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As faces da competição

O texto reflete as faces da competição. E, nesse sentido, o leitor poderá observar que uma das características intrínsecas à vida em sociedade é, sem dúvida, a competição. A convivência, com semelhantes, nas mais diversas atividades humanas, leva à constante comparação de desempenhos. A concorrência entre os indivíduos, desde que se respeite um determinado limite, pode ser benéfica. Desde épocas muito remotas o ser humano já competia com o seu semelhante. Porém, com o passar do tempo, competir parece ter perdido o seu real significado.

Competir, atualmente, tornou-se uma forma de vencer a tudo e a todos, a qualquer preço, desrespeitando até mesmo os limites da moral e da ética humana. Um exemplo disso tudo foi quando me aposentei, na UFAC. Ali deixei grande e rico banco de dados sobre a linguagem regional, cujos resultados estão em livros, apresentações em seminários, congressos, simpósios, colóquios. Lamentavelmente nem tudo foi publicado, lá ficaram perto de 130 títulos inéditos. Infelizmente, a pessoa indicada para dirigir o centro de pesquisa, achou por bem tomá-los para si. Assim, passou a se aproveitar dos dados sem indicar a autoria. Esse fato foi documentado por ocasião do Seminário Pibic/Ufac-2006-2010. Vi a pessoa, em questão, assinar seu nome em pôster, como se a autora fosse de um trabalho meu. Foi tão infeliz ao ponto de ler erroneamente os dados. Não sabia do que falava e, sequer, não leu a metodologia de transcrição dos dados. O resultado de tamanha preguiça e incapacidade foi apresentar coisas absurdas como, por exemplo, afirmar que o acreano diz galina (=galinha), farina (=farinha), una (=uma).

Hoje, decorrido algum tempo, não havendo nenhuma advertência, a pessoa continua ao estilo Ronald Arthur Biggs (assalto ao trem pagador), tentando, por todos os meios, apagar o trabalho fantástico ali empreendido ao longo de 15 anos. Por isso digo sempre que ser professor é estar além do ensinar, é dignificar a missão de educador pela lição de fazer bem. Assim, o exemplo aqui citado é péssimo, choca, entristece. Pois todo profissional que se respeita vive daquilo que é seu, do que produz. Logo, ser professor é necessário algo mais além de títulos. É preciso ser GENTE. E quem se apropria do alheio é, no mínimo, ladrão…

Mas não vou falar dessa má ação, isso não é competir. Não vou falar da ‘pessoa’que se apropria do alheio, seria dar fama a quem não a tem. Apenas o fato ilustra aquilo que é capaz o ser humano, em nome da competição (?!). Todavia nem tudo está perdido. Apesar de a competição gerar efeitos negativos como a inimizade, o egocentrismo, a falta de sensibilidade e o desrespeito aos limites impostos, ela também nos apresenta virtudes. Se não houvesse nenhuma competição entre os seres humanos, a vida não teria a razão que tem, e as conquistas não teriam o menor valor. Além disso, para que vivêssemos com tecnologia, indústria, classes sociais, foi necessário, por exemplo, que espanhóis e portugueses lutassem pelo domínio das terras descobertas com a navegação, que russos e americanos competissem pela melhor tecnologia para viajar ao espaço. Foi essa competição que criou o mundo do qual fazemos parte.

Na verdade, competir é um instinto humano. Graças a ele vivemos como vivemos hoje. Todavia, o seu sentido real deve ser resgatado, a fim de que vivamos melhor e que não sejamos vítimas de quem não sabe competir. Competir na era do capital humano exige muito trabalho, esforço e determinação.

O ser humano, com toda a sua potencialidade, é a figura principal na formatação destes novos tempos e efetivamente pode fazer a diferença no sentido de construir não somente empresas mais ágeis e lucrativas, mas, também, e principalmente, um mundo justo e humano, pois só assim terá valido à pena ter vivido estes novos tempos em que o capital humano é personagem principal da história.

DICAS DE GRAMÁTICA
MAGÉRRIMO/MACÉRRIMO/MAGRÍSSIMO
– O Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, Michaelis, registra magérrimo como superlativo absoluto sintético de magro, embora considere este termo uma forma anormal, sendo a correta macérrimo. Ainda registra magríssimo.
– A Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, só refere macérrimo e magríssimo. O Dicionário de Dificuldades da Língua Portuguesa, de Domingos Paschoal Cegalla, diz no verbete macérrimo, o seguinte: “(…) A forma magérrimo é anormal. Prefira-se macérrimo (forma erudita) ou magríssimo (forma vulgar).” Já o Dicionário de Questões Vernáculas, de Napoleão Mendes de Almeida, só registra, para superlativo sintético de magro, as formas magérrimo e magríssimo.

MAIS PEQUENO/ MAIS GRANDE
– No Brasil, “mais grande” e “mais pequeno” como grau comparativo de superioridade de adjetivos podem ser usados desde que sejam qualidades comparadas no mesmo substantivo.
Exemplo: Joaquim é mais pequeno do que inteligente. Joana é mais grande do que bonita. No linguajar coloquial, eles são muito usados em comparativos de superioridade entre seres diferentes.

MEIO/ MEIA
Qual forma está correta? Meio nervosa ou meia nervosa?
– A palavra “meio”, quando se refere a um substantivo, concorda com esse. Exemplo: Ele tomou meia caneca de leite/ Márcio comeu meio pão.
Nesse caso, “meia/meio” são numerais, significam metade.
Mas quando “meio” se refere a um adjetivo, é invariável, permanece sempre no masculino e no singular. Exemplos: Ela ficou meio nervosa./ Lúcio ficou meio zonzo. Nesse caso, “meio” é advérbio de intensidade, por isso fica invariável.
Simplificando: quando “meio” significar metade, tem masculino e feminino; se o sentido for “mais ou menos”, não tem variação.
Há também o substantivo “meia”, peça de pano que cobre os pés.
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Luísa Galvão Lessa Karlberg – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Embaixadora da Poesia pela Casa Casimiro de Abreu; Presidente da Academia AAcreana de Letras; Membro vitalício da IWA, Pesquisadora DCR/CNPq.

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