Nos últimos 12 meses, 80% das pessoas vivenciaram alguma situação de insegurança pública, mostra pesquisa da CNI. Para maioria da população, o aumento da criminalidade se deve à certeza da impunidade
A falta de segurança pública restringe cada vez mais o uso das cidades pela população. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 2.002 pessoas mostra que 70% dos brasileiros estão tomando alguma medida restritiva, como evitar andar com dinheiro, sair à noite, deixar de circular por alguns bairros, aumentar a segurança privada e até mesmo trocar de casa ou os filhos de escola (gráfico). Um ponto de destaque é que 27% das pessoas mudaram o modo de se vestir para reduzir o risco de assalto ou de assédio. Há diferença significativa entre os gêneros: 30% das mulheres estão se privando de vestir como gostariam, contra 23% dos homens. A pesquisa Retratos da Sociedade Brasileira – Segurança Pública foi feita em 141 municípios entre os dias 1 e 4 de dezembro de 2016.
As alterações de hábitos nos últimos 12 meses se devem ao fato de 80% das pessoas terem vivenciado de perto alguma situação de risco, como pessoas usando drogas (70%), a polícia prendendo alguém (50%), alguém sendo agredido (39%) ou assaltado (32%), ou estiveram presentes em um tiroteio (26%), entre outras. Das famílias brasileiras, 40% tiveram algum de seus membros vítima de furto, assalto ou agressão nos últimos 12 meses. Em 2011, 30% das famílias diziam ter sido afetadas.
O medo da violência altera o modo de vida e impacta no bolso dos brasileiros. Dos entrevistados, 76% contrataram serviços ligados à segurança privada, como instalação de alarmes, grades e trancas, compraram armas ou contrataram seguros contra roubo ou furto. A violência tem impacto também sobre a economia do país. “A violência provoca tanto a perda da qualidade de vida, como da competitividade, ou seja, do desenvolvimento do país. Trabalhadores ficam mais tensos e, com isso, menos focados no trabalho, menos produtivos. As empresas desviam recursos da produção para atividades de segurança. Investidores desistem de investir no país. Como consequência, os produtos ficam mais caros”, afirma o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca.
De um modo geral, a sociedade acredita que iniciativas sociais são mais eficazes no combate à violência que as repreensivas. No entanto, quando instados a escolher as duas principais medidas para combater a violência, 85% citam pelo menos uma ação repressiva. “O paradoxo parece refletir o fato da população estar pressionada pelo aumento da violência e desejando que sejam encontradas soluções urgentes. O que acaba recaindo em ações repressivas”, analisa Renato da Fonseca.
IMPUNIDADE – A certeza da impunidade é motivo para o aumento da criminalidade, na opinião de 82% dos entrevistados. Para 75% das pessoas, penas mais rigorosas reduziriam a criminalidade e 85% defendem a redução da maioridade penal para 16 anos. Os crimes de ódio, originados por preconceitos de cor, de gênero, de classe social, de orientação sexual, entre outros, devem ser punidos de forma mais severa do que os crimes comuns, na opinião de 73% dos entrevistados.
As ações repressivas mais citadas como forma de melhorar a situação da segurança são o maior combate ao tráfico de drogas (43%), o aumento do policiamento (41%), das penas pelos crimes (24%) e o combate à venda ilegal de armas (21%). Para 83% das pessoas é preciso ter uma política de tolerância zero, em que todo tipo de infração seja punida. E 55% das pessoas concordam que a violência dos criminosos justifica a violência policial.