Caro (a) leitor (a) do Jornal a Gazeta, PAZ E BEM! Nesse mês quero partilhar com vocês, alguns elementos da “Pedagogia Franciscana” na formação daqueles (as), que se sentem atraídos pela experiência de Francisco e Clara de Assis.
Antes, é preciso internalizar bem o significado do termo “mistagogia” para tentar efetivá-lo bem. O vocábulo é formado por duas palavras gregas: MISTA – termo que vem de mistério, isto é, o segredo, o presente de Deus, e que se resumiu em “mista” e AGOG – guia, condutor, orientador.
Portanto, Mistagogia, significa processo de conduzir, guiar para dentro do mistério, dos segredos de Deus, em clima de fé de quem já passou pelo processo básico de iniciação.
Nos séculos III ao V, muitos bispos reservavam para si a tarefa de trabalhar a mistagogia com os neo-cristãos. É um tempo que se reveste de uma experiência muito especial, pois ela acontecia no tempo privilegiado do período pascal, com o objetivo de possibilitar um mergulho mais intenso nos “segredos” (mistérios) da fé cristã.
Destacarei 10 pontos que partilho com vocês. Tenham uma boa leitura.
1- Ao formador incumbe uma grande responsabilidade: “introduzir alguém numa forma de vida que foi abraçada pessoalmente e da qual nos sentimos orgulhosos. O formador é chamado a exercer uma verdadeira paternidade psíquica e espiritual, favorecendo o caminho de crescimento, deixando a cada um o tempo de assimilar e de amadurecer, intervindo quando se trata de reajustar o caminho e de levar o formando a uma nova etapa”.
2- Os irmãos que vão orientar à iniciação a nossa vida, além do preparo religioso, pedagógico e espiritual devem dar condições para que os formandos se sintam envolvidos por todo aquele carinho fraterno que Jesus quis que fosse a marca da comunidade dos seus seguidores. A fraternidade é elemento crucial na formação de iniciação, ela deve ter claros os valores que quer comunicar buscando vivenciá-los.
3- A fraternidade é local por excelência de iniciação ou deturpação dos valores a serem comunicados. Os discípulos formam outros discípulos. Nela se nasce e fortalece a iniciação. O irmão formando não amadurece na fé apenas pelo aprendizado de conceitos, ou freqüentando faculdades, mas convivendo dentro de uma fraternidade cristã que os acolhe e apoia e da qual eles são membros que dão e recebem.
4- Para serem testemunhas e anunciadores eficazes da Palavra de Deus e para colaborar no serviço da Igreja e na construção do Reino de Deus, os frades menores capuchinhos precisam que sua formação, inicial e permanente, se realize e aperfeiçoe através de uma adequada e sólida preparação. Não podemos limitar nossa formação inicial a freqüência em faculdades e cursos profissionalizantes. É preciso uma formação que faça o formando assumir responsavelmente o projeto de vida e o serviço evangelizador e missionário.
5- EM QUE CONSISTE A AÇÃO DO FORMADOR? Trata-se de fazer uma caminhada, realizar um itinerário, um processo que não deve pular etapas, desde o dia em que o formando ingressa até o dia da profissão solene. Trata-se de desenvolver aspectos complementares e diferentes, como são os aspectos humanos, cristãos e franciscanos capuchinhos, a partir da peculiaridade e da originalidade de cada pessoa. Trata-se da formação integral (física, psíquica, afetiva, espiritual cultural) – atenta a todos os aspectos da pessoa, atenta à cultura e na qual se procede a formação. Trata-se da formação gradual e harmônica, de forma que cada candidato percorra o itinerário harmonioso, de acordo com as diversas etapas sem pressas e atropelos.
6- O Espírito Santo é o verdadeiro formador dos frades menores daí a urgência em não renunciar a vida de oração dos formandos que muitas vezes não são iniciados em decorrência de viverem entre irmãos cuja vida devota não fora bem orientada e vivenciada, e com isso, a fraternidade não expressa uma vida orante de qualidade. Cabe ao formador acompanhar os formandos no discernimento do autêntico chamado de Deus para a vida capuchinha e avaliar sua opções e capacidades.
7- O protagonismo da formação é do próprio formando. O formador não pode fazer a caminhada pelo formando. Ele é um acompanhador do formando que atravessa as diferentes etapas. Ajudado o formando é quem deve decidir seguir em frente ou para e tomar outra direção. Não podemos segurar nenhum formando por necessidade de gente e nem manter ninguém por amizade.
8- Da parte da fraternidade. Na vida franciscana capuchinha, tudo deve ser compreendido a partir da fraternidade e para a fraternidade. Esta é a instância essencial para a formação dos novos frades. Deve suprir as necessidades básicas dos irmãos; material e espiritualmente. Toda fraternidade é formadora ou deformadora. Cada fraternidade e as fraternidades como um todo têm a responsabilidade de acolher e formar no nosso estilo de vida os novos membros. Muitos são os apoios que a fraternidade deve dar para uma boa formação, às vezes a ponto de poder suprir em parte as deficiências do formador. Contudo, sem um bom formador é impossível que alguém se torne frade menor capuchinho. Às vezes formamos profissionais e padres que não conseguiram assimilar os valores de nossa vida, com isso não conseguem vivenciá-los com clareza, ficando assim, impossibilitados de comunicá-los às gerações futuros.
9- A iniciação a vida franciscana implica uma formação para ser frade menor a partir da fraternidade. É evidente que somente a partir de toda a vida da fraternidade que se pode formar para ela. É na fraternidade, com os irmãos doados, que o formando aprende a ser irmão menor progressivamente, a rezar como irmão menor, a vestir-se como irmão menor, a usar dos bens como irmão menor, e evangelizar como irmão menor em fraternidade. Nesta perspectiva, formar-se significa ir adquirindo a “forma” de irmão.
10- O primeiro objetivo da formação inicial é “iniciar no seguimento de Jesus Cristo, segundo a forma de São Francisco”. No horizonte da fraternidade e da formação está sempre o seguimento de Cristo, motivo último de nossa vocação. E na medida em que vai se realizando o amadurecimento humano, a formação deverá também se preocupar com os primeiros passos do candidato no seguimento de Jesus para que não se desvirtue o objetivo de nossa vida: “seguir incondicionalmente a Jesus, indo aonde ninguém quer ir e fazendo tudo com alegria”. Levando uma vida humilde como os pobres e com os pobres, sendo uma mensagem verdadeira de desapego numa vida humilde e na alegria doadora da vida ao Reino. Não podemos ser mentirosos em nossa vida.
Deixo aqui essa provocação a você, caro (a) leitor (a), como inspiração a fim de que possas fecundar o seu itinerário de busca de Deus em sua vida.
Frei Paulo Roberto Gomes, Ordem dos Frades Menores Capuchinhos – OFM Cap.
Pároco da Paróquia de Bom Jesus do Abunã em Plácido de Castro – Acre.
Diretor Espiritual do Grupo Amigos de Francisco e Clara, que se reúnem todo 4º Domingo do mês na Paróquia Santa Inês às :07:00 horas.