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Urologista critica a falta de atenção à Saúde do Homem no Brasil

 Durante este mês, a campanha Novembro Azul alerta para os cuidados que a população masculina deve ter para com a saúde de forma integral, sobretudo a prevenção do câncer de próstata. O urologista e coordenador estadual do Programa Saúde do Homem, Mauro Trindade, critica a falta de atenção à Saúde do Homem no país e explica que diversos fatores colaboram para o descuido do público masculino com a saúde.

Para trindade existem duas barreiras que impedem o cuidado do homem com a saúde: a sociocultural e a institucional. A primeira diz respeito à cultura do homem de não ir ao médico, de não cuidar da saúde, etc. A segunda se trata da falta de atenção à Saúde do Homem por parte do poder público e instituições privadas.

“Se você procurar durante o ano campanhas sobre saúde masculina é zero, só existe agora, o novembro azul, que inventaram recentemente. Se fala da saúde mulher, do câncer de mama, se aborda o assunto em novelas. Quantas novelas abordaram o câncer de mama? E o câncer de próstata? E os homens? Nós não estamos enxergando esses homens, e eles existem”, questionou.

O coordenador diz que a primeira causa de morte no Brasil são causas externas como acidente de trânsito, violência, etc. Cerca de 95% das pessoas que morrem são homens. Quanto aos cânceres que mais atingem o público masculino, o de próstata é o 2º que mais mata, de acordo com Trindade.

Educar o homem é o primeiro passo para prevenção de doenças, uso de drogas, entre outros. Mas, quem tem que educar esse homem? Trindade afirma que a responsabilidade é dos pais e da Prefeitura.

“É obrigação do Município, isso se chama educação em saúde. O agente de saúde vai à sua casa, e a função dele é educar a pessoa sobre saúde, independente a idade do homem, de 19 a 59 anos. Aos 19 ele tem que ensinar sobre camisinha, HPV, álcool, drogas, e assim de acordo com cada idade. Tudo isso precisa ser trabalhado desde sempre, além de ensinar em casa desde crianças”.

Questionado sobre quando o homem deve procurar um especialista em urologia, o médico afirma que nos primeiros dias de vida. “Quando nasce um menino, no primeiro dia de vida é preciso levá-lo a um urologista. Existem mal formações genitais, a questão da fimose, entre outros”, explicou.

 Novembro Azul e Câncer de Próstata

A proposta do Instituto Lado a Lado pela Vida, que coordena a campanha Novembro Azul, é mobilizar os homens para conhecerem mais sobre sua saúde, em diferentes fases da vida.

Na página oficial da campanha, o instituto disponibiliza uma lista das doenças que mais afetam a saúde masculina. Na infância, as doenças citadas incluem fimose, infecção urinária e prostatite. Já entre os adolescentes, a lista destaca arritmia cardíaca, doenças sexualmente transmissíveis e ejaculação precoce. Na fase adulta, aparecem doenças como calculo urinário e diversos tipos de câncer. Por fim, na terceira idade, integram a lista diabetes, disfunção erétil e hipertensão arterial.

No Acre, a campanha iniciou no dia 1º de novembro. A programação abrange todos os municípios, cada um com seu calendário de atividades. Em Rio Branco, haverá ações em todos os centros e postos de saúde. Para facilitar o acesso do público masculino, a Unidade de Saúde Altamira funcionará até às 20h, durante todo o mês de novembro, em dias alternados.

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O CÂNCER – De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de 61 mil novos casos de câncer de próstata devem ser registrados até o final deste ano no Brasil. Somente no Acre, em 2015, foram catalogados no Hospital do Câncer 75 casos de câncer de próstata. Em 2016, até outubro, foram registrados 65.

O urologista alerta que os homens devem fazer exames periódicos de próstata a partir de 50 anos, com exceção para pessoas com predisposição genética, nestes casos o acompanhamento deve começar entre 40 e 45 anos.

“O câncer de próstata é um câncer de idoso, que o pico é aos 65 anos. Cerca de 90% dos cânceres de próstata estão nessa faixa etária, os outros 10% estão abaixo dos 59 anos. É um câncer que mata muito”, acrescentou.

 

O DIAGNÓSTICO – Trindade destaca que o diagnóstico da doença é fácil e rápido: “Não é pra morrer ninguém de câncer de próstata. Se o indivíduo já tem dificuldade de ir ao médico, porque não o educaram para ir ao médico, ele só vai ao médico quando sente sintomas, se não está sentindo nada, ele não vai”.

Existe cura para o câncer de próstata? “Todo câncer de próstata diagnosticado precocemente, tão somente dentro da próstata que não esteja nenhuma célula fora, esse câncer, chamado de câncer localizado da próstata, é curável”, afirmou Trindade.

 

TRATAMENTO – Ainda segundo o médico, existem dois métodos para curar o câncer localizado de próstata: cirurgia radical e radioterapia. Ele fala que nos dois casos pode haver sequelas. Cerca de 35% dos pacientes ficam incontinentes e 55% impotentes.

“Os dois métodos são ótimos e curativos. Do ponto de vista de sequelas, elas existem e não são muito boas porque a próstata faz parte do aparelho urinário, ela é um canal. Muitas coisas podem acontecer tanto do ponto de vista urinário, quando do ponto de vista da ereção”.

Por fim, Trindade garante que quanto mais precoce o diagnóstico da doença, mais chances de cura o homem possui. “Tudo implica no desenvolvimento do câncer, ter uma boa alimentação, fazer exercícios físicos, etc. Além da predisposição individual, você já nasce com seu código genético com aquele câncer, pode ser que tenha ou que não tenha. Se você não nascer com esse código, você nunca terá câncer”.

 

“O homem ainda tem preconceito com relação ao exame de toque, isso tudo é bobagem”, diz aposentado que venceu o câncer de próstata

Desde os 45 anos de idade, o sertanista José Meirelles realiza exames de saúde periodicamente. Porém, após passar dois anos sem fazer acompanhamento médico, Meirelles desenvolveu um câncer de próstata.

“Um irmão meu precisava da doação de um rim, e o único irmão compatível fui eu. Na hora de fazer os exames para a cirurgia, fizeram um checkup e meu PSA deu muito alto. Fiz os exames e deu um câncer maligno. Eu estava com a próstata quase toda tomada, a sorte que não tinha saído da próstata”, contou o aposentado que descobriu a doença aos 62 anos de idade.

Hoje, aos 68 anos e cheio de saúde, Meirelles lembra que após a cirurgia de retirada da próstata ele ficou três dias internado, 15 dias com sonda urinária e cerca de seis meses se recuperando do procedimento cirúrgico.

“Foi um pouco assustador porque em alguns casos ele se desenvolve com uma rapidez muito grande, como foi no meu caso. Você passa muito tempo com a bolsa, passa seis meses com incontinência, além de correr o risco de ficar impotente. Eu felizmente não fiquei, mas muita gente fica”, falou.

O aposentado revela que sempre aconselha os amigos e familiares a realizarem exames periódicos. Para ele, o homem precisa vencer o preconceito e cuidar mais da sua saúde.

“Homem normalmente é mais relapso nesses assuntos. O homem ainda tem preconceito com relação ao exame do toque, isso tudo é bobagem. Acho que é uma questão de conscientização. Não é preciso nem fazer um exame de toque, o PSA já pode detectar, se passar do limite por idade, já procura um especialista”, opinou.

Contudo, Meirelles acredita que é preciso investir na Saúde Pública em geral, tanto do homem quanto da mulher, para facilitar o acesso ao acompanhamento médico e realização de exames. “Eu faço checkup todo ano porque tenho plano de saúde. Fazer particular deve ser uns R$ 500, se não for mais, ninguém tem R$ 500 sobrando, eu pelo menos não tenho”, concluiu.

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