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Integração social e qualidade de vida para idosos no Acre

Point da melhor idade em Rio Branco, o Senadinho atrai pessoas de todas as idades

Ao som de bandas que tocam desde o forró pé de serra aos melhores clássicos do chorinho, embalados pelas bandas Raíz da Terra e Grupo Hélio Melo, os frequentadores do Senadinho formam uma grande família. Idosos de todos os bairros de Rio Branco tem compromisso certo as quarta e sextas-feiras, das 9h às 11h.
A rainha do Senadinho há seis anos, Terezinha Maria da Silva, 67 anos, explica que o público que frequenta o local busca muito além da dança. “Aqui convivemos so-cialmente com outras pessoas. Idosas ou não. Isso é viver”, contou ela que é professora aposentada.

Um dos frequentadores mais assíduos e antigos é José Bernardo, mais conhecido como Panelada, de 87 anos. “Esse projeto tem uma grande importância como ‘elixir’ para a saúde. O Senadinho tem um alcance que chega até a alma.  Aqui não tem ninguém doente. Aqui tem um grande cunho social. Aqui se uma pessoa chega doente a gente trata dela com amor e arte”, disse.
Mas, nem só de dança vive o Senadinho, vários casamentos já saíram de pessoas que se conheceram lá. Um dos casais formados, Rita Maria e Agostinho Sacramento são um dos mais assíduos.
“Tive um problema de saúde e precisei amputar o pé. Antes disso, dançava onde quer que o Forró do Senadinho ia. Passei dois meses no hospital, quando tive alta o primeiro lugar que vim foi para o Senadinho. Senti muita falta. Aqui tenho amigos”, falou Sacramento.

Os casos de amor que o Senadinho serviu de inspiração para um filme, inclusive, denominado ‘Um tempo a Mais’.

A jovem Marcele Oliveira, 24 anos, não perde uma edição do forró. “Se engana quem pensa que aqui só tem idoso. Gosto de dançar e aqui danço muito”, comentou a jovem.
O coordenador do espaço, Aparecido Alves dos Santos, ressalta que 30% do público que comparece ao Senadinho são ex-seringueiros. “Eles ajudam a contar a história do nosso Estado. Hoje o idoso que frequenta o Senadinho tem uma vida com muito mais qualidade”, destacou.

O Senadinho se tornou patrimônio cultural de Rio Branco e lá nenhuma data comemorativa é passada em branco. A cotinha para os salgados, doces e refrigerantes é feita entre eles mesmos e as festas em datas comemorativas já são tradição – Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia do Idoso.

Idosos que frequentam o Senadinho afirmam que formam uma grande família

 

 

 

 

 

 

 

 

O ponto foi criado em frente ao Palácio das Secretarias de governo, bem no Centro de Rio Branco, em 2000.  O governador Tião Viana entregou, em 2012, o espaço reestruturado. O local passou por uma reforma – para a recuperação de bancos, mesas e lixeiras. O piso foi trocado e ainda houve ampliação no espaço reservado à dança.
Por ser em um espaço aberto, no período das chuvas, seis meses em média, as atividades são transferidas para outro local histórico da Capital, o Casarão, que, mesmo com as chuvas, não deixa de lotar.

O projeto é coordenado pela Fundação Garibaldi Brasil e acontece outros locais de Rio Branco. Além do Centro Cultural Neném Sombra, a FGB leva a boa música e a alegria também ao São Francisco e ainda ao Centro Cultural Lydia Hammes, no Aeroporto Velho.

O local já proporcionou a formação de vários casais

O projeto ocorre as quarta e sextas-feiras no Centro de Rio Branco

Mercado de trabalho de cuidador de idosos

O requisito para exercer a profissão é gostar de ajudar

A atividade profissional de cuidador de idosos tem dois indicativos de crescimento no Brasil: o potencial do mercado de prestação de serviços e o atendimento à população idosa.
A projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é de que em 2050 a população de idosos será de 63 milhões de pessoas.
Baseada de início em princípios intuitivos, a profissão requer hoje o estabelecimento de algumas regras e conhecimentos a serem seguidos por todos os “cuidadores”, de modo que ele se torne um profissional cada vez mais habilitado ter.

Como grande número de idosos são também doentes ou portadores de sequelas, o cuidador ideal deve reunir algumas habilidades de enfermagem com outras de acompanhante diligente.
O requisito principal é gostar da função de ajudar e não estar apenas cumprindo uma tarefa que, em si, pode ser desinteressante e às vezes difícil. Ou seja, cuidar com amor e atenção.
Por outro lado, esta função requer paciência, tolerância e compreensão, qualidades que o cuidador ou tem ou não tem de maneira espontânea e que dificilmente podem ser treinadas ou adquiridas. O cuidador não deve ser simplesmente uma pessoa que “faz pelo outro”, mas que seja capaz de estimular aquilo que o outro sabe fazer e fazer por ele apenas o que ele mesmo não consegue mais realizar.

Cada idoso apresenta características muito diferentes uns dos outros, especialmente se está sadio ou doente. Uma das peculiaridades mais comum aos idosos é a de não tolerar mudanças ou novidades. Eles se apegam a uma rotina costumeira em seus hábitos e ambiente e desejam que ela seja cumprida sem variações. Assim, reagem negativamente às mudanças de seus horários, à disposição de seus afazeres e mesmo a uma simples mudança da posição de seus móveis.

Em geral, eles têm um entendimento das coisas e uma reação a elas diferente das demais pessoas e muitas coisas que parecem óbvias para todos não parecem assim para o idoso. Outro comportamento muito comum aos idosos é o esquecimento, principalmente de fatos recentes, e a repetição dos casos que conta. Ele pode querer que se explique e re-explique várias vezes uma mesma coisa simples, explicação da qual se esquecerá em seguida.

Com a progressão da perda de memória também os fatos antigos serão esquecidos, mas muitos idosos guardam excelentes recordações do passado quando já não conseguem mais lembrar-se de acontecimentos recentes.

Cursos de enfermagem, nutrição e primeiros-socorros podem ajudar muito o profissional na hora do trabalho. A profissão de cuidador de idosos foi regulamentada no ano de 2012.
Para ser reconhecido e registrado, a pessoa deve ter algum curso da área feito em instituição reconhecida pelo MEC, ter mais de 18 anos e ensino fundamental completo.
Os contratos de trabalho devem ser feitos seguindo as mesmas regras do trabalho para domésticas, ou seja, com direito à carteira de trabalho assinada, salário fixo, férias remuneradas, repouso semanal remunerado, décimo terceiro salário, entre outros.

Nem todos os profissionais fazem o contrato, mas essa é uma forma de garantir o direito do trabalhador, principalmente quando atua em instituições especializadas.

Centro Dia para Idosos proporciona integração social e qualidade de vida para a terceira idade

O Centro Dia para idosos atende atualmente cerca de 70 idosos e tem como objetivo fortalecer laços familiares

Conciliar a vida profissional com o cuidado permanente com familiares idosos é um grande desafio. Falta gente em casa para garantir atenção necessária. O Centro Dia para Idosos em Rio Branco é um espaço para quem busca um envelhecimento saudável e ativo.

Fundado em maio de 2001, a entidade faz parte do Serviço de proteção Social Especial da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds) que compreende ações de média e alta complexidade, quando há vínculos familiares ou comunitários que se encontram em situação de rompimento ou de fragilidade.
Atualmente, o Centro atende cerca de 70 idosos. Segundo a coordenadora da entidade, Ana Paula Brant, o objetivo é fortalecer os laços familiares, tirar o idoso do isolamento e colocá-lo do convívio social, além de trabalhar capacidades físicas e mentais dos idosos.

O centro oferece atividades como caminhadas, ginástica, fisioterapia, hidroginástica, terapia ocupacional, recreação, psicoterapia, oficinas de artesanato, pinturas, além de reuniões periódicas com os familiares, para reestabelecer e/ou fortalecer os vínculos da pessoa idosa com a família e a sociedade. “O motivo principal é manter o máximo de tempo possível a capacidade de autonomia deles”.
Brant, que acompanha o dia-a-dia dos idosos no Centro, diz que é perceptível a melhora no comportamento e habilidades físicas quando há acompanhamento profissional. Ela diz que a integral social é responsável pela qualidade de vida na terceira idade.

“Quando o centro estava em reforma durante nove meses nós percebemos muita mudança. Incrível a diferença de como eles retornaram, eles regrediram em todos os aspectos. Quanto mais a pessoa fica parada tanto fisicamente como cognitivamente a tendência é acelerar o processo das dependências”, contou.
Um dos pré-requisitos para integrar o grupo é ter a autorização de um familiar, que assina um termo de responsabilidade, e deve participar das reuniões periódicas. “A família precisa se sentir compromissada com o idoso. É uma maneira de fortalecer esses vínculos e o feedback é sempre positivo”.

