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Bombeiro Mirim: projeto leva educação e disciplina a quase mil jovens no Estado

O objetivo da iniciativa é tirar adolescentes que possam estar em situação de rua

 

 

 

 

 

 

 

Este ano, o projeto Bombeiro Mirim, idealizado pelo Corpo de Bombeiros do Acre, alcançou quase 1 mil jovens em todo o Estado. Somente na Capital, 450 adolescentes participam do projeto. O curso de formação leva educação e disciplina para meninos e meninas entre 12 e 14 anos.
Durante dez meses, os participantes do curso desenvolvem o senso e a prática de cidadania e disciplina, através de atividades de preservação ambiental, prevenção de incêndios, noções de primeiros socorros, prevenção de acidentes domésticos, entre outros.

O coordenador do projeto em Rio Branco, tenente José de Brito, explica que o principal objetivo da iniciativa é tirar adolescentes que possam estar em situação de rua. “Queremos tirar esses jovens das áreas de risco e da ociosidade. Nós repassamos valores, e conhecimentos da área educacional”.
Além das atividades realizadas pelos bombeiros, os jovens também têm reforço escolar e aula de língua estrangeira, em parceria com o Centro de Estudo de Línguas (CEL). De segunda a quinta-feira, os bombeiros mirins dividem o tempo entre a escola e o curso de formação.
Brito acrescenta que quando o aluno se destaca ao longo do curso ele tem direito a renovar a matrícula por mais um ano, quando passa a ser monitor da turma seguinte.
“Eles são convidados a serem monitores e nos auxiliarem nas instruções com os adolescentes. Somente este ano estamos com cerca de 30 jovens da turma anterior, que agora são monitores”, disse.

Curso desperta interesse em entrar na carreira militar

 

 

 

 

 

 

 

 

Quem se destaca no curso tem direito a retornar

 

 

 

 

 

 
Antes e depois do Bombeiro Mirim

Segundo o tenente, os adolescentes que participam do curso terminam a formação com uma visão de mundo diferente. Ele afirma que os alunos adquirem conhecimento e experiência que levarão para o resto da vida.
Além disso, Brito conta que o curso desperta o interesse dos alunos em ingressar na carreira militar. “Eles saem daqui com um conhecimento bem ampliado. Eles viram multiplicadores desses conhecimentos que eles adquirem durante o projeto. Muitos mostram interesse em participar do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Polícia Federal, e ser um profissional da área de segurança pública”.

Diariamente os alunos põem em prática os ensinamentos que recebem durante o curso de formação. Por exemplo, ao presenciar um acidente de trânsito, os bombeiros mirins são instruídos a fazer o isolamento do local, chamar o socorro e, dependendo da circunstância, prestar os primeiros socorros.

“Eles estão aptos a fazer esse tipo de atendimento. Nós passamos pra eles os conhecimentos básicos de primeiro realizar o procedimento de segurança da vítima e chamar o socorro especializado. Ao se identificarem como bombeiro mirim facilita o socorro e para quem vai atender a ocorrência. Temos vários relatos desse tipo”.

A missão de ser um exemplo para os jovens

O 3º sargento do Corpo de Bombeiros Militar, Douglas Guedes, 28, é o instrutor de uma turma de 40 adolescentes entre 12 e 14 anos de idade, do projeto Bombeiro Mirim. Ele se voluntariou para esse serviço em 2013 e desde então tem sido o guia de dezenas de jovens ao longo desses anos.
“É uma turma boa. Como eles são os Bombeiros Mirins do São Francisco e se consideram sede do projeto, eles querem dar o melhor de si para se destacar”, afirma.

Além do São Francisco, bairros como o Cidade Nova, Aeroporto Velho e Estação Experimental, todos em Rio Branco, se transformam em sede para o aprendizado desses pequenos bombeiros.
À frente de uma turma cheia de adolescentes em uma fase complicada da vida, o sargento Guedes aponta melho-rias no comportamento no momento em que eles passam a fazer parte do projeto.
“Primeiro sinto uma mudança no desenvolvimento escolar, porque nós incentivamos muito a questão deles estudarem, se dedicarem, de eles sonharem em ser um profissional. Por isso, o desempenho na escola melhora bastante. Outra mudança é notória na questão dos princípios e na disciplina desses jovens”.

Mais da metade da turma do sargento Guedes sonha em ser bombeiro profissional e ele sabe o quanto tudo o que ele faz diante dos adolescentes pesa nessa escolha. “Posso dizer que essa seja, talvez, a missão mais árdua do bombeiro, porque você tem que ser um exemplo para eles. É uma responsabilidade muito grande. Nossas atitudes e até mesmo em nossas palavras devemos ter cuidado, pois eles copiam até o nosso jeito. Às vezes eu até me emociono em saber que eles olham para a gente como exemplo”.

Entre as atividades realizadas por Guedes e outros instrutores estão o rapel, aula de mergulho, primeiros-socorros, reforço escolar e outros.
O sargento alerta que as matrículas abrem em janeiro. Posteriormente são feitas avaliações para selecionar alguns. “Infelizmente não tem como abranger todos. No total, nós temos aqui em Rio Branco, mais de 200 alunos”.

