Nas últimas semanas há uma difusão de notícias sobre casos de adolescentes que cometeram ou tentaram suicídio ao entrar em um jogo da internet denominado Baleia Azul.
Trata-se de um jogo que supostamente surgiu na Rússia e está sendo difundido para diversos países. O jogo exige o cumprimento de diversas tarefas, sendo a última delas, o suicídio. Os casos de suicídio espalhados no mundo assustam, e aqui no Brasil já há suspeitas de alguns. Não é necessário detalhar o jogo, que já foi explicitado em outras matérias. No entanto, gostaria de chamar a atenção para alguns aspectos:
- O suicídio cresce no mundo todo, principalmente entre os jovens na faixa etária de 15 a 29 anos. Segundo a OMS, a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio.
- As taxas de suicídio são maiores nos países de baixa renda. O Japão é uma exceção, que pode ser explicada pelas altas expectativas profissionais, mas também pelo isolamento tecnológico dos jovens.
- As famílias têm muita dificuldade em interpretar os comportamentos dos jovens, costumam achar tudo normal. Por outro lado, os jovens têm dificuldade de pedir ajuda quando estão depressivos ou envolvidos em situações virtuais perigosas.
- A geração zappiens não tem aprendido a lidar com frustrações. São hiperestimuladas nos games e vídeos violentos e podem ter dificuldades para adentrarem em uma vida adulta complexa e exigente. A automutilação e a morte seriam uma espécie de saída gloriosa em face dessas dificuldades.
- O ideal de vida luxuoso e exótico das celebridades pode estimular excentricidades e ao mesmo tempo intensificar o sentimento de incompetência e solidão no jovem. No jogo eles tentam provar que são fortes.
- A educação excessivamente “libertadora” pode deixar os jovens sem referenciais. Como os adultos têm medo de exercer qualquer tipo de autoridade, muitos jogos conquistam os jovens por meio de um chefe déspota que impõe missões cruéis. O chefe do jogo da Baleia está no comando da vida do adolescente e não se pode negar o prazer que o jovem sente na submissão.
- O sentimento de sermos um “estranho no ninho” é muito comum na adolescência e isso faz com que os jovens busquem um grupo em que se sintam aceitos. Para isso chegam a aceitar regras perigosas. O fato de se tornarem celebridades também é atraente.
- Na sociedade do espetáculo, o prazer de ser diferente e de chocar também mobiliza muitos jovens a aderirem aos grupos exóticos. Nesses casos estão envolvidas as pulsões voyeurístico-exibicionistas e sádico-masoquistas, que também são muito estimuladas nas mídias.
- As automutilações e modificações corporais masoquistas também ganharam espaço na juventude, que precisa vivenciar dores e sofrimentos como forma de lidar com um Eu existencial frágil e doloroso, enfim, externalizar no corpo a angústia de existir.
- A maior parte dos pais e educadores ignoram os perigos da internet. O jogo da baleia é apenas um deles. Grave sim! Mas, há muitos outros insidiosos e invisíveis, capazes de alterar o funcionamento cognitivo e emocional dos jovens.
- A depressão costuma ser tratada como frescura e a tentativa de suicídio como “maneira de chamar a atenção”. É importante reconhecer o sofrimento juvenil, buscar uma psicoterapia e além disso oferecer apoios nos ambientes educacionais.
- As famílias e educadores precisam fortalecer os laços dos jovens com as situações concretas da vida, promover situações que favoreçam a autoconfiança e a sociabilidade; refletir sobre os modismos virtuais, e oferecer espaço para conversarem sobre medos, solidão e tristezas.
Enfim, é preciso que os adultos façam o papel de adultos e estejam ao lado dos adolescentes na travessia das angústias da vida.
Cláudia Prioste é psicóloga, psicanalista e professora doutora do Departamento de Psicologia da Educação da Unesp – Câmpus Araraquara.