O Centro oferece atividades como caminhadas, ginástica, fisioterapia entre outros

“Aqui nós temos liberdade para expressar as coisas que a gente quer”, diz Vandilma

Vandilma diz que renovou forças ao frequentar o local

Basta conhecer um pouco dos idosos que frequentam o centro para ver a mudança na vida social e familiar deles. A professora aposentada, Vandilma de Freitas, de 69 anos, diz que renovou suas forças no local. Há cerca de dois anos, ela descobriu o Centro e procurou ajuda.
“A ginástica, as atividades, a liberdade que nós temos para expressar as coisas que a gente quer. Eu vim pra cá com o pé cicatrizando de uma fratura e tive toda a assistência aqui. Eu renovei muitas coisas. Estou bem melhor agora”, relatou.

Assim como os demais integrantes, dona Vandilma fica ansiosa para chegar o dia dos encontros no centro. Ela conta que teve a chance de voltar a pintar, hobby da juventude deixado de lado ao longo dos anos.

“Quando eu chego aqui é um sentimento muito bom. Tive a oportunidade de pintar, que era uma coisa que eu fazia quando era moça. Eu pintava paisagem, foram muitos anos sem pintar nada, e aqui eu tive a oportunidade de pintar de novo. Algumas coisas antigas eu estou resgatando aqui”.
Emocionada, Freitas relata que a juventude tem avançado muito em relação à consciência sobre a pessoa idosa. Porém, muitos ainda não entendem como é envelhecer e voltar a ser criança. “O Brasil está ficando um país de idosos. Uma coisa que eu achei interessante e fico analisando, como muitas vezes um jovem não percebe no idoso que a criança do idoso está aqui querendo brincar”.

Mãe e filha vivem experiências únicas

Além das atividades, o Centro também proporciona experiências únicas aos idosos. Foi assim que Marlene Moura, de 72 anos, descreveu o local. Ela começou a frequentar o centro para acompanhar sua mãe, Maria Moura de Lima, de 87 anos, e acabou integrando o grupo.

Recentemente Marlene teve a oportunidade conhecer a Universidade Federal do Acre (Ufac) e se encantou com o lugar. “Eu nunca tinha entrado na Ufac, e gostei muito. Aqui no centro dia a gente conhece muita coisa, conhecemos coisas que durante a vida inteira não tivemos oportunidade, até cidades que eu não conhecia. Mudou a minha vida com certeza”.

Maria e Marlene consideram a equipe de funcionários e os colegas do centro uma verdadeira família. No Centro, todos os dias elas aprendem algo novo. “Para mim é uma irmandade, eu gosto daqui, gosto do centro dia, gosto mesmo de coração. Para mim é uma família porque mudou muito a minha vida. Eu fico agoniada quando não posso vir. Me sinto muito bem aqui!”, falou empolgada dona Maria.

Maria e Marlene afirmam que ambiente do Centro Dia tem lhes feito muito bem

Sesc transforma e melhora a qualidade de vida de mais de 700 idosos em Rio Branco

Idosas expõem produções das oficinas de habilidades manuais

Em uma sociedade onde pouco se valoriza os cuidados com a pessoa idosa, o Sesc Acre se destaca ao garantir a longevidade e qualidade de vida para centenas de idosos que frequentam suas atividades.
O Trabalho Social do Idoso (TSI) do Sesc atende, atualmente, em Rio Branco, aproximadamente 735 pessoas idosas. A coor-denadora do Programa Assistência do Sesc, Marizete Melo, atua diretamente nesse serviço que é executado na Capital desde 1991.

De acordo com ela, o maior é objetivo é desenvolver atividades de interesse dos idosos, promovendo a socialização, levantando a auto-estima, resgatando-os do confinamento, por meio das ações realizadas dentro do Sesc.
Essas ações são os encontros sistemáticos que acontecem todas as primeiras e terceiras quartas-feiras de cada mês. Nesse momento, trabalha-se com todo o grupo, como uma forma de se voltar para a qualidade de vida dos membros. As famílias e os cuidadores também são convidados a participar dessas atividades. “Aproveitamos para instruir esses idosos sobre os direitos que eles têm, sobre suas conquistas e, com isso, colaborar para a longevidade”, acrescenta Marizete.

