Quando eu era jovem, li o texto da historiadora Barbara Tuchman entitulado “A Marcha da Loucura “ (The March of Folly). A premissa de Tuchman era que existiram momentos na história quando os governos seguiram políticas contrárias aos seus próprios interesses, apesar de alternativas conhecidas. Em outras palavras, os governos cometeram burrices monumentais.
Outros historiadores criticaram Tuchman por ter simplificado demais os exemplos, mas para mim, a ideia dela foi reveladora. Eu achava que a historia tinha um destino inexorável e não tinha percebido o quanto a burrice pode influenciar eventos históricos.
Talvez o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, esteja demonstrando o dano que a burrice pode provocar. Por exemplo, a sua decisão executiva em janeiro de 2017 de barrar muçulmanos de sete países Árabes foi motivada para proteger os EUA, usando o ataque de 11 de setembro de 2001 como justificativa.
Só que os terroristas de 11 de setembro vieram principalmente da Arábia Saudita mas ela não consta na lista dos países barrados. O Presidente Trump aliena os muçulmanos do mundo inteiro, abusa dos direitos humanos e não consegue identificar o país que teve o maior impacto terrorista nos EUA.
Podemos cometer burrices sem saber. Um outro historiador, Yuval Harari, iniciou o seu livro “Sapiens, uma breve história da humanidade” com a pergunta: o que aconteceu com os nossos parentes, as outras espécies do gênero Homo, o mais conhecido sendo os Neandertais? As evidências indicam que nós acabamos com eles. Não foi uma ação governamental, mas a nossa espécie efetivamente reduziu a diversidade humana.
Continuamos com este processo de reduzir a diversidade da vida, que é denominado a “Sexta Extinção”. Nos últimos 500 milhões de anos, cinco grandes extinções aconteceram no planeta Terra. Agora, principalmente via atividade humana, estamos extinguindo a diversidade da vida e danificando ecossistemas naturais, numa velocidade impressionante, promovendo a sexta extinção.
Nas Américas do Norte e do Sul, a megafauna de preguiças gigantes, mamutes, etc. desapareceram logo depois que a nossa espécie chegou, cerca de 10.000 anos atrás. Nas últimas décadas, a taxa de extinção é estimada em cerca de 1000 vezes maior do que a taxa natural.
Nós somos dependentes do bom funcionamento de ecossistemas neste planeta, em geral, e na Amazônia, em particular. As chuvas do Acre, por exemplo, dependem em parte na transpiração de florestas no leste da Amazônia, e estes ecossistemas dependem da diversidade de vida.
O oxigênio que respiramos é um produto dos ecossistemas que fazem a biosfera da Terra. Seria uma burrice perder a diversidade que mantém este planeta funcionando.
No artigo anterior (7fev17) notamos que o nosso planeta Terra é o único lugar conhecido que tem vida em nossa galáxia Via Láctea, uma galáxia que é composta de 100 a 400 bilhões de estrelas. Estudos recentes já descobriram mais de 3.000 exoplanetas ao redor outras estrelas na vizinhança, mas por enquanto sem sinais de vida.
Mas a vida na Terra produziu a civilização humana. Será que como civilização somos a única na galáxia? A equação de Drake tenta estimar a probabilidade de civilizações em outras partes da nossa galáxia, mas os dados são tão especulativos que a probabilidade varia entre a quase-certeza que somos sós até 156 milhões de civilizações. Em outras palavras, existe a chance de que somos o único exemplo de vida inteligente na galáxia ou somos uma entre uma centena de milhões de civilizações.
Uma outra observação, chamada o paradoxo de Fermi, pode reduzir esta incerteza. No mesmo tempo ela levanta uma preocupação do nosso futuro neste planeta e talvez da vida inteligente na galáxia. O físico Enrico Fermi notou uma ausência: dado tantas estrelas e tantos planetas, deveria ter muitas civilizações na nossa galáxia. Ele perguntou por que não estamos recebendo sinais via rádio de outras civilizações?
As hipóteses para explicar esta situação são várias, mas podemos considerar uma elaborada pelo astrofísico Adam Frank sobre recursos naturais. Quando as civilizações começaram a consumir recursos na escala planetária elas perturbaram o clima e acabaram com a vida inteligente. Esta explicação para o Paradoxo de Fermi pode ser incluída na categoria de “burrice extraterrestre”, onde uma civilização produz o seu próprio fim.
Mas será que estamos no caminho de ser um exemplo de burrice na escala planetária, matando as formas de vida, danificando os ecossistemas do quais a nossa sobrevivência depende?
Para responder a esta pergunta, gostaria de citar a conclusão de “Sapiens…” onde Harari compara os nossos poderes atuais como os de deuses. “Somos mais poderosos do que nunca, mas temos pouca ideia do que fazer com todo esse poder. …. Em consequência, estamos destruindo os outros animais e o ecossistema a nossa volta, visando a não muito mais do que nosso próprio conforto e divertimento, mas jamais encontrando satisfação. Existe algo mais perigoso do que deuses insatisfeitos e irresponsáveis que não sabem o que querem? ”
Tomara que ganhemos a sabedoria de como manter um planeta e sua biosfera funcionando e que a nossa burrice atual não vire uma explicação do paradoxo de Fermi.
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Foster Brown, Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) e do Curso de Mestrado em Ciências Florestais (CiFlor) da Universidade Federal do Acre (UFAC). Cientista do Programa de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT SERVAMB e do Grupo de Gestão de Riscos de Desastres do Parque Zoobotânico (PZ) da UFAC. Membro do Consórcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre (CEGdRA). fbrown@uol.com.br