Receber o diagnóstico de uma doença grave não é fácil. Pior ainda quando esse diagnóstico vem errado e acaba piorando a situação do paciente. A acreana Evelyn Oliveira, de 22 anos, venceu a Mielodisplasia, tipo de câncer na medula, que a princípio acreditava ser lúpus, uma doença autoimune.
Os sintomas começaram a aparecer no final de 2015. Com suspeita de lúpus, a jovem começou o tratamento errôneo, o que agravou seu estado de saúde. Bastante debilitada e sem apresentar melhoras, a família de Oliveira decidiu continuar o tratamento em São Paulo (SP).
À procura de resultados rápidos e um diagnóstico certo, a família gastou R$ 30 mil com exames. Evelyn voltou para o Acre e continuou com o tratamento para lúpus, já que esse tinha sido o último diagnóstico.
A jovem, que já não conseguia andar, continuou piorando. Então decidiu pesquisar o que, de fato, estava acontecendo com sua saúde. “Sabe quando tem algo que te incomoda e você não consegue dormir até resolver? Foi o que eu fiz. Peguei todos os meus exames, estudei a fundo cada um deles, pesquisei, vi palestras na internet. No dia seguinte estava batendo na porta do médico com toda minha pesquisa e os meus exames em mãos. Ninguém tinha lido meus exames direito”.
O diagnóstico correto veio: Mielodisplasia avançada. Evelyn precisava urgentemente de um transplante de medula. Voltou para SP e ficou um mês internada fazendo exames e transfusão de sangue a cada dois dias.
O tempo estava passando e a acreana não aguentaria mais um mês sem o transplante. Foi quando ela recebeu a notícia de que a medula do seu irmão era cem por cento compatível com a sua.
“Nossa, eu estava transfundindo uma bolsa de sangue na hora, foi emocionante. Amo meu irmão, ele é a minha vida! Sempre brinquei falando que éramos gêmeos. Foi a maior felicidade do mundo”, lembrou.
A RECAÍDA
Evelyn fez o transplante em agosto do ano passado, um procedimento complicado e doloroso. Após 120 dias transplantada e já em terras acreanas, a jovem teve uma recaída e voltou às pressas para SP.
Os médicos deram duas alternativas para a jovem: fazer outro transplante de outro doador, ou que a doença naturalmente progredisse para uma leucemia aguda para tentar um novo tratamento.
Com a fé inabalável, Evelyn acreditou na sua cura e, dois dias após a recaída da doença, ela renasceu. “A doença progrediu pra Leucemia Mieloide Aguda. O que salvou minha vida! Fiz um protocolo de quimioterapia, minha medula reagiu. Entrei em remissão da leucemia e a medula do meu irmão permaneceu 100%”.
A jovem continua fazendo tratamento em SP, mas em breve deve estar em casa. Evelyn já sabe a primeira coisa que quer fazer ao chegar: “Com certeza vai ser abraçar toda a minha família, principalmente minhas tias e meu avô”.
FÉ INABALÁVEL
A história de fé e luta de Evelyn emocionou milhares de pessoas que acompanharam sua trajetória pelas redes sociais. Ao saber da sua cura, ela escreveu um texto contando sobre sua vitória e publicou em sua página de Facebook. A publicação já tem quase dois mil compartilhamentos e mais de três mil curtidas.
“No começo era uma forma de interagir com as pessoas mesmo, eu queria que elas soubessem o quanto é difícil. Normalmente quem tem problemas não gosta de expor, mas eu queria compartilhar mesmo. Acabou que eu não tive como parar mais porque as pessoas se preocupavam e queriam saber como eu estava”, contou.
Evelyn é um milagre, assim como ela escreveu no final do seu texto: “Eu sou o milagre perfeito de Deus! Ele não me deixou na mão”.
PROJETO SOCIAL ‘ANJO AMIGO’
Pensando em ajudar pessoas que também sofrem com a doença, a acreana criou o projeto social ‘Anjo Amigo’, que deve atender pacientes do Hospital do Câncer do Acre. A ideia é realizar diversas atividades como visitas semanais, festas de datas comemorativas, atendimento psicológico para os pais e acompanhantes dos pacientes, orientação de cuidados paliativos, palestras, entre outros.
Evelyn precisa de aproximadamente R$ 15 mil para começar o projeto. Por esse motivo, ela está fazendo uma campanha na internet para arrecadar dinheiro. A previsão é que as atividades comecem em maio deste ano.
“Qualquer quantia é válida. Se eu tivesse esse dinheiro, eu mesma arcaria com o projeto, mas infelizmente não tenho. Não posso trabalhar e nem voltar pra faculdade por pouco mais de um ano. Então estou buscando apoio porque quero amenizar a dor dos que sofrem com essa doença. Só eu sei o que eu passei e o quanto isso foi importante pra mim”, acrescentou.
A jovem ressalta que o projeto é uma tentativa de oferecer o mesmo tipo de apoio que recebeu durante seu tratamento em SP.
“O projeto é realmente lindo! Tenho certeza que irá amenizar um pouco da dor do paciente e do acompanhante. Nosso Estado do Acre ainda é carente de projetos sociais, não excluindo os que existem e que já ajudam bastante. Mas quero levar tudo aquilo que eu recebi no meu tratamento”.
Para dar o pontapé inicial no projeto social a jovem fará uma doação de aproximadamente R$ 5 mil em medicação para o Hospital do Câncer. Interessados em contribuir podem acessar https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajude-a-evelyn-a-realizar-seu-sonho, ou fazer transferência bancária. Os dados para a transferência são: Banco do Brasil – AG: 2359-0 Cc: 5227-2 – Evelyn Oliveira Mendonça.
“Doar minha medula foi gratificante, eu não me senti tão inútil”, diz irmão
Muitos acreditam que a medula compatível do irmão de Evelyn, o advogado Kevin Oliveira, de 24 anos, foi o que salvou a vida da jovem. Para Kevin, a doação representou apenas uma parcela da cura de sua irmã, que sempre lutou contra a doença.
“Ela tem sido muito forte, muito guerreira. Eu não fiz praticamente nada, essa é uma luta dela. Desde o princípio eu disse pra ela que ela estaria nas mãos de Deus e dela própria. O fato de poder doar minha medula foi algo muito gratificante, eu não me senti tão inútil porque eu pude fazer algo. Pude dar minha parcela de ajuda”.
Ao longo do tratamento e busca pela cura, dois momentos marcaram o jovem advogado: a espera pelo exame de compatibilidade e a volta da irmã para casa após o transplante.
“Desde a data da coleta da medula até o resultado passamos duas semanas de muita apreensão e ansiedade. Quando saiu o resultado deu uma sensação de esperança e alivio pra gente”, recordou o primeiro momento.
Kevin fala emocionado da lição de vida que foi a doença da irmã. “Todo mal, não interessando o quão ruim ele seja, podemos tirar algo bom. No caso dela, que estava com uma doença já avançada, de que cada dia é um dia importante na nossa vida. Nós temos que viver cada dia como se fosse o último, aproveitar cada momento simples da vida. Nossa família, não só eu, mas falo todos, estamos muito felizes de ter ela por perto por mais muito tempo”.
O que é mielodisplasia?
A medula óssea produz os três tipos de células sanguíneas: os glóbulos brancos, os glóbulos vermelhos e as plaquetas. Inicialmente produz células imaturas (os blastos) que posteriormente evoluem para as células normais. Chama-se mielodisplasia ao transtorno desse ritmo, com uma produção deficiente de células normais e uma maior persistência de células imaturas que não chegam à maturidade e são destruídas precocemente. A mielodisplasia não é uma doença, mas uma síndrome caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas específicos. Pode ser originária da própria medula óssea ou ser secundária a uma doença autoimune ou ao câncer. Habitualmente, trata-se de uma condição progressiva, mais comum em homens que em mulheres e em idosos mais que em jovens, embora possa surgir também em crianças. Mielodisplasia refere-se, pois, a um grupo de doenças hematopoiéticas (de formação do sangue) clonais (mesmo patrimônio genético) da medula óssea, em que com frequência observa-se hematopoiese (formação do sangue) deficiente. As três linhas celulares da medula óssea (série branca, série vermelha e série plaquetária) estão diminuídas, com tendências a infecções e sangramentos. Há um alto risco dessa condição se transformar em leucemia mieloide aguda.
Quais os sintomas?
Os principais sintomas de um quadro mais intenso são: cansaço e dores no peito (devido à baixa de hemácias); maior suscetibilidade às infecções (devido à baixa de glóbulos brancos) e tendência a sangramentos (devido à baixa de plaquetas). A maioria das mortes ocasionadas por essa condição ocorre por sangramentos e infecções. Se a anemia for moderada ou grave, o paciente pode apresentar quadro de fadiga exagerada, falta de fôlego durante esforço (como subir escadas), palidez ou fraqueza.