Ao perceber uma baixa no desempenho escolar de algum dos jovens, Guedes tenta ajudar de uma forma a não perdê-lo do projeto. “Primeiro nós chamamos ele para conversar. Na maioria das vezes é um problema familiar. Nós conversamos com a família e também vamos à escola para tentar entender o que está acontecendo. Normalmente, por meio de uma conversa e um incentivo, eles voltam a melhorar o desempenho escolar”.
Além disso, os instrutores sustentam a rotina de entrar em contato com os pais para saber da disciplina dos adolescentes em casa.
A equipe do Bombeiro Mirim é multidisciplinar e conta com educadores físicos, gestor ambiental e pedagogos, aponta o sargento. “Para ser um instrutor, o primeiro passo é ser voluntário. Não é todo bombeiro que dá aula. É preciso também saber se aquele bombeiro tem aptidão para lidar com adolescentes”.

Guedes afirma que os frutos do trabalho desenvolvido hoje serão colhidos no futuro e toda a sociedade será beneficiada. “São crianças que muitas vezes moram em áreas de risco e que quando estão aqui não ficam ociosas. Nós educamos, passamos filmes, ensinamos a questão da disciplina e em ser alguém futuramente útil para a sociedade. Além disso, eles se mantêm distante das drogas”.

Preparando profissionais para o futuro

O projeto, que nasceu em 2010 no município de Cruzeiro do Sul, teve sua primeira edição na Capital no ano seguinte. De lá pra cá, os participantes do curso não alcançaram idade suficiente para realizar os concursos na área. Porém, o tenente Brito acredita que muitos dos bombeiros mirins irão fazer parte da corporação futuramente.

De acordo com o coordenador do projeto, os alunos que passam pelo curso de formação terão vantagens em relação a outras pessoas na hora de fazer prova de concurso, sobretudo na fase prática da avaliação.

“Com certeza nos próximos concursos que tiverem na Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, teremos jovens desses projetos que estarão conosco. Aqui eles despertam o interesse pelas atividades na área de segurança pública, aqui eles vão adquirir muito conhecimento”, destacou.

Guedes se voluntariou para o serviço no ano de 2013

Bombeiros mirins relatam suas experiências no projeto

Os quase mil jovens atendidos pelo projeto realizam todo tipo de atividade em vários espaços do Estado

Apesar da pouca idade, Bruno Cruz, 13 anos, e Lucas Carvalho, 14 anos, tem algo em comum. Os dois querem seguir a carreira no Corpo de Bombeiros. Apaixonados pela função eles estão adquirindo experiências e prometem não parar de seguir os vários ensinamentos transmitidos pelos oficiais.

Pelo bom desempenho durante o ano de 2015, Lucas foi chamado para ser monitor dos novatos no projeto. “Eu gosto de todas as atividades desenvolvidas aqui. Meus pais me incentivam muito. Pretendo seguir carreira”, confirmou ele que faz o 9º ano na escola Leôncio de Carvalho.
O projeto surgiu na vida dele após a mãe dele tomar conhecimento da existência do Bombeiro Mirim e matriculá-lo.

A história de Bruno Cruz não é muito diferente. Matriculado pela mãe no projeto ele quer ser bombeiro. Estudante do 6º ano da escola Lindaura Martins Leitão, Bruno diz que o ambiente é muito legal e que os ensinamentos passados pelos oficiais podem salvar vidas.

“Quero poder ajudar a sociedade. Salvar vidas. O projeto muda a vida das pessoas. A minha com certeza está mudando. Hoje eu sei fazer vários nós e sei mergulhar bem. Eu era muito tímido, o grupo me ajudou a superar a vergonha”, reconheceu Bruno.
O planejamento do jovem é ficar na cooperação para ajudar no que for preciso. “Sempre falo que quem entrar no projeto percebe que a vida fica diferente. Não vai se arrepender”, avisa Bruno.

Bruno deseja ficar na cooperação do Projeto Bombeiro Mirim

Após presenciar acidente, Lucas teve que colocar em prática o que aprendeu no Bombeiro Mirim

No início do mês de outubro, três jovens integrantes do Projeto Bombeiro Mirim, entre eles Lucas Carvalho, se depararam com um acidente de trânsito, uma colisão entre duas motos, com vítimas, nas proximidades do Terminal Urbano.
Utilizando as técnicas de primeiros socorros aprendidas nos treinamentos diários que recebem dos Bombeiros Militares, eles atenderam de pronto as vítimas.

Os jovens retornavam para casa depois de participarem das instruções com os bombeiros militares. Após o atendimento, foi acionado o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para a condução das vítimas.

Lucas foi um dos mirins que socorreu uma das vítimas

Mães comentam a importância do projeto na vida dos filhos

“Meu filho ficou mais focado e responsável”, revelou a cabeleireira Angela Maria Oliveira, mãe do jovem Thomaz Oliveira, 14 anos, que há três anos participa do projeto Bombeiro Mirim promovido pelo Corpo de Bombeiro do Acre.

