha ao dialogo com ele.

Trazendo a violência para a nossa realidade hoje, quase não faltam escolas para as crianças, nem mesmo catequese nas paróquias, mas faltam os pais que as conduzam à escola e à igreja. Como sempre tenho dito: sem a reestruturação da família, segundo o coração de Deus, na qual não existam o divórcio, a traição, o incesto, as brigas, o vício, o estupro, a pedofilia, etc., não se poderá acabar com a violência na sociedade. E sobretudo, sem Jesus, sem o Evangelho, sem a vivência moral ensinada pela Igreja de Cristo, não haverá paz verdadeira e duradoura. Sem isso será inócuo lutar pela paz. Diz o salmista que “se não é Deus quem guarda a cidade, em vão vigiam os seus sentinelas” (Salmo 126, 1).

Caro leitor, o que esse texto provoca em nossas políticas pública de inserção dos pobres das periferias a cidade organizada dos centros? Como atuamos frente aqueles que por necessidades básicas manifestam alguma forma de violência? Vivemos numa sociedade produtora de falsas necessidades, fazendo surgir grupos violentos não satisfeitos nessas necessidades criadas por uma cultura materialista e corrupta. Como os governantes têm agido no processo de melhorar a vida de quem vive nas “matas” de pobreza e miséria de nossas cidades onde falta o essencial. Toda a sociedade precisa passar pela conversão social, espiritual, moral, política, cultural para aproximar os lobos da cidade e a cidade dos lobos. Tenham uma quinta-feira de Paz e Bem!

Frei Paulo Roberto, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.
Pároco da Paróquia de Bom Jesus do Abunã em Plácido de Castro – Acre.
Diretor Espiritual do Grupo Amigos de Francisco e Clara.

 

A Gazeta do Acre: