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Depasa reforca ações de combate ao desperdício de água

Depasa garante abastecimento de água com o Rio Acre medindo até 1,25 metro

Imagem aérea mostra a realidade preocupante do Rio Acre em Assis Brasil, o manancial corta outros municípios acreanos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Após superar o nível mais alto e mais baixo em um único ano, o Rio Acre preocupa as autoridades e a população. Como ficará o abastecimento de água diante desse pe-ríodo de seca? O Departamento Estadual de Pavimentação e Saneamento (Depasa) executa ações para garantir o abastecimento na Capital.
E a segurança operacional do órgão está garantida até que o rio atinja 1,25 metro, garante o superintendente do Depasa Rio Branco, Miguel Félix. Neste momento, não está descartado o sistema de racionamento da distribuição de água para Rio Branco.

Além da campanha de conscientização sobre o uso da água de forma racional, o Depasa realizou intervenções na torre de captação da ETA I. “Foi feita uma contenção com sacos de areia na ETA I e o aprofundamento do canal de captação para reter um pouco mais do volume de água. Vamos dar uma sobrevida na torre de captação da ETA I”, relatou o diretor-presidente do Depasa, Edvaldo Magalhães.

Essas medidas criam condições de reter água sem grande interferência no rio, para conseguir manter uma determinada quantidade de água que entra na torre de captação, para que conti-nuem sendo tratados.

Atualmente, o volume captado pela ETA I é de 580 litros/seg enquanto a ETA II está na média de 810 litros/seg, com o auxílio de bombas flutuantes. Com os três equipamentos, a capacidade será de captar cerca de 900 litros por segundo. Porém, a produção de água já está 20% a menos.

Existem outras medidas para garantir o abastecimento. Como por exemplo, uma limpeza no leito do rio para ter maior volume de água. Miguel Félix explicou que a ETA II atua com mais de 80% da captação feita por bombas flutuantes. Já a ETA I tem captação por meio da torre.

Nesta sexta-feira, 29, o nível do rio chegou a 1,49m. Esse é o menor nível já registrado no Estado, conforme a Defesa Civil do Estado. Até então, o menor registro era de 1,50m em setembro de 2011.

Desde o dia 7 de julho, o governador Tião Viana assinou o decreto de situação de alerta. Não está descartada o decreto de calamidade pública.

Poços secam e população não sabe quando chega a água

De acordo com a cozinheira e moradora do Bairro Estação Experimental, Maria Nunes, desde que começou o período de seca a preocupação é grande com relação a encher as três caixas de mil litros.
“Tenho família grande. O consumo por mais que seja consciente também é grande. As vezes quando vem água ela não sobe para as caixas que ficam no alto. Então, a atenção é constante. Não temos poço. Dependemos apenas da água do Depasa. Por isso, a preocupação”, destacou a moradora.

Já a funcionária pública, Ana Maria da Silva, fala temerosa sobre o poço de casa que secou. “Moro aqui há quase 30 anos e o poço nunca secou. Nunca! E este ano percebemos que ele estava com água muito abaixo do normal em abril, ainda. Tivemos que estudar o comportamento do poço. Descobrimos que se puxarmos água todo dia, ele não seca. Então estamos nos virando assim”, detalhou ela, que mora no bairro Bosque.

Moradora reclama do desperdício de água do vizinho

Além da estiagem severa deste ano, a possibilidade de Rio Branco enfrentar o desabastecimento de água tem causado a preocupação de moradores, como a servidora pública Aparecida Soares, 27 anos. Ela conta que em casa todos têm colaborado para evitar o desperdício de água. Mas no bairro onde mora, no Portal da Amazônia, nem todos pensam assim.
“Do outro lado da rua, mais pra frente, tem uma casa onde um rapaz deixa a caixa d`água derramando sem parar. O desperdício de água lá é horrível. Esse morador não está nem aí, porque ele não paga. Por várias vezes os vizinhos já tentaram falar com ele para conscientizá-lo, mas ele não demonstra interesse”, denuncia.

A servidora pública mora em um apartamento e a chegada da água na caixa é esperada com ansiedade pelos demais no prédio. Ela teme que a falta de consciência e irresponsabilidade dos outros possam interferir nisso.

“As pessoas deveriam tomar consciência, porque aqui, antigamente, passava de semanas sem cair água. Nos últimos meses havia dado uma melhorada e estávamos recebendo água todos os dias. Porém, com essa seca, chegamos a ficar de dois a três dias sem encher a caixa. Por isso a minha revolta. Como o rapaz lá da frente desperdiça muito e para ele está sobrando, aqui para a gente está faltando. A água chega com menos força e, às vezes, não consegue nem subir”.

Aparecida fez as melhorias acontecerem em detalhes dentro de casa. Ela, o esposo e a filha mudaram alguns hábitos ruins para utilizar a água de forma consciente. “Antes, quando a gente ia tomar banho, o chuveiro ficava ligado. Agora tomamos consciência e não deixamos a água derramando desnecessariamente. Na pia, na hora de lavar a louça, do mesmo jeito. Tudo isso vai contribuindo, ainda mais nesse período de seca. Creio que seja uma das piores. Todos deveriam se conscientizar tanto para não fazer queimadas, assim como evitar desperdiçar água”.

Aparecida diz que procura economizar água na hora de realizar as tarefas de casa

 

Cerca de 45% da água captada para o abastecimentode Rio Branco é desperdiçada, aponta o Depasa

O Acre enfrenta atualmente uma das piores secas já registradas em sua história. Além das queimadas e da fumaça que paira no ar, outro vilão que pode piorar ainda mais a vida dos moradores é o desperdício de água.

Para combater esse mal, o Departamento Estadual de Pavimentação e Saneamento (Depasa) intensificou em Rio Branco a Campanha ‘Nós Contra o Desperdício’, a fim de incentivar a população a fazer o uso da água de forma consciente.

Nessa semana, o Depasa montou um escritório móvel na região do Portal da Amazônia, um dos locais identificados com grande quantidade de vazamentos e desperdício. De acordo com o coordenador de Contato Social do órgão, Nier Pinheiro, a campanha já vinha sendo trabalhada antes, mas foi necessária uma intensificação devido ao período da seca. “Hoje, a produção de água para atender a população de Rio Branco é mais do que suficiente no Depasa. Contudo, por conta do desperdício, a gente está tendo dificuldade. Então, a gente aproveitou esse momento da seca para intensificar esse combate”.

Em torno de 60 servidores do órgão trabalham diretamente na campanha. Primeiro passam de casa em casa identificando os principais problemas e educando sobre os cuidados para evitar o desperdício. Posteriormente, fazem a instalação de hidrômetros nas casas sem o equipamento.

Campanha do Depasa convida moradores a se conscientizarem sobre o desperdício de água na Capital

 

A ‘boia’ como parceiro no combate ao desperdício

“Queremos conscientizar as pessoas sobre a utilização das boias, que é um dos principais meios para combater o desperdício. Com a instalação dessa boia, o desperdício reduz bastante”, destacou Nier.

A boia pode ser adquirida por um custo baixo de aproximadamente R$ 36,00 no mercado. Depois ela deve ser instalada e serve como um sistema autônomo. Quando a caixa está seca, ela abre automaticamente para receber a água. Quando o recipiente fica cheio, ela fecha o registro. Com isso, no final do ano, esse produto pode economizar em torno de R$ 100,00. “Se você estiver pagando a conta direitinho, certamente terá muita economia”.

Coordenador de Contato Social do Depasa destaca a importância da instalação da boia nas caixas

 

Pelo ralo

Segundo dados do Depasa, de toda a água disponibilizada para o abastecimento da cidade, cerca de 45% é desperdiçada. Um número alto e preocupante. “Queremos tentar reduzir o desperdício para os valores que hoje são aceitos no Brasil, em torno de 20% da produção”.

Hoje, o Depasa trabalha com a produção de 1.900 litros por segundo. De acordo com Nier Pinheiro, isso é mais do que suficiente para abastecer toda a cidade. Porém, o desperdício dificulta que esses litros cheguem à casa de todos.

“O sistema é pressurizado e funciona por partes. Por isso, volto a frisar a importância da bomba. Se a água atendeu a sua casa, a pressão aumenta e vai para frente. Quando isso não ocorre, a gente não consegue chegar na ponta”.

