Apesar de muitas grávidas preferirem escolher a data de nascimento do filho através da cesariana, ou serem induzidas a fazer o procedimento cirúrgico, o parto normal ainda é o mais aconselhado pelos especialistas.
Os depoimentos da estudante Camila Holsbach, de 28 anos, e da estudante Mirela Pinheiro, de 29 anos, mostram que o parto normal é uma boa opção para a mãe e o bebê. As duas mamães deram à luz de forma natural e não se arrependem da escolha.
Mesmo antes de engravidar, Holsbach já pensava em qual tipo de parto gostaria de ter, mas quando recebeu a notícia de que seria mãe veio a certeza: “Orava para que fosse normal”.
Durante os nove meses de gestação, a jovem buscou informações sobre gravidez com seu ginecologista, mãe, sogra, marido (que já era pai), e até no Google. “Pra ser sincera, tinha muito receio de que fosse necessário realizar uma cesariana. Meu marido já pensava o contrário: tinha medo do parto normal e queria que eu optasse pelo parto cesáreo, mas essa opção, pra mim, seria em caso de extrema necessidade”.
O grande dia chegou e, apesar de ter feito o pré-natal pela rede privada, a estudante preferiu realizar o parto pela rede pública. Ela recorda que em nenhum momento o seu ginecologista e obstetra tentou induzi-la a escolher o procedimento cirúrgico.
“Meu parto foi muito rápido e bem tranquilo – fora as contrações durante o trabalho de parto, não tive nem tempo de sentir a tão temida dor do parto, propriamente dita. Meu marido me acompanhou e apoiou em todo momento, até mesmo na sala de parto (ele estava bem nervoso, já eu estava super calma e tranquila) acho que isso ajudou muito também. Minha recuperação também foi muito rápida e credito isso a uma série de fatores como o apoio e cuidado do meu esposo comigo e nosso filho, os conselhos da minha mãe, da minha sogra e do meu obstetra. Foi como pedi a Deus. Olha, ainda que eu pudesse mudar algo, não mudaria nada. A gravidez foi uma surpresa muito boa nas nossas vidas, e acho que já estava preparada para esse momento. O parto normal sempre foi a minha prioridade”, relatou.
Após a experiência única, Camila não tem dúvidas sobre o tipo de parto que escolheria, caso engravidasse novamente. “Com certeza optaria pelo parto normal novamente. Acho que é mais simples, com uma recuperação mais rápida e melhor para o bebê também, digo isso pela minha experiência – é claro que há casos e casos”.
Dois filhos e dois partos normais
“Nos dois casos tive um procedimento tranquilo, de forma rápida. Fui bem assistida e contei com profissionais atenciosos. A recuperação foi ótima em ambos os casos, muito rápida e sem complicações durante ou depois”.
Com dois partos de forma natural, Pinheiro não tem dúvidas que o parto normal é a melhor opção para a mãe e o bebê. “A recuperação é melhor, mais rápida e isso permite a mãe os cuidados maternos desde os primeiros minutos de vida do recém-nascido”, acrescentou.
Quando questionada sobre a existência de uma possível cultura de partos cesariana, a jovem destaca que esse conceito está mudando aos poucos. Ela diz ser a favor do parto normal quando acontece de forma natural. “Sou totalmente contra a insistência do mesmo quando esse vem a impor muito estresse e sofrimento a mãe e o bebê. Acredito que ambos devem ser aplicados de forma coerente”.
“Aguardaria um pouco mais para saber se realmente era necessário a cesárea”, diz jovem que optou pelo procedimento cirúrgico
A estudante Lauane Laura, de 25 anos, optou pelo procedimento cirúrgico já que não teve dilatação suficiente para realizar um parto normal. “A única coisa que passou pela minha cabeça é que meu filho nascesse com saúde”, lembrou.
Para a estudante, o procedimento cirúrgico, que muitas vezes é temido pelas mulheres, foi tranquilo. Mesmo sem complicações durante e depois da gravidez, Laura afirma que se pudesse voltar no tempo aguardaria mais um pouco para saber a real necessidade da cesariana.
Laura diz que se engravidar novamente irá tentar ter um parto de forma natural. “A recuperação é muito mais tranquila e você não fica tão dependente das pessoas. Os médicos tentam até o último segundo um parto normal, só quando realmente não conseguem é que optam pela cesárea”.
Parto cesariano x parto normal
* Maternidade Bárbara Heliodora registra redução de 5% no número de cesarianas em um ano
BRENNA AMÂNCIO
A redução foi comemorada pela equipe. A gerente de Assistência da maternidade, Ana Beatriz de Assis Souza, explica o motivo de essa ser uma boa notícia.
“Cesária só deve ser envolvida no caso de risco para a mãe, o filho ou se a mulher for fazer uma laqueadura, e se ela estiver dentro dos conformes previstos por lei. A gente costuma dizer que é tão brusca uma cesariana que o corpo da mãe, que carrega o bebê, só vai conseguir fazer algum exercício físico após 40 dias do parto. Já parto normal, a mulher fica internada um dia e no outro já pode ir para casa normalmente. Ela não tem risco de infecção da ferida e não terá um risco de pressão alta pós-anestesia, como na cesariana”, justifica.
No parto normal, o bebê já pode ser amamentado imediatamente, porque o corpo se preparou para aquele momento, explica Ana Beatriz. “Em alguns casos, na cesariana, o leite demora até três dias para chegar no peito da mãe, porque o corpo dela ainda não estava preparado para o nascimento naquele momento, já que a cirurgia é mais uma questão de marcar uma data, sem esperar pelos sinais do corpo”.
Hoje, segundo Ana Beatriz, um dos problemas que mais causam complicações na gestação e na hora do parto é a pressão alta na mãe. “Esse é o que mais mata mulheres no parto”.
Hoje, a Maternidade Bárbara Heliodora busca trabalhar mais com o parto humanizado. “A partir do momento em que a mulher que ter o filho e ali ela já começa a ter uma ligação, isso é parto humanizado. Quando há uma preocupação dela com o que deve comer, se cuidar e se exercitar. Tudo para que aquela gestação seja com muita saúde. Ou seja, o parto humanizado começa desde um pré-natal humanizado”.
A Maternidade conta com o pré-natal de alto risco. “Aqui é o único lugar que atende o público SUS (Sistema Único de Saúde) de pré-natal de alto risco”, destaca Ana Beatriz.
É importante ressaltar a importância do pré-natal, para identificar a saúde do bebê e da mãe. Esse é o primeiro passo para o parto normal. Trabalhar a base é fundamental. A maternidade deve ser vista como o final de um ciclo.
Rede Cegonha
“A Rede Cegonha foi criada tanto para a distribuição de recursos quanto para o acompanhamento. Ela dita tudo e está sempre monitorando. Mensalmente mandamos um relatório para ela de quantos nascidos vivos, quantos partos normais, quantas cesárias, internações. Tudo isso é preciso ser apresentado à Rede. Há uma constante vistoria”, afirma Serlene.
A Rede Cegonha trabalha em uma área técnica dentro da Secretaria de Estado de Saúde e atua tanto na parte de custeio quanto de investimento das pacientes atendidas pela Maternidade Bárbara Heliodora.
O Centro de Parto Normal, também chamada de sala de Parto, Pré-parto e Pós-parto, foi uma das idealizações que recebeu investimento da Rede Cegonha. Hoje, o local disponibiliza espaços humanizados para que as mulheres possam ter seus filhos.
A Maternidade Bárbara Heliodora realiza 3 mil atendimentos por mês, em média. Mensalmente, são feitos 600 partos. O local recebe uma demanda grande, que é suprida por uma equipe capacitada.
Outros números gerais
De acordo com dados levantados pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) e divulgados pelo portal de notícias G1 Acre, o estado acreano somou nos 22 municípios o total de 4.546 cesarianas pelo SUS durante o ano de 2015. Esse número é o equivalente a 36,5% do total de partos feitos naquele ano – 12,4 mil. Enquanto isso, foram realizados 7.890 partos normais (63,4%).
Em 2014, foram contabilizados 4.845 cesárias no Acre, um percentual de 37,5% do total. Já os partos normais chegaram a 8.060, ou seja, 62,4%.