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Falar e entender o problema pode salvar vidas

Suicídio: falar e entender o problema pode salvar vidas

Informação é fundamental para combater os casos de tentativa de suicídios, apontou o médico Marcos Araripe
Informação é fundamental para combater os casos de tentativa de suicídios, apontou o médico Marcos Araripe

 

 

 

 

 

 

 

 

Em 2016, segundo o psiquiatra e diretor-geral do Hosmac, Marcos Araripe, foram registrados 180 casos de tentativas de suicídio apenas no Pronto Socorro de Rio Branco. Em 2014, foram 36 suicídios confirmados. Com ações de prevenção, em 2015 esse número baixou para 32. Porém, ainda assim, trata-se de um dado alarmante.
Os números estão aí para mostrar que as doenças da mente continuam a tirar vidas, e, ainda assim, falar de suicídio é um tabu em muitos lugares.

De acordo com Araripe, a pessoa, quando possui o que a psiquiatria chama de ideação de suicídio ou comportamento suicida, vai apresentar sinais. São pequenas atitudes que podem até passar despercebidos, mas que estão lá. “Em algum momento ela vai falar para o familiar ou para o amigo que ele está querendo tirar a vida. Ou então começa a dar seus pertences, começa a se despedir. Ela também pode postar no Facebook algumas coisas relacionadas a suicídio ou fala que vai fazer uma viagem longa sem data para voltar. Ela vai dar indí-cios do que pretende fazer”.
Quando a pessoa começa a pensar em suicídio, ela fica muito deprimida e reservada. Se a vida social era muito agitada, de repente, nota-se um isolamento estranho. No caso das mulheres, aponta Araripe, a perda da vontade de se arrumar é um forte sinal. “A autoestima e a vaidade da mulher ficam baixas”.
Ao identificar um comportamento suicida, o primeiro passo fica por conta da família, que tem papel fundamental na recuperação desse paciente. É ela quem deve oferecer ajuda. O apoio pode salvar uma vida.

O segundo passo é procurar o atendimento psicossocial, que é dado pelo médico, psicólogo e psiquiatra. A família deve estar presente nesse momento para entender o que está acontecendo, descobrir a motivação para o comportamento suicida, para então tratar.

De acordo com Araripe, em 2016 houve um aumento no número de atendimentos voltados para o suicídio. “As tentativas de suicídio estão aumentando assustadoramente”, destaca.
O psiquiatra revela que planeja fazer uma ação preventiva no município de Porto Acre. Da metade do ano para cá, casos de tentativa de suicídio aumentaram e preocupam a Saúde. “Isso está acontecendo principalmente com a população feminina e jovem. A gente quer conversar com a população daquele município para entender o que está motivando esse comportamento”.
Aumentos dos casos em um mesmo lugar, geralmente estão ligados com o intuito suicida. Isso ocorre quando a pessoa tem a intenção de tirar a própria vida, mas não está motivada a fazê-lo. A partir do momento que ela percebe que pessoas próximas ou da mesma cidade conseguiram, ela vai tentar também.

Segundo Araripe, tudo ao redor pode gerar um comportamento suicida. Ele lembra o caso registrado no mês passado, no Rio de Janeiro, onde quatro pessoas da mesma família foram encontradas mortas. A suspeita é de que o marido matou a esposa, os dois filhos pequenos e depois se matou, porque havia falido. “Ele era um empresário bem sucedido e de uma hora para outra faliu. Não soube lidar com o problema. Na cabeça dele, ele achou que os filhos iriam sofrer. Então a forma que ele usou para aliviar o problema foi no homicídio da família e no suicídio dele”.
A depressão pode vir com sintomas psicóticos, como a tentativa de suicídio. Outra patologia que é muito comum, porém pouco divulgado, segundo Araripe, é o transtorno bipolar. A bipolaridade em sua fase depressiva pode levar ao suicídio. Até mesmo a esquizofrenia, quando atinge os sintomas graves pode levar ao homicídio ou ao suicídio.

Além disso, existem os fatores sociais como a separação matrimonial, o fracasso financeiro, um término de relacionamento, desilusão amorosa, uma derrota na eleição, fatores externos que podem levar ao suicídio.

Quando a pessoa se identifica com os sintomas citados, ela deve procurar o médico, que dará o encaminhamento adequado. “A gente pode entrar com o medicamento, que geralmente é um estabilizador de humor, um antidepressivo. Depois ele será encaminhado para um acompanhamento psicológico. A família deve ser chamada também para ser alertada para os sintomas de suicídio e de como lidar com a situação naquele dado momento”.
Em 95% dos casos de tentativa de suicídio ou ideação suicida, que chegam aos hospitais de Rio Branco, é indicada a internação para a prevenção do suicídio.

Preconceito

A falta de informação é um fator problema quando o assunto se refere a pessoas com comportamento suicida. Em muito dos casos, a família não procura ajuda porque tem vergonha da situação.
“As pessoas acham que quem se encontra nesse estado tem a mente fraca. Dizem que é falta de amor, falta de Deus, ou dizem que a pessoa é mimada. Mas não é. É preciso entender que isso é uma doença, que não escolhe sexo ou classe social. É uma doença como uma hipertensão ou um problema relacionado à diabete, que precisa de tratamento e, se não for tratada, pode levar à morte”.

A campanha

A Campanha Setembro Amarelo é um movimento da Sociedade Brasileira de Psiquiatria junto com a Associação Médica Brasileira e o Conselho Federal de Medicina. O principal objetivo é alertar a população sobre o risco que o suicídio trás para o paciente e para os familiares.
Durante a campanha é intensificada a divulgação nas redes sociais e em todos os meios de comunicação para mostrar para a população o que pode ser feito e onde que ele deve ir para procurar o atendimento.

Marcos Araripe, filiado à Associação Brasileira de Psiquiatria, é um dos que abraçou a causa da Campanha Setembro Amarelo. Ele faz parte do Núcleo de Psiquiatria no Acre. A campanha é para todos”, declara.

Do início do mês até agora, já foram realizadas várias atividades em Rio Branco. Dentre elas se destacam o encontro promovido no Centro Cultural Lydia Hammes, no dia 1º, e a roda de conversa na Secretaria Estadual de Educação. Neste final de semana também foi realizada a I Jornada de Prevenção de Suicídio e Valorização da Vida promovida pelo Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb).

Araripe desconhece que a programação esteja sendo realizada nos municípios do interior. Segundo ele, há somente psiquiatras em Rio Branco e Cruzeiro do Sul. “Nos outros locais têm CAPs, que são os Centros de Atenção Psicossocial. Nesses centros têm clínicos capacitados para essa temática”, explica.

O psiquiatra aproveita para fazer um convite especial. “A nossa vontade é que essa campanha chegue ao maior número possível de pessoas. Quero pedir para os internautas e leitores que publiquem e compartilhem essas informações. Levantem essa bandeira como se fosse para o próprio familiar, pois quanto mais pessoas estiverem informadas, menor será o número de tentativa de suicídio”, afirma Araripe.

“O suicídio existe, é real e pode ter alguém bem perto de você”, alerta psicóloga

“O suicídio existe, é real e pode ter alguém bem perto de você, planejando tirar a própria vida”, alerta a psicóloga, terapeuta individual e de casal, Claudia Correia. Essa preocupação é intensificada durante todo o mês. O Setembro Amarelo ocorre desde 2014, e é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, por meio de identificação de locais públicos e particulares com a cor amarela que representa a vida, a alegria, o brilho, a luz.

Doenças como a depressão são as principais causas para o suicídio, por isso, Claudia destaca que o Estado do Acre precisa dar mais atenção a esta realidade. “É assustador o número de suicídios. O Acre está em quarto lugar entre os estados brasileiros no crescimento das taxas de suicídio da população jovem, de 15 a 29 anos, um aumento de 83% por cem mil habitantes. Isso é sério”, ressaltou a psicóloga.

Todas as vezes que uma pessoa resolve seus conflitos existe um fortalecimento emocional. Isso é vida. Quando se percebe um comportamento entristecido, é preciso abraçar e acolher essa pessoa. “Simples palavras têm grande poder. Eu estou com você. Não te julgo. Não te chamo de covarde. Não te ignoro. Estou te acolhendo. Levante a cabeça. Tudo é um momento. Todos nós passamos por problemas e dificuldades”, comentou Claudia.

Como ajudar uma pessoa deprimida? “Deixe ela falar! Escute essa pessoa. Não precisa ser apenas um profissional. Um amigo pode ouvi-lo, ser atencioso, acolhedor, livre de tabus, assim poderá mostrar a essa pessoa a importância de ajuda de um profissional”, esclarece a psicóloga.
“Falar sobre algo é a melhor solução. Precisamos desmistificar o tabu na sociedade, e falarmos abertamente sobre o suicídio, afinal, é um problema de saúde pública, tem pessoas pensando, tentando e tirando a própria vida”, afirma Claudia.

A campanha ainda está muito recente, afinal, teve início em 2014 em Brasília. A ideia é que toda a população precisa ser envolvida para ocorrer uma redução nos números, apontou a profissional.
Com anos de experiência nessa área, Claudia Correa, explica que como profissional, jamais pode se manter neutra, sem nada sentir. “Ao saber da tentativa de suicídio, preciso ouvir, deixar o outro falar, busco compreender esta dor que angustia a alma e mata silenciosamente. Estou aqui para acolher, cuidar e orientar”, detalhou.

“Em seguida, preciso apresentar os motivos para a pessoa permanecer vivo, afinal, a mente e a alma de uma pessoa mergulhada nesta dor, está focada na negatividade, na falta de esperança, na escuridão, por isso a importância de mostrar a vida, a luz, a alegria de viver. Eu preciso sentir o outro, compreender a dor, ouvi-lo e fazer as intervenções apropriadas, segura e firme. Afinal, alguém tem que ser mais forte!”, destacou a psicóloga.

Quando se percebe um comportamento entristecido, é preciso abraçar e acolher essa pessoa
Quando se percebe um comportamento entristecido, é preciso abraçar e acolher essa pessoa

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Colocar fim a uma dor

É interessante ressaltar, que uma pessoa com depressão profunda, que tenta contra a própria vida, por exemplo, tem como objetivo acabar com uma dor insuportável, explica a psicóloga. “Vários pacientes que sobrevivem às tentativas descrevem sentir a mente ser comprimida e espremida ou uma inquietação por todo o corpo, além de uma voz que sussurra meios para acabar com essa dor. Não pensam em nada e em ninguém. Eles não pensam em tirar a vida e sim acabar com aquela dor”, completou Claudia.

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Setembro Amarelo: campanha conscientiza sociedade sobre a prevenção do suicídio

Iniciado no Brasil em 2014 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), o Setembro Amarelo visa conscientizar a sociedade sobre a prevenção do suicídio.

Em 2015, a campanha ganhou mais exposição com ações em todas as regiões do Brasil. Monumentos ganharam iluminação amarela em alusão ao movimento como, por exemplo, o Cristo Redentor no Rio de Janeiro (RJ), Congresso Nacional em Brasília (DF), o estádio Beira Rio em Porto Alegre (RS), entre outros.

O CVV é uma das principais mobilizadoras do Setembro Amarelo no país. A entidade atua na prevenção do suicídio desde 1962, membro fundador do Befrienders-Worldwide e ativo junto a Associação Internacional para Prevenção do Suicídio (IASP). O movimento acontece durante todo o mês de setembro em todo o mundo. Porém, o Dia Mundial de prevenção do Suicídio foi realizado neste sábado, 10.

Suicídio mata mais jovens que o HIV

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), tirar a própria vida já é a segunda causa de morte em todo o mundo entre jovens de 15 a 29 anos de idade. No Brasil, o índice de suicídios nesta mesma faixa etária é de 6,9 casos para cada 100 mil habitantes. O país é o 12º na lista de países latino-americanos com mais mortes neste segmento.
Ainda segundo a OMS, 800 mil pessoas cometem suicídio todos os anos. E para cada caso fatal há pelo menos outras 20 tentativas fracassadas. O índice de suicídios entre mulheres de 15 a 29 anos é de 2,6 por 100 mil pessoas, mas a taxa salta para 10,7 entre a população masculina. Em termos globais, 75% dos suicídios ocorrem em países de média e baixa renda.
No ranking das principais causas de morte de jovens entre 15 e 29 anos, o acidente de trânsito lidera com 11,6% dos casos. O suicídio vem logo em seguida com 7,3%. A terceira causa é o HIV/Aids.

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Amarelo de setembro, amarelo da vida

Já falaram que é besteira, que é falta do que fazer. Disseram que estava com a mente vazia e, que nesse caso, o tal diabo se instala com força. Quando dei por mim, estava com um vidro de remédios para dormir, daqueles fortes. À época, tinha 16 anos, e não sei muito bem o porquê de fazer tudo isso. Chamar atenção? Punir os outros pela minha dor? Não sabia o que era e, na verdade, nem queria saber: só queria acabar com aquele sentimento que comprimia meu coração e me fazia parar de respirar. Era literal, não imaginação. Tinha de parar e, sinceramente, eu não sabia como.
Sim, estou falando de uma tentativa de suicídio. A minha própria. Reuni, nessas poucas palavras que vou discorrer a partir de agora, coragem que não sabia que tinha para falar sobre o assunto. Desculpem meus familiares por expor a situação, mas ocorre que muitas pessoas passam por isso e eu precisava desesperadamente contar esta história. A minha história.

Aos 16, fui diagnosticada como mais uma adolescente depressiva. Minhas notas, antes altas e motivo de orgulho dos meus pais, baixaram expressivamente. Não conseguia dormir à noite e a todo instante chorava. Chegava, inclusive, a pensar que não iria conseguir erguer a mão para copiar o exercício que a professora escrevia na lousa. Senti-me, pela primeira vez, inútil. E, como nunca imaginei que aconteceria a mim, comecei um tratamento difícil para a depressão. Difícil, mas extremamente necessário.

Logo no início, passei a dormir em sala de aula, já que os remédios causam um sono descomunal pela manhã e uma insônia terrível na madrugada. O ombro da minha melhor amiga era o travesseiro, e lembro-me de ter sonhos completos durante a aula de geografia. Não conseguia me concentrar, não conseguia escrever, não conseguia participar. Em resumo, e num resumo bem triste, parei de viver aos 16 e, aos 16, decidi por fim nisso. Numa bela madrugada, peguei os remédios que o médico havia me passado para dormir e engoli todos de uma vez – e não me perguntem quantos, não lembro! – Após o ato de desespero, pensei em meus pais e, assustem-se, me arrependi. “Minha mãe, ela não vai aguentar sem mim. E meu pai, meu pai!”, lembrei. Tão rapidamente quanto havia tomado os comprimidos, acordei minha mãe. “Tomei mais do que devia. Desculpa, mãe!”.

Correndo, meus familiares me levaram ao hospital. Tubos entraram pelo meu nariz enquanto os médicos corriam para me tentar fazer vomitar. “Deixe que ela vomite, é melhor que ela ponha para fora”, diziam as pessoas de branco. Não me recordo as suas faces, mas, hoje, em especial, agradeço a todas elas.

Vocês devem estar se perguntando agora o motivo de eu estar falando algo tão pessoal. Bom, meus queridos, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, em 2011, aproximadamente 25 pessoas se suicidavam por dia, só no Brasil. Em todo o mundo, esta estatística era de nada menos que duas pes-soas que tiravam a própria vida por minuto. Por minuto! E o que mais me assombra – porque sim, isso é uma assombração na minha vida! – é que pouco discutimos sobre o assunto. Falar de suicídio por quê? Se a pessoa quer se matar, que se mate, não? Bem, não!
O fato é que o suicida pode estar ao lado. Pode ser seu vizinho, seu pai, sua mãe, sua avozinha querida. Qualquer pessoa corre o risco de desenvolver uma doença psicossomática e querer acabar com a dor. E olhem, sofrer de qualquer transtorno depressivo é extremamente difícil. Não é frescura, não é besteira, não é fracasso. E antes que digam aquela famosa frase que afirma que “quem quer se matar, não avisa”, eu digo, como uma pessoa que já viveu: nós avisamos, sim. Avisamos com as lágrimas nos olhos, avisamos quando não queremos acordar pela manhã e ver o sol, avisamos quando não conseguimos observar a beleza da vida, avisamos o tempo todo. As pessoas é que não entendem.

Não é apenas setembro que tem de ser amarelo. O ano tem de ser amarelo, e sabem o motivo? Porque mais vidas precisam ser salvas. O que eu quero dizer, meus caros, é que a nossa mão precisa estar estendida, porque, senão, quem precisa de ajuda não consegue se apoiar. E para levantar, é sempre necessária uma muleta. Sejam muletas, sejam amarelos, sejam humanos. Vistam a camisa e o amarelo no coração, porque a vida, bem, ela foi feita para ser vivida. Ajude a quem quer acabar com a dor, e não com a vida.

Ah, e apenas para deixá-los cientes: o tratamento ajuda, sim, viu? Hoje, aos 27, tenho uma vida absolutamente normal. Já casei, já descasei, moro só e tenho um apoio ímpar de meus pais e verdadeiros amigos. Lembrem sempre que o suicida de hoje pode ser o vitorioso de amanhã. E uma pessoa que pode amar a vida. Como eu!

*Anne Nascimento –
Jornalista

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