A captação da água do Depasa é feita no Rio Acre. Com a baixa do nível do rio, a dificuldade para realizar essa captação aumentou. Por conta disso, essa operação está sendo feita com boias flutuantes. A água é bombeada para as estações de tratamento para a descontaminação e a partir de então é bombeada para as casas da cidade.
Na última sexta-feira, 29, a equipe técnica do Depasa instalou a quinta bomba de captação flutuante no Rio Acre.

Punição

As equipes do Depasa encontram diversos tipos de problemas no caminho como pessoas que tiraram os hidrômetros, que fizeram ligações clandestinas, além de inúmeros vazamentos por conta de cano quebrado.

No primeiro momento da campanha, as equipes irão passar de casa em casa nos bairros selecionados para conscientizar. Essa será a etapa educativa. Posteriormente, caso as denúncias de desperdício de água continuem, o autor da ação poderá sofrer sanção. “Nesse momento foi baixada uma portaria que ampara o Depasa a tomar medidas judiciais. No segundo passo, nós já vamos atuar de forma repressiva para que as pessoas comecem a entender o significado do combate ao desperdício. Agiremos com multas e nos casos de ligações clandestinas será feito uma queixa-crime”, explica Nier.

Para o coordenador de Contato Social, caso a população abrace a causa, Rio Branco terá uma melhora significativa no abastecimento de água.

Como denunciar

Durante a semana, em horário expediente, o Depasa disponibiliza o telefone 3028-8080 para receber denúncias de descaso com o uso da água. Contudo, uma deficiência ainda a ser trabalhada é o fato de esse contato não atender ocorrências durante a noite e nem nos finais de semana.

Para solucionar esse problema, Nier Pinheiro explica que um projeto está sendo elaborado para a criação do WhatsApp do Depasa. Com esse número disponível nos finais de semana, o trabalho seria mais dinâmico. “As pes-soas poderiam denunciar e até fotografar a ocorrência, com o endereço certo. Não adianta só denunciar. É preciso passar todas as informações. A criação desse meio de comunicação será de grande importância, pois enquanto uns têm o cuidado com o uso da água, outros não possuem essa cultura. Então, nós não vamos só chegar de forma repressiva, mas iremos também conversar com aquela pessoa, buscar uma alternativa. Se não resolver e recebermos uma segunda denúncia, teremos que tomar medidas cabíveis”.

Depasa disponibiliza o telefone 3028-8080 para receber denúncias de desperdícios

 

Plano para o caso de desabastecimento parcial na cidade inclui rodízio

Nier Pinheiro nega que a cidade possa ficar completamente desabastecida nos próximos meses, mas admite que existe a possibilidade de isso acontecer de forma parcial. Caso a situação chegue nesse nível, o Depasa irá trabalhar com o sistema de rodízio para poder atender as pessoas. “Da forma que estamos indo, se o rio continuar secando e não tivermos esse controle do desperdício de água, a gente vai ter dificuldade de manter a distribuição de água nos níveis de hoje. Vamos ter que racionar em alguns locais”.

Para não deixar que a situação chegue tão longe, Nier Pinheiro faz um apelo à população. “Ajudem-nos a manter o serviço. A gente consegue até ficar um dia sem carro ou sem qualquer outra coisa, mas sem água é complicado. Você tem seu filho, tem sua roupa, tem a sua casa. Por isso, queremos pedir ajuda para que todos possam realmente emplacar essa campanha Nós Contra o Desperdício”.

Possibilidade de rodízio de água em Rio Branco é real

 

Geógrafo fala sobre desperdício de água e a importância da preservação do meio ambiente

Segundo o geógrafo, ainda não existe nenhum plano de preservação do Rio Acre e seca pode piorar em 60% nos próximos meses

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Muita gente já ouviu falar da importância da preservação do meio ambiente e dos esforços dos ambientalistas para reduzir o impacto do homem no planeta. Porém, essa atitude não deve partir apenas de determinados grupos, pois a colaboração de cada um é essencial. Quando se fala em meio ambiente, preservação é a palavra de ordem.
Atualmente Rio Branco tem sofrido as consequências da ação humana e das mudanças climáticas. Nesta sexta-feira, 29, o Rio Acre atingiu a menor cota já registrada na história, desde 1971, ano em que o manancial começou a ser monitorado. Segundo a Defesa Civil, as águas marcaram 1,49 m.

