O Natal do menino Jesus, além de envolver a humanidade de diferentes culturas, numa teia de acontecimentos de amor ao próximo sem precedentes, transcende toda e qualquer falsa esperança e a tudo o que é passageiro, excede até mesmo ao generoso, gordo, bonachão e barbudo Papai Noel, pois que o Natal se radicaliza em Jesus Cristo, a verdadeira esperança de um novo amanhecer. Deste modo, o Natal é a decorrência de toda a história da humanidade, não é uma mera ilusão, pois em vista desse dia sem igual, tudo foi concebido e criado, é o que nos diz o apóstolo São Paulo em sua epístola aos Efésios (1.3-10). Assertiva, secundada por Blaise Pascal (1623-1662) que dizia: “Fora de Jesus Cristo não sabemos o que é a vida, o que é a morte, nem o que é Deus, nem o que somos nós mesmos!”
Entretanto, o magnetismo do advento natalino revela e põe desnudo que, mesmo estando para lá da era cibernética, o homem e sociedade continuam carentes de mudanças na estrutura social. Significa dizer que apesar do avanço tecnológico, científico e das grandes realizações, notadamente, no mundo urbano, o homem, enquanto sociedade é um brucutu em questões e formas de sociabilidade. A sociedade, aos olhos de qualquer leigo, na hipótese de ser comparada a um edifício, está com sua base, inteiramente comprometida, produto duma arquitetura confusa e, por conseguinte, necessitando de indispensáveis reparos, sob pena de desabar a qualquer hora.
Hoje, apesar de tantos anos de aprendizado, os homens continuam tão ou mais cruéis, em relação ao seu próximo, do que os bárbaros mongóis medievais, que sem dó nem piedade e fúria pertinaz, matavam, destruíam e saqueavam sem misericórdia. Estamos criando um sistema maligno que tende a nos escravizar perpetuamente. Somos lobos uns dos outros, resultado duma atitude egoísta e fator responsável pelas guerras, pelos conflitos e situações prejudiciais a todos.
Num mundo assim, permeado de desigualdades, o melhor presente de Natal, quiçá, seria enfeitar a base da árvore da vida de cada ente, com reflexões que façam eco sobre nossas ações passadas e presentes; que depois da noite de Natal, antes mesmo do raiar do sol, possamos começar uma caminhada de volta em prol da dissipação total dessa situação prejudicial, desumana, avassaladora, acintosa ao homem e seu hábitat. Viver em paz.
Deste modo, o Natal, surge como uma luz resplandecente, que irrompe neste mundo caos, minimizando pelo menos por algumas horas a escuridão social em que estamos metidos. Sociedade: que a cada dia se afasta dos contratos sociais; que vive distante das comunidades vitais e aquém da comunidade jurídica e; carente duma fraternidade movida pelo amor.
Sobremodo, ou extraordinariamente, o Natal nos mostra que somos propensos a emoções; somos sensíveis aos apelos oriundos das tradições que nos estimula a AMAR, a ter PAZ e a exercer a irmandade universal.
Na expectativa de viver mais uma noite especial do dia Natal, não posso deixar de remeter os meus pensamentos para os dias idos da minha meninice. O Natal da minha infância não tinha coca-cola, nem luz elétrica; haviam poucos produtos industrializados, no entanto posso lembrar, mesmo com o passar dos anos, os presentes simples que eu recebia. Noite de Natal, era a família reunida até altas horas sob a luz dos candeeiros, afinal só as famílias mais abastadas possuíam “Aladins”. Quanto à ceia de meia-noite era farta, já que dia de Natal em casa de pobre, nos anos 50, tinha fartura de dar inveja aos banquetes do Rei Belsazar. Da mesa farta, destaco duas iguarias que minha mãe fazia: aluás (bebida feita com milho fermentado com açúcar) e rabanadas (fatia de pão frita depois de ensopado em leite e passada em ovos). Hum! Ah, ia esquecendo: Havia muita PAZ nos corações das pessoas, afinal Natal é noite de PAZ!
Francisco Assis dos Santos, Pesquisador Bibliográfico em Humanaidades. E-mail: [email protected]