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As crises da vida e a autorrealização

Caro (a) leitor (a), do Jornal A GAZETA, Paz e Bem! Ultimamente, temos ouvido falar muito da crise e crise das crises, aquela da Terra e da vida, ameaçadas de desaparecer como acenou o Papa Francisco em sua Encíclica sobre “o cuidado da Casa Comum”. Mas tudo o que vive é marcado por crises: crise do nascimento, da juventude, da escolha do parceiro ou parceira para a vida, crise da escolha da profissão, crise do “demônio do meio-dia” como alguns falam que é a crise dos quarenta anos e quando nos apercebemos que já estamos chegando ao topo da montanha e começa a sua descida. Por fim, a grande crise da morte quando passamos do tempo para a eternidade.

Durante uma crise de vida, você pode facilmente perder sua motivação e até mesmo sua razão de viver. Tudo parece doloroso, sua vida aparentemente desmorona diante de seus olhos, e você simplesmente não sabe para onde se virar. Você não pode escapar, fugir, ou voltar no tempo; você apenas tem que enfrentar a tempestade e esperar o melhor. No entanto, as coisas ruins geralmente acontecem em nossas vidas, para chegarem coisas melhores.

O desafio posto a cada um não é como evitar as crises. Elas são inerentes à nossa condição humana. A questão é como as enfrentamos: que lições tiramos delas e como podemos crescer com elas. Por aí passa o caminho de nossa autorrealização e de nossa maturidade como seres humano ou de nosso fracasso.

Toda situação é boa, cada lugar é excelente para nos medirmos conosco mesmo e mergulharmos em nossa dimensão profunda e deixar emergir o arquétipo de base que carregamos (aquela tendência de fundo que sempre nos martela) e que através de nós quer se mostrar e fazer sua história que é também a nossa verdadeira história. Aqui ninguém pode substituir o outro. Cada um está só. É a tarefa fundamental da existência. Mas sendo fiel neste caminhar, a pessoa já não está mais só.

A geografia do mundo espiritual é diferente daquela do mundo físico. Nesta, os países se tocam pelos limites. Na outra, pelo amor que emerge das religiões (pelo menos deveria). É a indiferença, a mediocridade, a ausência de paixão na busca de nosso EU profundo que nos distancia do amor aos irmãos, e dos outros e assim perdemos as afinidades, embora estejamos ao lado deles, no meio deles e pretendendo estar a serviço deles.

Qual é o melhor serviço que posso prestar às pessoas? É ser eu mesmo como ser-de-relações e por isso sempre ligado aos outros, ser que opta pelo bem para si e para os outros, que se orienta pela verdade, ama e tem compaixão e misericórdia.

A realização pessoal não consiste na quantificação de capacidades pessoais que podem ser realizadas, mas na qualidade, no modo como fazemos bem aquilo que a vida situada nos cobra.

A quantificação, a busca de títulos, de cursos sem fim, pode significar em muitas pessoas a fuga do encontro com a tarefa de sua vida: de se medir consigo mesmo, com seus desejos, com suas limitações, com seus problemas, com suas positividades e negatividades e integrá-los criativamente. Foge no acúmulo do saber inócuo que mais sabe e afasta dos outros do que nos amadurece para poder compreender melhor a nós mesmos e o mundo. A linguagem trai estas pessoas que dizem: sou eu que sei, sou eu que faço, sou eu que decido. É sempre o eu e nunca o nós ou a causa, comungada também por outros.

A primeira tarefa da realização pessoal é aceitar a nossa situação com seus limites e possibilidades.

Outra tarefa imprescindível para a realização pessoal é saber conviver com o último limite que é a morte. Quem dá sentido à morte, dá sentido também à vida. Quem não vê sentido na morte também não descobre sentido na vida. Morte, porém, é mais que o último instante ou o fim da vida. A vida mesma é mortal. Em outras palavras, vamos morrendo lentamente, em prestações, porque quando nascemos começamos já a morrer, a nos desgastar e nos despedir da vida. Primeiro nos despedimos do ventre materno e morremos para ele. Depois nos despedimos da infância, da meninice, da juventude, da escola, da casa paterna, da idade adulta, de algumas de nossas tarefas, de cada momento que passa e por fim nos despedimos da própria vida.

Esta despedida é um deixar para trás não apenas coisas e situações, mas sempre um pouco de nós mesmos. Temos que nos desapegar, nos empobrecer e esvaziar. Qual o sentido disso tudo? Pura fatalidade irreformável? Ou não possui um sentido secreto? Despojamo-nos de tudo, até de nós mesmos no último momento da vida (morte), porque não fomos feitos para esse mundo nem para nós mesmos, mas para encher nossa vida de Deus! E Deus vai, na vida, nos tirando tudo para nos reservar cada vez mais intensamente para si; pode até tirar-nos a certeza se tudo valeu a pena. Mesmo assim persistimos, crendo nas Sagradas Escrituras: “Se teu coração te acusa, saiba que Deus é maior que teu coração” (cf. 1 Jo 3,20 ).

As negatividades e as crises pelas quais passamos nos dão esta lição: de nos despojar e de nos preparar para a total plenitude em Deus e já dizia Santo Inácio de Loyola: “Age como se tudo dependesse de ti, mas consciente de que na realidade tudo depende de Deus”. Você não pode ter um arco-íris sem uma tempestade, lembre-se disso na próxima vez em que lidar com uma crise de vida. Uma abençoada quinta-feira de Paz e Bem!
Interino do Frei Paulo

Narciso Cândido L. Neto
Coordenador do grupo Amigos de Francisco e Clara – encontros no 4º domingo de cada mês na Paróquia Santa Inês às 07:00 horas.
Articulador para a criação em Rio Branco da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular – OFS
narcisocandido7@gmail.com
(68) 99986-4474

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