Não há como falar de seca sem mencionar o desperdício de água. Até quando as pessoas vão continuar desperdiçando água na Capital? O geógrafo Claudemir Mesquista, conhecido por sua luta em defesa do Rio Acre, afirma que esse problema deve persistir por muito tempo.

“Esse rio ainda é desconhecido, pouco se fala, pouco se discute, pouco se mede esse rio, e o desperdício perdura. Porque ninguém conhece. Quando não se conhece, não se tem importância, só há importância quando se tem situações de extremas escassez”, disse.

O geógrafo considera dois parâmetros quando se fala em preservação e cuidado com as águas: desmatamento da mata ciliar – vegetação que existe nas margens dos rios e o sistema de esgoto. Ele conta que cerca de 90 mil hectares já foram desmatado neste canal.

“O esgoto que chega nesse rio já é algo do tamanho que se recolhe. Toda água que se recolhe a população devolve como esgoto, porque as estações de tratamento ainda não funcionam o suficiente para devolver essa água limpa ou tratada”.

Plano de  Preservação do Rio
De acordo com o geógrafo, ainda não existe nenhum plano de preservação do manancial. Ele considera o Rio Iquiri, que banha o município de Senador Guiomard, a solução para uma possível escassez do Rio Acre.
“O rio Iquiri é aqui do lado, ele nasce em Capixaba, nos conhecemos as nascentes desses rio, que ainda estão desmatadas. Mas, se nós fizermos a recuperação das nascentes, se existe um consórcio de municípios para que se faça a preservação do Iquiry, esse rio pode ser nosso plano B. Sem imaginar ideias mirabolantes tipo barragens, ou algo próximo disso. Afinal, barragem não garante absolutamente nada de segurança pra ninguém. Uma bacia hidrográfica é perene e eterna”, relatou.

Situação pode piorar até 60%
Mesquita diz que a situação de seca do manancial que corta a Capital pode piorar até 60% no período de agosto a outubro deste ano. “Essa é uma previsão e não uma precisão. Se perdurar até outubro, aí nós vamos perceber que o rio está intermitente, ou seja, navega em alguns locais e outros não”.
Ainda de acordo com o geógrafo, a possível interrupção da navegação no rio afetará diretamente a economia do Estado, já que a produção de frutas e verduras locais são distribuídas através do rio.
“Além disso, outro detalhe importante é que toda água que por ventura vier chover nesses dois ou três meses fica nos açudes, para gerar a economia. Ou seja, para a bacia leiteira, porque ela é a base da economia desse município e Estado. Tudo de água para o Rio Acre não vem mais, por isso que o nível está descendo muito rápido. Todos os afluentes estão com um déficit de pelo menos 60% da água superficial, porque essa água já ficou nas barragens dos açudes”, ressaltou.

Seca do Rio Acre era esperada?
O geógrafo comenta que normalmente o intervalo entre uma grande enchente ou seca é entre 10 e 15 anos. Por isso, a seca repentina do manancial foi algo que o surpreendeu. Para ele, o principal motivo para a antecipação do fenômeno foram as mudanças climáticas, que acontecem sobretudo em função da ação humana.
“Daqui para frente não se pode prever o que vai ocorrer com essas alterações bruscas do clima, porque o que afeta o rio é o clima. Se as temperaturas aumentam muito e as chuvas se ausentam da região certamente a seca se prolongará. Este ano tem uma característica a mais, além da seca nos rios, a umidade relativa do ar também está muito seca”.

Educação Ambiental
Por fim, Mesquista destaca o papel da educação ambiental em todos os níveis de ensino. Ele dizque a metodologia usada pelos educadores precisa mudar. Ao invés de apenas falar sobre as consequências de não preservar o meio ambiente, é preciso mostrar na prática, qual o impacto do esgoto doméstico ser jogado diretamente no rio, por exemplo.
“Se o rio soubesse para onde ir ele não passaria por uma cidade. Esse rio não comporta passageiros, somos todos tripulantes, tudo que acontecer vai afetar a todos nós. Nós só vamos entender esse fato com exemplos do que está acontecendo. Só a partir daí a população vai entender melhor a necessidade de se preservar e conservar a floresta e a mata ciliar”, concluiu.

 

 

 

A Gazeta do Acre: