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Por um buquê de rosas e lírios

A Gazeta do Acre por A Gazeta do Acre
11/03/2017 - 11:57
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Ela havia sacolejado por esta vida afora quase em total solidão. Nem de longe alcançara o tal estágio da meia idade. Talvez, um pouquinho gasta pelos vaivéns dos quadris, apoderara-se de uma tristeza de gueixa chorosa e soturna. Largara a sacanagem. Introvertera-se.

Acompanhara-se de um pilantra que a maltratou e as sequelas reverberavam pelos dias sem fim. Os traumas lhe cingiam os pensamentos mais positivos, como a querer esmagá-los. Apegara-se a uma vida de eremita. Convertera-se ao culto a si mesma. Um cavalheiro de boa aparência, meio lobo, meio cordeiro, unhas escondidas de tigre, demonstrando índole nebulosa, pouco solene, via-a, observava-a, atentamente, quase todos os dias, nas idas e vindas matutinas à quitanda ou ao mercantil.

De um inverno ao outro, o nosso quixote às avessas devaneava. Buscava acercar-se de um caminho através do qual faria a corte à bela semiacordada ou jamais adormecida. Os planos para a investida eram mixurucas demais. Quase em transe, sofrendo de paixonite aguda roedora, ele sonhava com a musa. Numa dessas vertigens, ela aparecia em saia preta que terminava logo abaixo do bumbum. Meias do tipo arrastão cobriam as suas pernas. Botas de couro, os pés. Seus peitos pululantes saltavam do decote como massa de bolo que cresce além da forma. Lelé da cuca. Era o que alguns diziam dele.

Homem de posses, um dia, então, ele houve por bem comprar-lhe um anel de brilhante. Ela recebeu o mimo caríssimo, mas houve por bem apenas enfiá-lo em um cofre de banco. A ninfa e quase diva acostumara-se aos maus tratos de homens sem sensibilidade; e isto custou muito caro ao cavalheiro mirabolante que dar-lhe-ia o céu, se este não tão longe fosse.

Vamos e convenhamos: ainda há homens bons por aí; cortejadores, cavalheiros, dignos de um par de alianças, ou de um par de outra coisa qualquer.

De início, o diálogo era mínimo e ela se encolhia de forma a que nenhuma das frases de efeito penetrasse-lhe a alma quase virginal, em vista do tempo de desuso amoroso que lhe enfeitara com teias de aranha as pobres axilas antes tão bem raspadas. Algo deveras surreal.

Mas o nosso Quixote em brilhantina não desistia e, a cada noite que ficavam na varanda, a conversa evoluía e já arrancava da quase donzela sorrateira alguns sorrizinhos que um dia foram tão marotos e muito escancarados ou pecaminosos.

Em uma dessas noites, ele abordou temática que girava em torno de certa moça – uma das pretendentes anteriores – que bem pouco ou nada dizia. Ele a apresentava aos amigos e parentes e ela mal fazia algum cumprimento mínimo, o que o constrangia por demais. Foi esse mutismo que se encarregou de dar por findo o idílio quase em monólogo, posto que apenas ele falava e ela só ouvia, e olhe lá. Talvez a ninfeta estivesse dando voltas no pensamento acerca de um moço de sugestivo nome, o Ricardo.

– Penso cá comigo que ela era tímida. Não houve da sua parte uma certa incompreensão quanto à timidez da moça? – Depois de um mês de tentativas de aproximação, foi esta a primeira vez que ela usou sentenças mistas e completas. Glória!

– Não, de forma alguma. Eu apenas lhe digo que os homens gostam deveras das mulheres que sabem se expressar. Isso nos deixa orgulhosos, mesmo que alguém ache que as suas convicções não estão caindo bem para a ocasião. Não que devam ser tagarelas, mas, sim, comunicativas, quem sabe, eloquentes.

Meio caminho estava andado. As palavras da moça ativaram ainda mais a libido pecaminosa do nosso herói metido a bacana. Ele achava que poderia colocar um pouquinho mais de brasa e sopro naquela capoeira tórrida de mato seco.

Com o romance já atado e em pleno estado de prosperidade, certa tarde, eles se aventuraram pelo parque público em passeio trivial. Na boa.
De olho em umas valentinas calçadas, que faziam jogging nas pistas, então, ele foi longe e, de olhos fechados, mais uma vez em transe, fez comentário como se estivesse vendo miragem:

– Você está gostosa demais da conta, usando shorts e tênis para correr. Toda essa harmonia e mais este seu top vermelho pequeno de tiras. E mais o cabelo louro neste adorável rabo de cavalo. Tudo é um vislumbre e um colírio. Dos céus!

A musa estava de vestido de organza. Ele, louco de amores. Ela perdoou o disparate.

Mais tarde, então, indagado sobre aquelas frases ditas de olhos fechados, ele passou a fazer algumas digressões próprias de um homem evoluído e cheio de amor com letras maiúsculas pelas mulheres todas do mundo.

– Assim como as mulheres não podem desmerecer os cabelos em rabos de cavalo, que muito agradam aos olhos da superior maioria dos homens, quando nuas, os ombros não podem ser subestimados. Nunca. Trata-se de um artefato digno de poesia, quando analisado pela sensibilidade de um ser em êxtase diante de uma genuína obra de arte da natureza. Isso é real. Os contornos e o desenho em si são fantásticos, seja a musa magra ou fortinha.

Ele já estava indo longe demais, porém o ombro nu passou meio que despercebido ao olho crítico da bela.

Dias depois, em viagem ao litoral, ele aprofundou os conceitos e disse que, apesar do trânsito fluir normalmente, guiava o carro pela pista da direita, bem devagar, porque sorvia cada minuto ao lado da musa.

– Quando você não está no carro, eu vou voando, desde Perdizes ao Itaim, onde tu resides. No amor as coisas acontecem assim, meio que inexplicavelmente.

Mais tarde, já se sentindo dono da situação, ele sapecou no pé da lata dela:

– Percebo que engatamos um relacionamento, mas afirmo que, se você realmente estava, desde o início, interessada em mim, como o disse ainda há pouco, porque passou todo esse tempo bancando a difícil? Quase fiquei louco. Andei até delirando, sonhando acordado.

Por um buquê de rosas e lírios a felicidade acenava do umbral da janela que dava para o jardim do éden. E tudo deu certo, sim. Tudo se tomou de um encantamento supremo. O cafajeste de outrora, em vista da situação provocada e vivida, paulatinamente, foi passando a muito bem desempenhar o papel de um ator cheio das melhores qualidades.

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Mas vieram as tempestades e a nau das paixões foi a pique. A coisa murchou. O amor foi pro beleléu, oupras cucuias. Tudo desmoronou, inclusive, o barraco, que se tornou mansão mais tarde vendida e rateada com a diva agora em sofrência mórbida.
Ah, o homem não sangra a cada mês, mas é um bicho realmente muito abespinhado, que passa na vida por períodos de autoflagelação quase inexplicáveis. Em verdade, se correr a hiena pega e se ficar o lobo come, e come bem direitinho, sem deixar sequer os ossos.

Tempos mais tarde, depois do ocaso das esperanças perdidas, em viagem de espairecimento por uma ilha do hemisfério tal, escrevia ele em papel guardanapo algo muito semelhante a um aforismo segundo o qual o homem é do tamanho do sofrimento que for capaz de suportar por amor, ou por desamor.
Danou-se!

CLÁUDIO MOTTA-PORFIRO, Escritor. Autor do romance O INVERNO DOS ANJOS DO SOL POENTE, disponível nas livrarias Nobel, Paim e Dom Oscar Romero, ou pelo e-mail [email protected] –

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