Outras ações sistemáticas e de extrema importância são as atividades físicas com a hidroginástica,pilates e aula de dança. Além disso, o Sesc Acre promove o protagonismo da pessoa idosa com a realização de várias oficinas, como a de automassagem. “Com isso, após essas oficinas, eles passam a ser multiplicadoras em outras instituições e ganham uma renda alternativa à aposentadoria. Assim, mostram à sociedade e, principalmente, à família que são ativos, mesmo sendo aposentados”.

Atualmente, a idade mínima para participar do TSI é 60 anos. Contudo, nem sempre foi assim. Há alguns anos, pessoas com 50 anos em diante também podiam fazer parte do grupo. Marizete afirma que a pessoa com a maior idade entre os idosos tem 92 anos e é muito ativa. “Dona Raimunda participa da hidroginástica, das reuniões e não falta”, afirma a coordenadora.
Após a inserção dentro do grupo do Sesc, os idosos passam a ter outra perspectiva, a descobrir novos talentos em si e a ter uma nova adaptação. E para fazer parte dessa família é bem fácil, explica Marizete.

“Hoje, qualquer pessoa com idade mínima de 60 anos pode procurar o Sesc Acre, em Rio Branco, com uma foto ¾, RG, CPF e um comprovante de endereço atualizado. Com isso, deve procurar a coordenação do Sesc Bosque. Ali, ele é atendido pela equipe da assistência. A partir daí, o idoso é encaminhado à Central de Atendimento e, posteriormente, ao setor de saúde. Ele irá realizar ainda uma avaliação física funcional com o técnico do Desenvolvimento Físico e Esportivo para que possamos constatar se o idoso está apto a fazer aquela atividade ou qual a mais adequada”.
A equipe da assistência é composta por oito pessoas. É um trabalho realizado pelo Sesc, que possui uma equipe multidisciplinar, ou seja, conta com o gerontólogo, administrador, educador físico, nutricionista e estagiários. “O Sesc é um grande colaborador para a longevidade dessas pessoas. Nosso trabalho é totalmente educativo e de inclusão social”, explica.

Segundo a coordenadora, 80% das famílias dos idosos que frequentam as atividades do Sesc demonstram preocupação com eles. A questão familiar está sempre nos debates e tem toda atenção do TSI.

“Nossa preocupação é também acompanhar como está vivendo esse idoso em relação à questão familiar. Temos conseguido trazer a família dessas pessoas para dentro da instituição através de ações como os encontros de convivência e os bailes. Infelizmente não é uma realidade para todos. Eu sou conselheira do idoso e atendo muitos casos de negligência e maus-tratos dentro da família”.
O Sesc está ali como um eixo condutor, com uma equipe técnica e profissional, mas a responsabilidade é da família e isso está no Estatuto do Idoso, reforça a coordenadora Marizete Melo.

“O idoso não é para ser tratado de forma infantilizada e nem diminutiva. Não devemos ter um olhar como se tê-lo em casa fosse um fardo, que não serve mais para nada. São pessoas ativas e experiente que ainda têm muito a oferecer para a sociedade e para a família”, aponta.

O Trabalho Social com Idosos é pioneiro no Brasil e começou no Sesc de São Paulo na década de 60. Hoje já existe nos 27 estados do país. Em Rio Branco faz a diferença na vida de muitas pessoas desde 1991.

“O maior retorno que a gente tem são os depoimentos das pessoas dentro dos grupos. Chegam tristes e, após a inserção dentro do Sesc elas passam a ter uma qualidade de vida melhor, a saúde melhora, passam a se aceitar quanto ao envelhecimento, passam a ter novos rumos, saem mais e são mais independentes. Isso é resultado de um trabalho de anos”, afirma Marizete.
Apesar do trabalho realizado pelo Sesc fazer a diferença na vida de centenas de pessoas, ainda é preciso mais. Existem muitos idosos que não são atingidos pelos programas sociais, ficam depressivos e isolados da sociedade. E isso precisa de uma atenção especial dos órgãos públicos e privados, declara Marizete.

“Precisamos fortalecer as redes que lidam com o envelhecimento, sensibilizar toda a sociedade civil, tratar melhor o idoso. Precisamos sensibilizar as instituições que atendem, os nossos gestores públicos. Precisamos melhorar a saúde e a qualidade de vida dessas pessoas através das ações sem nenhuma vaidade em prol da longevidade”, finaliza.

Marizete afirma que o trabalho do Sesc já mudou para melhor a vida de centenas de idosos

 

 

A Gazeta do Acre: