A tomada das RUAS, nesta sexta-feira 28.04.2017, pelos sindicatos e diversos movimentos e segmentos SOCIAIS, reprovada a participação de uns poucos vândalos, nos leva a dizer sem sofismas, que é um dos poucos caminhos, quem sabe o único, para que a estabilidade e o progresso autênticos no Brasil voltem a reinar.
É nas ruas, com LIBERDADE e sem os excessos da anarquia, pois a liberdade termina onde começam os abusos, que se restabelecem as normas éticas no trato dos negócios públicos nacionais e internacionais. É nas ruas, que a restauração das liberdades fundamentais cívicas e privadas, do homem e do cidadão, bem como a restituição da legalidade aos poderes políticos, tem novo começo. São nos movimentos democráticos, em praça pública, que lutamos pelo banimento, tanto quanto possível, da corrupção devoradora nos negócios públicos. É onde os ajustes, entre o Estado e o cidadão, acontecem de verdade. Diria um renomado jurista e cientista político do passado.
O Brasil das RUAS representa outros milhares de pessoas desiludidas, que diariamente recorrem aos balcões de reclamação dos programas apelativos de TV “aberta.” São homens e mulheres, jovens e adultos, que, ano após ano, lutam heroicamente com suas famílias, na busca do pão nosso de cada dia, sem serem devidamente remunerados pelo labor diário. É a nação brasileira debaixo da influência da miséria, da pobreza e da marginalização que atinge setores imensos da população, que tem todo o direito de ficar com raiva dos que estão no poder. Essa reação expõe igualmente a vergonha pelo quadro de desprezo que o legislativo brasileiro (poder parlamentar representativo do povo) tem pela gente em geral, pois que foram criados constitucionalmente para legislar, fazer leis, em favor do povo, mas que vivem a legislar em causa própria.
Este dia de paralizações, com representações em diversas categorias, além de uma resposta ao sistema dominante, é também um aviso de que estamos cansados de utopias governamentais. Mostra que a sociedade, do tempo presente, não quer mais conviver com a morte brutal de seus semelhantes; fazer ouvido de mercador aos reclamos da gente sofrida; fechar os olhos aos escândalos de extravio do erário público; admitir a banalização dos latrocínios diários, como se essa realidade fizesse parte do contexto moderno.
Não serão também umas e outras bazófias, prognósticos de mentes brilhantes, de gente entendida, de opinião consagrada junto aos segmentos sociais, com cheiro de falácias, ditas para enganar, que nos façam esquecer tão rapidamente e aceitar as mazelas advindas desse estado de coisas; porquanto estão aí permeando a atmosfera e a mente de cada cidadão desta nação riquíssima, mas que começa a sentir na própria pele as agruras advindas das más administrações públicas. Mesmo porque, essa situação desordenada, se soma a outros males sociais, caso expecífico da violência urbana, em que nem vendedor de picolé, essa figura simpática da cultura de todas as cidades, possui mais imunidade contra assalto. Tudo isso, e outras questões urgentes, conspiram com as esperanças, até aqui hipotéticas, duma política pública rigorosa que atenda os anseios da sociedade. Assim sendo, a nação precisa urgentemente, da parte dos que dirigem este país, muito mais do que quimeras ou promessa descabidas, de atitudes sérias na condução da coisa pública.
As paralisações são, no mínimo, uma reação dos desiludidos. É o levante de um sentimento geral e temeroso dum futuro incerto, por conta do desmoronamento dos ideais republicanos, notadamente a crise de autoridade moral que coloca em questão a própria condição republicana do país, já que a realidade atual, sem ser dissimulada, olhada de frente, seja ela política, social ou econômica é desalentadora e indesculpável em relação às normas jurídicas e morais.
Francisco Assis dos Santos, Pesquisador bibliográfico em humanidades. E-mail: [email protected]