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“Nosso Domingo precisa de um feriado”

Querido(a) leitor(a) do Jornal A GAZETA, Paz e Bem!

Será que você tem um tempinho para ler? Sei que não é fácil contar com o tempo, tendo em vista que ele é constante e não podemos pará-lo, tampouco podemos dominá-lo. O tempo de hoje não é o mesmo do de ontem, e o tempo em que você começou a ler este artigo já não é o mesmo de agora, assim como este não será o mesmo quando você terminar de o ler.

Se fôssemos encontrar um significado para definir o que é o tempo ou fazermos uma reflexão filosófica, penso que perderíamos muito tempo, então, quero falar da importância de se aproveitar o tempo, que é o agora que Deus nos dá.

Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção inspirado no descanso divino no sétimo dia da Criação. Muito além de uma proposta trabalhista já conquistada em grande parte das sociedades do planeta, shabat entende a pausa como fundamental para a saúde de tudo que é vivo. A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue. Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, uma pausa; onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, shabat se torna uma necessidade do planeta.

Hoje o tempo de “pausa” é preenchido por diversão e alienação. Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações para não nos ocuparmos. A própria palavra “entretenimento” indica o desejo de não parar. É a busca de algo que nos distraia para que não possamos estar totalmente presentes. Estamos cansados mesmo quando descansados. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão. O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento só pode crescer nestas condições.

Nossas cidades se parecem arquitetonicamente cada vez mais com a Disneylândia e o tipo de emoções que buscamos, também. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de um dia com gosto de vazio; um divertido que não é nem ruim nem bom.

Estamos entrando o milênio num mundo que é um grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores atividade incessante.

As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado, a noite de penumbra, e o simples de uma lipo. Saímos da escravidão do século XIX para o leasing (locação financeira) do século XXI – um dia seremos nossos. Do escambo por carinho e tempo, evoluímos para a compra de carinho e tempo. Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante.

Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca corremos tanto e deixamos tanto inacabado. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos. Parar não é interromper.

Muitas vezes continuar é uma interrupção. Mas isto nos parece difícil de entender. E assim o sol não pára de nascer e a semana de acabar. O mês passa rápido – menos que o salário – mas quando se viu o ano já passou. Do jeito que estamos, não tarda muito, o milênio já foi.

Para nós, Católicos, o Domingo é um dia sagrado e nós não podemos vivê-lo como os outros dias da semana, como se ele fosse um dia qualquer. Alguém pode dizer: “Mas todos os dias são dias do Senhor!“. É verdade que todos os dias são dias do Senhor, mas na observância da lei de Deus existe um dia, por excelência, consagrado ao Senhor e àqueles que servem ao Senhor: o domingo, “Dominus“ = dia do Senhor, é pausa. Dia da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. O dia de não se trabalhar não é o dia de distrair – literalmente, “tornar desatento”. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida. A pergunta que se fazem as famílias no descanso – “o que vamos fazer hoje?” – é marcada por ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos quando não sabemos o que fazer numa tarde de domingo. O tempo, por não existir, faz mal a quem quer controlá-lo. Quem “ganha tempo”, por definição perde. Quem “mata tempo”, fere-se mortalmente. E este é o grande “radical-livre” que envelhece nossa alegria – o sonho de fazer do tempo uma mercadoria, um artigo.

Em tempos de milênio temos que resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar. Afinal, por que mesmo que o Criador descansou? Talvez porque mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.

Falando em pausa que não é o Domingo, mas no último dia 20 de janeiro, foi feriado estadual, sendo comemorado pela primeira vez o “Dia do Católico”, pelo projeto de Lei nº 3.137 de junho de 2016, de autoria de um Deputado Estadual. Mas será que o nobre Deputado consultou os Bispos das Dioceses de Rio Branco e Cruzeiro do Sul ou mesmo o Conselho do Clero? Nada contra a feriado, mas queria entender o motivo do Projeto de Lei. Se foi somente como disputa com o feriado do “Dia do Evangélico” comemorado também no último dia 23 de janeiro, acho que não foi feliz a criação do feriado “católico”. Agora, se fosse para comemorar algumas datas alusivas, como por exemplo: o dia em que chegaram as primeiras irmãs Servas de Maria Reparadoras – SMR, os primeiros frades da Ordem dos Servos de Maria – OSM em Sena Madureira e Rio Branco, ou os primeiros padres e freiras alemães no Juruá, tudo bem. Ou então a data de falecimento do Bispo Dom Giocondo Maria Grotti (acidente aéreo em Sena Madureira em setembro de 1971), creio que seria mais prudente. Já temos feriados demais em nosso calendário e não necessitamos de um dia.

Nosso querido Padre Massimo Lombardi, na época Reitor da Catedral Nossa Senhora de Nazaré, afirmou sobre o assunto: “Existe o Dia da Consciência Negra para lembrar esses povos que tanto sofreram, o Dia da Mulher, porque ela tem que ser mais valorizada. O Católico não precisa de um dia. Nós católicos somos felizes e não temos nada para reivindicar”. Sugeriu ainda, que o feriado do Dia do Católico poderia ser substituído pelo Dia do Ecumenismo, onde todas as religiões seriam representadas.

No entanto, quem é devoto de São Sebastião, foi celebrar com feriado ou sem feriado em Xapuri, Epitaciolândia e Rio Branco. Agora, os dias de São José, Santo Antônio, São João, São Pedro e São Francisco de Assis, que são de grande manifestação de fé no Estado, eles vão querer reivindicar feriado para os seus dias também.

Enfim, que possamos voltar a valorizar por primeiro o “Dominus“ = dia do Senhor!
Interino do Frei Paulo Roberto

Narciso Cândido
Coordenador do grupo Amigos de Francisco e Clara
Articulador para a criação da Fraternidade da Ordem Franciscana Secular – OFS
Encontro todo 4º domingo do mês na Paróquia Santa Inês, às 07:00 horas (em Janeiro, recesso

A Gazeta do Acre: