Este texto fala do vocabulário visto como reflexo da cultura, instrumento básico para a leitura do mundo, a expressão do indivíduo e a sua identificação como membro de um determinado grupo social. Observa-se, no dia-a-dia, a pouca importância que as pessoas dão às palavras. Esquecemo-nos, muitas vezes, que as palavras movem o mundo, pois com elas nomeamos as coisas que estão ao nosso redor e também aquelas que estão no interior de nossas almas, nos cantos do coração. A essas palavras-mundo costumamos denominar de vocabulário.
Entende-se o vocabulário como reflexo da cultura humana, instrumento para a leitura do mundo, para a expressão do indivíduo com o outro e para a identificação de uma pessoa como membro de uma comunidade, de um grupo social. Na comunicação diária, ao empregarmos os vocábulos que constituem o nosso repertório, estamos a refletir a nossa visão do mundo, as nossas experiências diversas.
O domínio do vocabulário difere de pessoa para pessoa, e é através da troca que podemos adquirir novas experiências e novos vocábulos, redefinindo o nosso léxico, o estilo de escrever, dizer, ler o mundo com tudo que nele existe. Com isso, quanto mais amplo for o domínio que temos do conjunto de vocábulos da nossa língua, tanto maior será a compreensão do que se passa à nossa volta, e tanto melhor será o nosso desempenho e adequação no processo de comunicação.
O conhecimento do significado dos vocábulos garante uma parte essencial do entendimento entre as pessoas. Mas, para haver comunicação, é necessário um repertório de vocábulos comum entre os falantes. Nesse processo de interação, podem surgir dificuldades de compreensão, uma vez que o sentido dos vocábulos está relacionado a inúmeros fatores – sociais, profissionais, de região, de escolaridade, de idade , de sexo, culturais, enfim.
Assim, cada grupo de pessoas apresenta um vocabulário próprio, que pode não coincidir, na sua totalidade, com o de outro grupo. O vocabulário das diversas profissões, dos grupos desportivos, religiosos e políticos, permite uma especificidade muitas vezes necessária ou desejada. Esse vocabulário especial às vezes é entendido apenas por aqueles que fazem parte do grupo. No entanto, à medida que vamos aprendendo o que esses termos específicos significam, eles passam a fazer parte do nosso vocabulário, facilitando a comunicação do dia-a-dia. Por isso, um professor de Língua Portuguesa, trabalhando o vocabulário, pode:
• mostrar que o conjunto de vocábulos de uma língua constitui o reflexo da cultura de seu povo e é fruto de interação com outros povos;
• mostrar que o vocabulário se organiza em campos semânticos;
• evidenciar que, quanto maior for o domínio do vocabulário, por parte do falante, maior será a eficácia da sua linguagem, concebida como forma de interação;
• caracterizar o vocabulário de uso genérico e o vocabulário de uso específico;
• demonstrar que a seleção e adequação vocabular são de grande importância para a compreensão de qualquer texto;
• mostrar a organização e a importância da consulta do dicionário, como instrumento de transformação de nossa visão de mundo;
• apontar estratégias para um ensino produtivo da língua e da literatura, quanto à leitura, compreensão e produção de textos.
Conclui-se, essa reflexão, dizendo que o estudo do vocabulário, uma atividade costumeiramente tratada de forma banal, mesmo em sala de aula, se levada ao seu termo, dará excelentes resultados no ensino de qualquer língua moderna. Ademais, quanto maior o leque de palavras conhecidas do falante mais eficácia terá o seu processo de comunicação e, conseqüentemente, o ensino-aprendizagem. É uma atividade escolar que não deve ser desprezada. E um recurso usual que alcança excelentes resultados são as consultas aos dicionários, pois ali estão registrados um número significativo de palavras, etimologia, morfologia, sinonímia, antonímia, uso geral, específico, regional etc. São informações importantes sobre as palavras e a consulta sobre elas poderá ampliar, significativamente, o universo lingüístico e vocabular dos usuários de uma língua. O dicionário não é o “pai dos burros” como alguns costumam dizer. O cotejo dessa obra aponta sabedoria, perspicácia e inteligência dos usuários de um idioma, seja ele qual seja..
DICAS DE GRAMÁTICA
FESTA BENEFICENTE ou BENEFICIENTE?
Embora a palavra tenha parentesco próximo com BENEFÍCIO, também tem com BENEFICÊNCIA e com ela casa.
Não a ligue com eficiente, deficiente, etc.
Portanto, beneficente.
ONDE/AONDE/ DONDE
Use ONDE nos casos que não admitem uma substituição por PARA ONDE, como as situações estáticas:
“Onde moras?”
“O lugar onde vives é muito bonito.”
“Onde colocaste o Domínio?”
Use AONDE nos casos que admitem uma substituição por PARA ONDE, como nas situações dinâmicas, onde aparecem verbos de movimento:
“Aonde vamos?” (“Para onde vamos?”)
“Aonde te diriges?” (“Para onde te diriges?”)
Use DONDE para indicar procedência, causa ou conclusão.
Exemplos:
“Donde vens? E donde esta cara triste?”
“Ele nunca adoece, donde se conclui que tem boa saúde.”
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Luísa Galvão Lessa Karlberg – Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Mestra em Língua Portuguesa pela Universidade Federal Fluminense – UFF/RJ.