Ela conta que desde muito novinho, o Thomaz sempre dizia querer seguir carreira nos Bombeiros. “Quando vi na televisão as inscrições para o projeto fui lá e inscrevi ele.  Do meu local de trabalho posso ver as atividades que são desenvolvidas. Tenho bastante confiança no que eles fazem com as crianças”, comentou Angela.

Ao fim de mais uma atividade pelo projeto, Rita Rodrigues, a mãe de Júlio Cesar faz questão de buscar o garoto no término das atividades. Moradores do bairro São Francisco, ela diz que matricular a criança no Bombeiro Mirim fez com que nas horas vagas o garoto tenha a oportunidade de ser ensinado sobre vários assuntos que ele levará para toda a vida.

“Aqui eles se mantêm ocupado. Na escola as notas melhoram também. Ele só tem a ganhar aqui”, afirmou a mãe.

Nos 10 meses de duração do curso, os bombeiros mirins recebem uniformes, aprendem sobre respeito, conduta, companheirismo, ordem, natação, primeiros socorros, salvamento em altura, educação de trânsito e outras atividades, tudo em ações e linguagem específicas para a juventude.
“Consigo perceber várias mudanças, hoje ele é um cavalheiro, prestativo e atencioso. Na escola os professores também sentiram uma grande diferença. Acredito que meu filho terá um grande futuro”, estima Angela.

Em 10 meses de curso, os bombeiros mirins recebem uniformes, aprendem sobre ordem, natação e primeiros socorros

O sonho de transformar a sociedade em um lugar melhor começa cedo

O jovem Makewillyan Silva quer ser monitor da próxima turma do projeto Bombeiro Mirim em Rio Branco

O estudante Paulo Zidane Santana da Silva tem apenas 12 anos de idade e já sabe o que quer ser quando crescer. “Bombeiro”, disse ele. Com um bom exemplo dentro de casa, ele afirma estar disposto a seguir os passos do pai, que é bombeiro.
Não titubeia um segundo quando lhe é perguntado o que mais gosta de fazer nas aulas do projeto Bombeiro Mirim: rapel e mergulho.
Já praticou também tirolesa, comando craw e até salvamento em altura. Aventuras de sobra e práticas inimagináveis para muita gente.
Na escola, ele confessa que já sofreu com piadinhas dos colegas por fazer parte do Bombeiro Mirim, mas isso não o afeta. Paulo Zidane sabe que é corajoso e que está envolvido em algo muito importante.

E não é só no nome que ele é craque. Zidane também praticou pela primeira vez no dia 7 deste mês rapel. A equipe do jornal A GAZETA acompanhou de perto essa experiência. Apesar do nervosismo, ele sequer pensou em desistir.

Segundo o jovem, a missão dos bombeiros mirins é transformar a sociedade em um lugar melhor. E ele tem o apoio da família. “Meu pai diz que eu tenho que estudar muito, focar nas provas e me comportar”.

O soldado mirim Paulo Zidane gosta de rapel e mergulho

“Quero salvar a vida de outras pessoas e servir à comunidade”

O estudante Douglas do Nascimento Rodrigues, 12, é o primeiro da família a fazer parte do projeto Bombeiro Mirim. Ele conta que a oportunidade surgiu quando o presidente do bairro Vitória passou avisando sobre as vagas. A mãe dele não perdeu a chance e o inscreveu.
Douglas ficou feliz com a notícia, pois já conhecia o projeto e estava animado para fazer as aulas conhecidas por suas aventuras. Ele confessa que as aulas de bombeiro foram melhores do que ele esperava. “São muito divertidas”.

Assim como o colega Makewillyan, ele aprendeu a nadar ali e isso já foi uma grande vitória.

Sobre o futuro, Douglas afirma que já tem sua profissão escolhida. Sim. Ele quer ser bombeiro e pelos melhores motivos. “Quero salvar a vida de outras pessoas e servir à comunidade”.

Douglas Nascimento ficou surpreso com as aulas

Projeto ajudou adolescente a melhorar o comportamento em casa e na escola

Próximo ao fim das aulas para a turma do São Francisco, Makewillyan da Silva Ribeiro, 13, já faz planos para o ano seguinte. “Quero ser monitor da próxima turma. Eu também tenho estudado muito para ser bombeiro”, garante.

O jovem nunca teve problemas com nota, mas admite que antes era um pouco bagunceiro na escola, comportamento esse que mudou desde que entrou para o projeto Bombeiro Mirim. “Em casa eu não fazia nada também. Antes eu não lavava louça, não passava o pano, mas agora eu faço. Ajudo em todas as tarefas”.

Na aula de rapel, Makewillyan passou segurança total, mas depois admitiu estar nervoso. “Quando eu olhei para baixo senti medo, mas não quis desistir”.

Das atividades que ele pratica nas aulas do Bombeiro Mirim, Makewillyan destaca o futesal, tirolesa e natação.
Além de adquirir educação e muita disciplina, alguns ensinamentos básicos podem ser destacados na vida do jovem. “Não sabia fazer nó e não sabia nadar. Hoje nado bem graças às aulas”.

Os jovens apresentam melhora na vida escolar e em casa
A Gazeta do Acre: