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Dominar a Língua Escrita é questão de cidadania

Sabemos que a língua escrita é uma representação da fala, mas não uma mera reprodução dela, considerando possuir estratégias de organização específicas que lhes são peculiares. A linguagem é um objeto simbólico construído pela humanidade. Os seres humanos primitivos usavam uma expressão bastante correta, composta pela fala e pelo gesto. A escrita passa a ser caracterizada por um instrumento mais generalizante, com o desenvolvimento do pensamento humano, pois ela tem sua origem nos primeiros signos utilizados pelos povos primitivos com o intuito de ajudar à memória.

Na opinião de Vygotsky e Lúria (1996, p. 120):

Tudo o que a humanidade “enculturada” lembra e conhece hoje em dia, toda sua experiência acumulada em livros, vestígios, monumentos e manuscritos, toda essa imensa expressão da memória humana – condição necessária para desenvolvimento histórico e cultural do homem, deve-se à memória baseada em signos.

Assim, a história da escrita está intimamente ligada à evolução do passado da humanidade, de como o ser humano se desenvolve para controlar sua memória, passando, desse modo, da linguagem oral para a linguagem escrita, seja a escrita pictográfica, na qual se utilizavam imagens visuais para transferir os pensamentos e conceitos, sena a escrita ideográfica ou hieroglífica, que utilizava símbolos que se afastava do objeto.

Na concepção de Cagliari (1993, p. 96):

A escrita é algo com o qual nós, adultos, estamos tão envolvidos que nem nos damos conta de como vive alguém que não lê e não escreve, de como a criança encara essas atividades, de como de fato funciona esse mundo caótico e complexo que nos parece tão familiar e de uso fácil.

Imaginar que uma pessoa, nos dias de hoje, ainda vive sob a escuridão provocada pelo desconhecimento da linguagem escrita, causa certo mal estar, porque, como o autor colocou acima, a escrita se tornou algo essencial para a sobrevivência humana, tornando-se quase que imperceptível a sua ausência em determinado grupo.
Por isso, a atenção para a aprendizagem da criança a partir da mais tenra idade, se faz necessária, porque é inconcebível que ela permaneça crescendo e se desenvolvendo, intelectualmente, dentro de um mundo onde a escrita e leitura estejam distantes uma da outra.

Em uma pesquisa realizada, no país, pelo Programa “Retratos da Leitura do Brasil”, sobre a leitura, os resultados são os seguintes: mais de 60% da população brasileira considera a leitura uma fonte de conhecimento para a vida. É o que diz a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”

A verdade é que ler traz muitos benefícios a quem o pratica de modo correto. A leitura desenvolve e aumenta o repertório geral, auxilia para que o indivíduo tenha senso crítico, amplia o vocabulário, estimula a criatividade e, finalmente, facilita a escrita. Aquela pessoa que não domina o código escrito é como uma árvore sem raízes, que balança e cai a depender da intensidade dos ventos que sopram. Deixa de ser competitiva no mercado de trabalho.

Finalmente indaga-se: de quem é a culpa de haver analfabetos no Brasil? A responsabilidade dessa falta de qualidade, não deve recair sobre educadores e trabalhadores da área de educação, pois é uma questão muito mais ampla, e a solução depende de investimentos por parte dos governantes que sempre enganam o povo. Antes da eleição dizem: vamos priorizar EDUCAÇÃO. Depois de eleitos elegem por prioridades os interesses particulares. Essa gente deveria ser banida da política. Desviar dinheiro da Educação é o maior crime cometido contra o povo de uma nação. Dominar a língua escrita é questão de cidadania.

DICAS DE GRAMÁTICA
COMO USAR “SE NÃO” ou “SENÃO”, PROFESSORA?
SE NÃO – É o mesmo que “caso não”, como na frase “Se não dormir mais cedo, vou acordar mais tarde”
SENÃO – É o mesmo que “do contrário”, como na frase: “Eu estava dormindo, senão atenderia”; ou o mesmo que “a não ser”, como na frase “Não faço outra coisa senão amar você.”
Uso de “TÃO POUCO” ou “TAMPOUCO”
TÃO POUCO – É o mesmo que “muito pouco”, como no exemplo “Ganho tão pouco que não dá nem pro cafezinho.”
TAMPOUCO – É o mesmo que “também não”, como no exemplo “Não comi a salada tampouco a sobremesa.”

Luísa Galvão Lessa Karlberg, IWA – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Presidente da Academia Acreana de Letras; Membro perene da IWA.

A Gazeta do Acre: